LIÇÃO 2 -
ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
LIÇÕES BÍBLICAS - 3º
Trimestre de 2013 - CPAD - Para jovens e adultos
Tema: Filipenses
- A Humildade de CRISTO como exemplos para a Igreja.
Comentário: Pr. Elienai Cabral
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida
Silva
TEXTO ÁUREO
"Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho" (Fp 1.21).
VERDADE PRÁTICA
Nenhuma adversidade poderá reter a graça e o poder do Evangelho
LEITURA DIÁRIA
Segunda - At 16.23-25O louvor supera os açoites
Terça - 1 Pe 1.3-9Guardados pela fé
Quarta - Gl 5.16-21Guiados pelo ESPÍRITO no conflito
Quinta - Gl 5.22-26O fruto do ESPÍRITO garante vitória
Sexta - Fp 1.12-14A alegria na defesa do Evangelho
Sábado - Fp 1.15-21A motivação correta do anúncio
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Filipenses 1.12-21
12 E quero,
irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior
proveito do evangelho. 13 De maneira que as minhas prisões em CRISTO foram
manifestas por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares; 14 e
muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a
palavra mais confiadamente, sem temor. 15 Verdade é que também alguns pregam a
CRISTO por inveja e porfia, mas outros de boa mente; 16 uns por amor, sabendo
que fui posto para defesa do evangelho; 17 mas outros, na verdade, anunciam a
CRISTO por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas
prisões. 18 Mas que importa? Contanto que CRISTO seja anunciado de toda a
maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei
ainda. 19 Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo
socorro do ESPÍRITO de JESUS CRISTO, 20 segundo a minha intensa expectação e
esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, CRISTO
será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja
pela morte. 21 Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho.
1.16 PARA DEFESA DO EVANGELHO. DEUS deu a Paulo a tarefa importante de defender
o conteúdo do evangelho, conforme o temos nas Escrituras. Semelhantemente,
todos os crentes são conclamados a defender a verdade bíblica e a resistir
àqueles que distorcem a fé (v. 27; ver Gl 1.9; Jd 3). As palavras de Paulo parecem
estranhas aos pastores dos nossos dias, que não vêem a necessidade de
"batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3)
1.19 ESPÍRITO DE JESUS CRISTO. O ESPÍRITO SANTO que habita no crente é chamado
o "ESPÍRITO de JESUS CRISTO" (Cf. At 16.7; Rm 8.9; Gl 4.6), porque é
CRISTO quem outorga o ESPÍRITO ao crente, na sua conversão e é Ele quem
subseqüentemente batiza o crente com o ESPÍRITO SANTO (ver At 1.8). Esse
ESPÍRITO é o mesmo que ungiu a JESUS, a fim de trazer redenção ao mundo (ver Lc
4.18).
1.21 MORRER É GANHO. O verdadeiro crente, vivendo no centro da vontade de DEUS,
não precisa ter medo da morte. Ele sabe que DEUS tem um propósito para o seu
viver, e que a morte, quando ela vier, é simplesmente o fim da sua missão
terrestre e o início de uma vida mais gloriosa com CRISTO (vv. 20-25; ver Rm
8.28).
Atos 28.30 - PAULO FICOU DOIS ANOS INTEIROS. A história
da igreja primitiva, escrita por Lucas, termina aqui. Paulo permaneceu em
prisão domiciliar por dois anos. Tinha licença de receber visitas, às quais
pregava o evangelho. O que aconteceu a Paulo depois, segundo geralmente se crê,
é o que se segue. Durante esses dois anos, Paulo escreveu as Epístolas aos
Efésios, Filipenses, Colossenses, e a Filemon. Em 63 d.C., aproximadamente,
Paulo foi absolvido e solto. Durante uns poucos anos continuou seus trabalhos
missionários, e talvez tenha ido até à Espanha, conforme planejara (Rm 15.28).
Durante esse período, escreveu 1 Timóteo e Tito. Foi preso de novo cerca de 67
d.C., e levado de volta a Roma. 2 Timóteo foi escrita durante esse segundo
encarceramento em Roma. A prisão de Paulo só terminou ao ser ele decapitado,
sofrendo o martírio sob o imperador romano Nero.
Comentários
do livro - Atos - Introdução e Comentário - I. Howard Marshall - Série Cultura
Bíblica - edições 1985,1988, 1991, 1999 e 2001 - Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova - SP
Poderiam se
utilizar de cordas que atravessam o navio dentro do porão, para fortalecê-Io;
ou de cordas amarradas longitudinalmente da proa até à popa, e esticadas para
evitar que o navio quebrasse às suas costas (H. J. Cadbury, BC, V. págs.
345-354). Conforme os conhecimentos que atualmente temos das condições de
então, não é possível fazer uma decisão firme entre estas possibilidades. Tudo
quanto sabemos por certo é que "cintas" faziam parte do equipamento
dos navios de guerra gregos, que eram cordas ou cabos, usualmente em número de
quatro ou seis, e (pelo menos num caso) cada uma com comprimento suficiente
para se estender ao derredor do navio inteiro, longitudinalmente.
Os
marinheiros tinham medo de que, mesmo assim, o navio fosse levado à Sirte.
Trata-se de uma área de areias movediças e bancos de areia perto do litoral da
Letônia, que era lendária por causa do perigo que constituía para a navegação,
como o "triângulo das Bermudas" hoje. Ainda ficava numa distância de
611 km, aproximadamente, mas os marinheiros não queriam correr riscos. A
terceira ação deles foi arriar os aparelhos. Aqui, também, não é certo o
sentido. Talvez signifique abaixar ou amarrar a vela principal, ou talvez fixar
a sua posição, ou arriar a corda que apoiara a vela de capa, ou lançar ao mar
os aparelhos sobressalentes a bordo (mas "arriar" dificilmente pode
significar "lançar ao mar"), ou, mais provavelmente, talvez, abaixar
algum tipo de âncora flutuante que frearia a velocidade do navio, levando-o ao
léu para o norte, para assim evitar a área do perigo.
18-19. Estas
medidas, no entanto, foram inadequadas. O navio estava enfrentando mares
bravios, e provavelmente estava subindo água a bordo, de modo que começaram a
aliviar o peso, lançando ao mar a carga (cf. Jn 1 :5). No terceiro dia o
processo de aliviar o navio foi continuado, lançando ao mar a armação; deve
referir-se à armação de reserva, e talvez a pesada vela mestra com seus aparelhos.
MSS menos antigos dizem nós mesmos, com as próprias mãos, lançamos. . . que faz
mais sentido do que textos mais antigos que aplicam "as próprias
mãos" aos marinheiros que não teriam outro meio senão este de trabalhar.
Ou será que a expressão quer lembrar que não tinham equipamentos para içar
pesos, conforme teriam nos portos?
20. O ponto
culminante na descrição da tempestade é que os marinheiros não tinham idéia
alguma da sua posição, com relação à terra, ou rochas ou bancos de areia. O mau
tempo impedia qualquer observação do solou das estrelas mediante os quais
talvez pudessem ter feito algum cálculo do seu posicionamento. Humanamente
falando, não parecia ter possibilidade alguma de sobrevivência, e o desânimo se
apoderou das pessoas no navio.
21-22. A esta
altura, Paulo intervém na história pela segunda vez. A sua intervenção é
introduzida pelo comentário sobre o fato que ninguém estava comendo, embora
este aspecto não é retomado a não ser no v. 33. No presente contexto, ilustra
ainda mais a aflição desesperada das pessoas no navio. É possível que houvesse
pouca comida disponível depois da tempestade, e que as pessoas se sentissem
demasiadamente enjoadas ou desanimadas para comer. Todo este sofrimento e risco
poderia ser evitado se o navio tivesse permanecido em Bons Portos, e Paulo
comentou que sua advertência não fora devidamente atendida; sua profecia de
danos e perdas se cumprira, embora, por enquanto, só afetasse (e no fim somente
afetaria) o navio, e não as pessoas a bordo que incluíra na sua profecia. É
esta qualificação da sua profecia anterior que Paulo agora ressalta num esforço
para animar as pessoas. Crê que ninguém perderá a vida, mas haverá perda do
navio.
23-24. Paulo
menciona o fundamento desta sua certeza, ao narrar uma visão que tivera na
noite anterior, durante a qual lhe aparecera um anjo de DEUS. A mensagem
angelical foi uma confirmação da revelação anterior em 23:11 de que Paulo
chegaria a Roma; era o plano de DEUS que Paulo ali testificasse (23:11) na
presença de César. Seguia-se, portanto, que ele pessoalmente podia ter
confiança de que sobreviveria a tempestade em alto mar, mas também foi
informado que DEUS lhe concedera como favor que todos que navegavam com ele
também seriam poupados. A linguagem dá a entender que Paulo tinha orado em prol
dos seus companheiros de viagem, e que DEUS atendera a sua oração. Há um
paralelo com a história de Abraão, que intercedeu com DEUS em prol do povo de
Sodoma, e pleiteou que a totalidade da cidade fosse poupada por amor ao
número mínimo
de justos "que ali habitava (Gn 18:23-33).
25-26.
Destarte, Paulo podia encorajar os seus ouvintes a ter bom ânimo e, em efeito,
compartilhar da confiança que ele tinha naquilo que DEUS lhe prometera, e que
seria cumprido. A profecia de Paulo ia além de uma esperança geral quanto à
segurança, para uma declaração de que todos seriam lançados à terra numa ilha;
se o navio haveria de perder-se (v. 22), então somente um evento semelhante
poderia salvar a vida das pessoas a bordo.
Este discurso
de Paulo é submetido â suspeita dos críticos. Mesmo assim, encaixa-se muito bem
com as experiências de Paulo de visões da parte de DEUS (2 Co 12:1, 9); é
inteiramente natural que Paulo tivesse compartilhado a sua certeza com seus
companheiros de viagem, e a história é transmitida por uma testemunha ocular;
não precisamos duvidar de que Paulo disse alguma coisa assim. Haenchen (pág.
709) é cético quanto a Paulo conseguir pronunciar um discurso em condições de
uma tempestade a bordo de um navio, mas o seu conceito de Paulo agindo como
orador público é inapropriado para as circunstâncias.
27. Agora vem
o cumprimento da profecia de Paulo. Passara-se uma quinzena (presume-se que o
tempo foi contado assim a partir da saída de Bons Portos). Os cálculos revelam
que este período coincide com o tempo que o navio levaria para percorrer a
distância em termos reais (cerca de 475 milhas náuticas ou 885 km), se estava
indo â deriva conforme o modo aqui descrito. Além disto, deve-se levar em conta
alguma mudança na direção do vento, que é natural. Hoje em dia, o Mar Adriático
significa o golfo entre a Itália e a península das Bálcãs, mas o termo se
empregava antigamente para incluir a área entre a Cic11ia e a Creta também. A
ilha de Malta se acha na extremidade ocidental desta área, imediatamente ao sul
da Sicília. Os marinheiros reconheciam que a terra se aproximava, possivelmente
pelo estrondo dos vagalhões.2 5 6
28.
Começaram, portanto, a fazer sondagens para determinar a profundidade de água
que havia embaixo do navio. Embora as cifras dadas concordem com aquelas que
foram estabelecidas no local provável do naufrágio, Conzelman (pág. 144)
prefere, mesmo assim, acreditar que são uma invenção literária, por ser
improvável que Lucas estivesse perto do homem que lançava o prumo; trata-se de
ceticismo desvairado.
29. A pouca
profundidade da água, sem dúvida em conjunto com o estrondo dos vagalhões,
exigia medidas de segurança, e, assim, os marinheiros lançaram quatro âncoras.
Estas não tinham muito peso em comparação com os padrões modernos - daí o número
delas - e foram lança das da popa a fim de evitar que a proa do navio se
virasse, e para preparar o navio para correr de frente para a praia depois de
haver luz e um lugar e oportunidade apropriados. Agora, nada mais poderia ser
feito senão ansiar e orar pela chegada da luz do dia.
30. O
incidente que agora se segue é explicado de várias maneiras. Segundo Lucas, os
marinheiros (ou talvez apenas alguns deles) procuravam lançar â água o bote do
navio (v. 16), a fim de escaparem do navio; fingiam que, na realidade, iam
lançar âncoras da proa - ação esta que nestas circunstâncias somente poderia
ser levada a efeito ao remar levando as âncoras por uma pequena distância da
proa para lançá-Ias dali. Muitos comentaristas argumentam, no entanto, que uma
tentativa para escapar seria puro suicídio nas condições tempestuosas em plena
escuridão perto de um litoral desconhecido, e que o único modo de ação seguro
seria permanecer a bordo até à luz da manhã. Os leitores de Robinson Crusoé
devem lembrar-se de uma situação muito semelhante em que o navio encalhou de
madrugada, e a tripulação saiu com o bote, e todos pereceram menos o próprio
Crusoé, que mais tarde pôde voltar ao navio e comentou: "Vi de modo
evidente que, se tivéssemos permanecido a bordo, estaríamos todos salvos - ou
seja, teríamos chegado com segurança à praia". A história escrita por
Defoe indica que os homens podem fazer coisas estultas, embora permaneça a
possibilidade que os passageiros entendessem erroneamente a intenção dos
marinheiros.
31. Seja qual
tenha sido a intenção dos marinheiros, Paulo indicou ao centurião o perigo que
haveria de os passageiros ficarem completamente desamparados sem os
marinheiros. Haenchen (págs. 706, 710) comenta que, neste caso, Paulo seria
responsável pela perda do navio, pois, sem o bote, não restava outra
possibilidade senão tentar (em vão) encalhar o navio na praia; ao mesmo tempo,
no entanto, aceita a idéia de o versículo ser uma interpolação fictícia da
parte de Lucas para transformar Paulo em salvador dos passageiros. Do outro
lado, porém, pode-se comentar que foi o infortúnio que levou o navio a encalhar
num banco de areia ao invés de chegar à praia, e que é possível que os soldados
tenham agido precipitadamente ao cortar os cabos do bote (v. 32), ao invés de
meramente montar guarda sobre ele. Lucas certamente atribui a Paulo a
iniciativa
para a ação, a qual considera útil; é certo que não seria surpreendente se os
soldados e os passageiros tenham agido em pânico, entendendo erroneamente as
intenções dos marinheiros, mormente porque o tema de a tripulação abandonar os
passageiros para perecer é atestado nos romances antigos.
33. Agora surge
mais um episódio que ressalta a atuação de Paulo. Quando o dia começou a raiar,
enquanto o navio ficava estável com as âncoras, Paulo começou a animar as
pessoas a bordo a comerem. É retratado ao falar a todas as pessoas no navio de
modo geral, lembrando-as que não comeram nada desde o começo da tempestade
desastrosa quatorze dias antes (cf. v. 21). Embora não haja qualquer indicação
de que tenham observado jejum para induzir quaisquer deuses que adorassem a
terem misericórdia deles é possível que este tema esteja presente, e que Paulo,
com efeito oficial era o princeps perigrinorum, o comandante do quartel onde se
baseavam os frumentarii (27:1) em Roma. Parece possível, no entanto, que esta
unidade não tenha existido antes dos tempos de Trajano no século 11 d.C. Uma
segunda possibilidade é que a referência dizia respeito ao praefectus praetorii,
o prefeito ou comandante dos guardas pretorianos, a quem eram entregues os
prisioneiros das províncias, segundo a carta escrita por Trajano a Plínio. Esta
teoria é desenvolvida por Sherwin-White (págs. 108-111), que sugere que o
respectivo oficial seria o princeps castrorum, um subordinado do prefeito. É,
portanto, possível que o texto ocidental reflita o
procedimento que teria sido adotado. Quanto à questão dos processos
jurídicos, ver v.30
Paulo e os
judeus em Roma (28:17-31).
o relato de
Lucas acerca das atividades de Paulo em Roma silencia no que diz respeito a
dois aspectos que acharíamos mais interessantes: o resultado do seu apelo a
César, e seu relacionamento com a igreja cristã que já existia em Roma. Todo o
interesse se centraliza nos contatos entre Paulo e os judeus não-cristãos.
Convoca os representantes deles a se encontrarem com ele, e explica em termos
resumidos como fora trazido a Roma como resultado de acusações que os judeus
fizeram contra ele na Judéia; surge, assim, a oportunidade para ele explicar a
natureza da mensagem cristã a estas visitas; suas palavras, no entanto, são
recebidas de diversas maneiras. Quando estes judeus de Roma não conseguem
chegar a um acordo entre si a respeito, Paulo se pronunciou claramente,
condenando a cegueira e a obstinação deles em recusarem o evangelho, e, diante
disto, declarou-se livre para levar aos gentios a mensagem da salvação. No
decurso dos dois anos .remanescentes, portanto, mencionados por Lucas, Paulo
pregava e ministrava aos gentios. Destarte, o quadro final que é mostrado ao
leitor retrata o apelo final que Paulo fez aos judeus, e a sua aceitação de uma
chamada aos gentios. A impressão que se transmite é que Paulo sentia, no
decurso do seu ministério inteiro, o dever de ir primeiramente aos judeus, e
que era somente quando estes recusavam a mensagem que ele ia aos gentios. Tudo
isto harmoniza-se perfeitamente com a expressão, cheia de emoção, dos
sentimentos de Paulo acerca da sua chamada em Romanos caps. 9-11. Além disto,
leva ao clímax o livro inteiro, sendo que o programa missionário registrado em
Atos 1:8 agora é levado a um ponto decisivo: o evangelho chegou à capital do
Império Romano, e é proclamado aos gentios, sem impedimento; a igreja está à
beira de expansão adicional, com a esperança de Paulo chegar à Espanha (Rm
15:24, 28) sempre presente nos planos, indicando a direção para maiores
avanços. A igreja, portanto, recebe suas ordens de marcha: Roma é uma etapa no
itinerário, e não o alvo final. Em princípio, está livre para deixar de
preocupar-se com os judeus, pelo menos por enquanto (Lc 21 :24), e passar a
dedicar-se aos gentios.
Lucas
apresenta este quadro em termos da missão de Paulo. Os judeus em Roma recebem a
oportunidade de corresponderem ao modo de Paulo entender o evangelho, muito
embora já tivessem, decerto, alguma familiaridade com a mensagem dos cristãos
que estavam em Roma já desde uma data bem antiga (At 2:10). Isto quer dizer que
Lucas nada diz acerca da presença e atividade da igreja em Roma a não ser nos
vv. 15-16 e, destarte, os leitores de Atos podem receber uma impressão inexata.
É o mesmo tipo de relato concentrado que achamos no capítulo final do
Evangelho, onde todas as aparições do JESUS ressurreto se apresentam como se
fossem confirmadas a Jerusalém e seus arrabaldes, e como se tivessem ocorrido
no Domingo da Páscoa, muito embora tivessem havido aparições noutros lugares, e
o próprio Lucas mais tarde torne claro que continuaram no decurso de um período
de quarenta dias.
17. A
primeira ação de Paulo, uma vez estabelecido na sua nova moradia, é conclamar
os principais dos judeus em Roma. Nossas informações acerca da comunidade
judaica em Roma são insuficientes para sabermos precisamente quais são os
oficiais aqui em mira. Paulo os convida a vir até ele, pois, segundo parece,
não está livre para ir visitar a eles; sua situação é de .prisão domiciliar.
Dá-lhes as razões que o levaram a Roma. Declara que nada fizera contra o povo
judaico, nem atacara seus costumes (cf. 25:8). Mesmo assim, os judeus o
entregaram aos romanos. A linguagem se assemelha àquela que Lucas aplica a
JESUS no Evangelho (Lc 18:32), e é possível que Lucas queira que seus leitores
vejam um paralelo entre o destino de JESUS e o de Paulo. Tem sido alegado,
outrossim, que Lucas contradiz sua história anterior, na qual os romanos
arrebataram Paulo das mãos dos judeus. Lucas, porém, se ocupa com os essenciais
da história, e não com os pormenores, e o relato aqui é uma representação
correta de como os judeus passaram a processar Paulo diante de Félix e Festo,
tendo em mira uma sentença romana para Paulo, por delitos que realmente seriam
judaicos, por mais que os judeus tentassem alegar que Paulo era, na realidade,
um perigo para Roma.
18. O
inquérito que os romanos instauraram contra Paulo não substanciou as acusações
dos judeus contra ele. Nada fizera que merecesse a morte,. e, portanto, deveria
ter sido inocentado e solto. Paulo disse que os romanos quiseram soltá-lo.
Parece um pouco estranho. Na realidade, os governadores nenhuma tentativa
fizeram para colocar Paulo em liberdade, e foi porque Festa queria julgá-Ia em
Jerusalém que Paulo sentiu-se obrigado a apelar a César. Foi Agripa que afirmou
que Paulo poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado a César, e
supõe-se que Festa concordou com ele naquela altura dos acontecimentos. A
declaração de Paulo, portanto, é uma simplificação da narrativa anterior, e
reflete o que se nos diz acerca dos desejos dos governadores, não fosse a
pressão dos judeus.
19. A razão
porque Paulo se sentiu compelido a apelar para César foi, segundo ele, a
oposição dos judeus ao desejo dos romanos de libertar a Paulo. Parece que se
trata de uma alusão às acusações dos judeus, registradas em 25:2, 7, que
levaram Festa a perguntar se Paulo estaria disposto a ser julgado em Jerusalém.
Se for assim, devemos provavelmente entender que 25 :4-5 significa que se os
judeus não tinham libelo formal contra Paulo, Festa o teria posto em liberdade;
tal conceito é razoável, pois Festa deve ter considerado que os dois anos de
detenção que Paulo já sofrera bastariam como castigo adequado se tivesse havido
qualquer delito contra as leis especificamente judaicas. Assim, haveria
harmonia entre os relatos registrados em Atos. Paulo deixa claro que não está
atacando a nação judaica por causa do modo dos líderes agirem; este é um
discurso de conciliação, e Paulo está concedendo que os judeus agiram dentro
dos seus direitos se pensaram que ele havia feito alguma coisa errada.
20. Fora,
portanto, para informar os judeus de Roma de modo exato acerca da situação que
Paulo os convidara em conjunto. Isto porque a questão em pauta no seu
julgamento, conforme insistira no decurso dos processos, era a natureza
verdadeira da esperança de Israel, na vinda do Messias e na ressurreição.
Estava, portanto, preso por ser um judeu leal; segundo o modo de Paulo encarar
a situação, estava em cadeias romanas por esta razão. Este fato era, decerto,
algo que exigia a atenção dos judeus, pois a religião deles era legalmente
permitida pelos romanos.
21. Os judeus
de Roma professavam completa ignorância acerca de Paulo e do caso dele. Não
receberam quaisquer instruções de Jerusalém que pudesse dirigi-Ias numa
representação da causa jurídica dos judeus contra Paulo, diante do fórum; além
disto, nenhum mensageiro judaico, vindo de Jerusalém, trouxe qualquer relatório
contrário a Paulo. Nisto nada há de estranhável. Bruce (Livro, pág. 535) tem
razão, sem dúvida alguma, ao argumentar que é improvável que os líderes
judaicos tivessem dado andamento ao processo depois de ele ter sido transferido
a Roma, porque teriam pouca ou nenhuma possibilidade de sucesso. Nenhuma
comunicação oficial acerca de Paulo deve ter chegado aos judeus em Roma,
portanto. É muito possível que os judeus em Roma preferissem manter ignorância
do caso; decerto, não se esqueceram que disputas anteriores acerca do Messias
levaram à sua expulsão temporária da cidade (18:2).
22. Mesmo
assim, estavam interessados em saber o que Paulo diria em prol da sua própria
causa. Sabiam alguma coisa acerca da seita (24:24) cristã, pois havia uma
igreja ativa em Roma, e sabiam que ela era freqüentemente criticada. Supõe-se,
também, que já ouviram falar de Paulo e da sua reputação como missionário de
destaque, e tinham curiosidade suficiente para prestarem atenção àquilo que
diria acerca de si e acerca das razões por que estava em má situação diante das
autoridades em Jerusalém.
23. Foi
marcado um dia apropriado para a reunião, e um grupo grande veio visitar Paulo.
A frase na sua própria residência talvez signifique, realmente, "para
receber a sua hospitalidade"; os judeus eram os seus hóspedes, visto ser
ele incapaz de seguir seu antigo padrão de freqüentar a sinagoga; contudo, a
frase não significa que lhes ofereceu uma refeição ou algo semelhante. As
perguntas acerca da possibilidade de Paulo ter uma sala suficientemente grande
para todos eles não vêm ao caso.
O tema de
Paulo não era a sua própria situação mas, sim, o evangelho. Fez uma exposição
dele ao proclamar o reino de DEUS e ao persuadi-los a respeito de JESUS,
baseando os seus argumentos nas declarações de Moisés e os profetas. O assunto,
portanto, combinava os temas da pregação de JESUS e da mensagem apostólica
acerca dEle, que formavam uma unidade: o domínio de DEUS era o domínio do
agente de DEUS, o Messias, e eram os judeus que cumpriam este papel. Numa
discussão com judeus, as Escrituras do Antigo Testamento forneciam a evidência
principal, e o debate dependia da interpretação delas, e de se os fatos a
respeito de JESUS poderiam ser encarados como sendo o cumprimento das
profecias. Esta descrição da mensagem de Paulo corresponde a resumos gerais
anteriores dos seus argumentos nas sinagogas (17:2-3; 18:5), e obviamente
reflete a sua praxe normal.
24-25. O
resultado foi o tipo de resposta mista que Paulo recebera em ocasiões
anteriores. Alguns ficaram persuadidos pelo que ele dizia, mas nada se diz para
sugerir que foram convertidos a uma aceitação pessoal da mensagem. Outros
ficaram francamente sem convicção alguma. Assim desfez-se a reunião, com os
judeus argumentando entre si. Foram embora, e não há, tampouco, sugestão alguma
de que quaisquer deles ficaram suficientemente interessados para voltarem numa
ocasião posterior. Antes da partida deles, no entanto, Paulo pronunciou uma
palavra final. Declarou que o ESPÍRITO SANTO falara a verdade acerca deles nas
palavras que !saias originalmente dirigira aos antepassados deles; era um caso
de "tal pai, tal filho". A citação era uma daquelas que mais
familiarmente se empregava na igreja primitiva. Fora empregada por JESUS (Lc
8:10; cf. Mt 13:1315; Mc 4:12); e é citada por João (Jo 12:39-40), e o próprio
Paulo a empregara na sua Epístola aos Romanos (Rm 11 :8). Aqui, como em Mateus
13: 14-15, temos o texto inteiro da citação de Isaías 6:9-10, segundo a LXX. ~
possível que Lucas tenha deliberadamente abreviado o dito de JESUS que
incorporou em Lucas 8:10, a fim de preservar o pleno efeito para o presente
contexto.
26-27. Diz-se
ao povo de DEUS que, por muito que venha a ouvir e ver, nunca entenderá nem
perceberá o que DEUS lhe diz. Este é um julgamento divino sobre ele porque ele
mesmo tornou seu coração impérvio à Palavra de DEUS; deixou com que se tornasse
surdo e cego por causa de ter medo de ouvir e ver a perturbadora Palavra de
DEUS e, assim, de receber livramento da parte de DEUS. A Palavra de DEUS traz
consigo o diagnóstico do pecado, que é doloroso de se escutar e aceitar, mas,
ao mesmo tempo, fere a fim de curar. Uma vez que a pessoa deliberadamente
recusa a Palavra, chega a um ponto em que é despojada da capacidade para
recebê-Ia. Esta é uma advertência severa às pessoas que não levam a sério o
evangelho.
28. Tendo em
vista estes fatos, os judeus devem tomar nota solene do fato de que a mensagem
da salvação agora está sendo enviada aos gentios, e que estes corresponderão
mais favoravelmente à oferta. Duvida-se que esta é uma rejeição definitiva dos
judeus. As cartas de Paulo certamente indicam que esperava no tempo certo uma
mudança de coração da parte deles (Rm 11 :25-32). É bem possível que Lucas,
também, entendesse assim a situação.262 Seja como for, a missão cristã dedica
aos gentios toda a sua atenção, por enquanto. Paulo já não se sente obrigado a
ir "primeiramente aos judeus", e é bem possível que Lucas aqui o
apresente como um exemplo a ser seguido pela igreja em geral.
30. Durante
dois anos, Paulo continuou a morar na sua própria habitação. A frase "às
suas próprias expensas" (ARA e ARC: "que alugara") dá a entender
que tinha alguma fonte de renda; os prisioneiros podiam, em certas
circunstâncias, exercer as suas próprias profissões. A tradução alternativa, na
sua própria casa, que alugara, talvez .expresse com exatidão a situação
resultante. O importante é que Paulo não estava numa prisão comum, mas, sim,
continuava no modo de vida descrito em v. 16. Embora não tivesse liberdade de
movimentos, nem por isso deixava de atuar como missionário cristão, pois as
pessoas podiam vir visitá-lo; Paulo podia escrever acerca do "evangelho
pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de
DEUS não está algemada" (2 Tm 2:9).
O que
aconteceu no fim dos dois anos? A implicação é que alguma coisa alterou-se a
esta altura (Haenchen, pág. 724). As várias possibilidades são:
(1) Foi a
esta altura que Lucas escreveu o Livro de Atos, e não sabia o que haveria de
acontecer depois. É possível que esperasse escrever um terceiro volume,
retomando a história a esta altura. A dificuldade com este ponto de vista é que
exige uma data muito recuada (mas não impossível) para Atos. O Livro dá a
muitos leitores a impressão de ter sido escrito a partir de uma perspectiva
posterior.
(2) Os judeus
deixaram de comparecer para promover a sua ação jurídica contra Paulo (v. 21).
O que não sabemos é se Paulo seria automaticamente solto nesta situação.
Sherwin-White (págs. 112-119) refutou de modo eficaz o conceito de que os
requerentes deviam comparecer dentro de um prazo específico, senão, o processo
caducaria e seria arquivado. Mas não parece que refutou a possibilidade que, se
os acusadores nunca comparecessem, finalmente haveria o perdão por decurso de
prazo. Uma objeção mais séria é que 23:11 e 27:24 claramente dão a entender que
Paulo compareceria diante de César.
(3) Paulo foi
julgado e inocentado, ou o governo romano abriu mão do processo contra ele
(Sherwin-White, págs. 118-119 mostra a realidade desta última possibilidade).
Nos dois
casos (2) e (3), o problema se vincula com a questão mais lata de se Paulo
passou a desfrutar um período de liberdade antes de voltar a ser preso e,
finalmente, executado. É esta a impressão que se obtém das Epístolas Pastorais,
pois há um consenso de opinião no sentido de que, sendo genuínas as Epístolas,
as atividades ali subentendidas não se encaixam na carreira de Paulo em
qualquer ponto anterior. Há muito debate sobre a questão, no entanto; alguns
argumentam que as Epístolas não são autênticas e, portanto, têm dúbio valor
histórico, ao passo que outros alegam que podem ser harmonizadas com a carreira
de Paulo antes do fim de Atos. O único evento sobre o qual há unanimidade é que
Paulo foi executado pelos romanos.
(4) A
possibilidade final é que Paulo foi julgado e executado a esta altura, mas que
Lucas não quis registrar o seu martírio; já dera indicações indiretas em
suficiência no decurso da narrativa (20:23-25, 38; 21 :13; 23:11; 27:24), e
preferia deixar seus leitores como quadro de Paulo pregando livremente o
evangelho em Roma, diante dos gentios. Se, porém, Lucas sabia acerca do
martírio de Paulo, ou do massacre dos cristãos em Roma levado a efeito por
Nero, é extremamente difícil entender como poderia ter pintado um retrato tão
geralmente favorável das autoridades romanas e da atitude delas para com Paulo
(23:29). Deve-se reconhecer, no entanto, que o retrato de Lucas descreve as autoridades
romanas das provindas, e é possível que seja subentendido um contraste o
governo romano central.
O quadro fica
ambíguo. De um lado, é difícil perceber como Paulo poderia ter sido condenado à
morte conforme a evidência registrada em Atos; do outro lado, parece haver
consciência no Livro de Atos de que Paulo haveria de comparecer diante de César
e morrer como mártir.
31. Seja qual
for a verdade, o destino de Paulo é secundário, comparado com o progresso do
evangelho. A descrição final mostra Paulo pregando aos gentios a mesma mensagem
que pregara no decurso da história em Atos, e isto com intrepidez e sem
impedimento. A implicação é que as acusações contra Paulo eram falsas e que o
próprio DEUS estava apoiando a sua proclamação. Nada que os homens são capazes
de fazer é suficiente para impedir o progresso e vitória final do evangelho.
A AMBIÇÃO DE
PAULO PELO EVANGELHO 1:12-26
Aqui o dominante interesse de
Paulo em ver CRISTO proclamado. Ele alimenta esta ambição não simplesmente como
um indivíduo particular, mas como um apóstolo, cujas atuais circunstâncias de
confinamento estão ligadas ao destino do evangelho, cuja mensagem ele foi
encarregado de proclamar. Por esta razão, ele devota grande parte de seus
escritos à insistência em que o evangelho não está em perigo, por causa de sua
prisão, e também à explicação sobre por que ele sofre — como que refutando a
insinuação de que ele não é um verdadeiro apóstolo, visto que está sofrendo.
Ele passa por cima de muitas questões sobre suas circunstâncias pessoais, que
nos interessariam ver esclarecidas. O principal assunto (para Paulo) não está
em dúvida: CRISTO está sendo proclamado, e Sua mensagem será pregada, seja qual
for o destino de Paulo, como prisioneiro.
12. A linguagem do versículo dá a entender que Paulo desejava assegurar aos
filipenses que tudo estava bem com ele. Talvez tivessem manifestado alguma
preocupação quanto a ele, através da visita de Epafrodito (2:25). Seu interesse
se focaliza em entregar uma declaração de defesa pessoal de seu apostolado, e
em relatar o progresso do evangelho. O termo grego traduzido por progresso (gr.
prokopé) significa, mais especificamente, “avanço a despeito de obstruções e
perigos que bloqueiam o caminho do viandante”.
13. Paulo vai mais longe, mostrando como a obra missionária progrediu, a
despeito da terrível oposição externa. Sua prisão tomou-se conhecida de todos
ao seu redor, e todos reconhecem que ele é um prisioneiro por causa de sua
entrega à causa de CRISTO, isto é, ele não é um malfeitor civil, nem preso
político. Tampouco é seu trabalho apostólico posto em dúvida somente porque ele
é um apóstolo sofredor. Bem ao contrário.
...De toda a guarda pretoriana e de todos os demais — eis a esfera em que o
testemunho de Paulo é eficiente. A segunda parte da frase refere-se,
claramente, a pessoas, e assim fixa o significado de praitõrion (palavra
emprestada do latim, praetorium, ao grego). Refere-se, pois, não à residência
imperial, ou à do governador, mas, à guarda do imperador, ou à corte pretoriana
estacionada na metrópole.
A guarda estava em Roma. Seriam trazidos em contato com Paulo no decorrer de
seus deveres de supervisão, embora, visto haver 9.000 pretorianos, torna-se
difícil, senão impossível, imaginar que um prisioneiro fosse conhecido de todos
eles. Talvez, então, neste ambiente, não deveríamos tomar esta referência como
abrangendo toda a guarda pretoriana, de maneira literal.
14. Como segunda conseqüência das notícias de sua prisão, outras pessoas dentro
da comunidade cristã estão recebendo novo estímulo para o trabalho de
evangelização. O texto grego da frase a maioria dos irmãos indica um contraste
com o grupo de pessoas mencionadas no versículo anterior. Os crentes
descobriram uma nova fonte de energia (tomando-se estimulados no Senhor) e são
encorajados, pelo exemplo de Paulo, a falar mais ousadamente, em testemunho da
palavra de DEUS, isto é, a mensagem apostólica.
Outra interpretação do texto abre-nos uma visão diferente. Esta leva-nos a
tomar a frase de Paulo, no grego (hoi pleiones), e fazê-la significar “a
maioria” (mas, não todos) em referência aos pregadores cristãos no lugar do
cativeiro de Paulo. Isto significaria que nem todos ficaram positivamente
estimulados pela presença de Paulo, o apóstolo aprisionado, o que daria lugar a
uma divisão, mencionada nos versículos 15-17. Seja qual for o caso, são
pregadores cristãos (irmãos); este título suporta a primeira interpretação,
segundo a qual a presença de Paulo, e seu comportamento na prisão exerceram
efeito salutar sobre a comunidade cristã em geral, ao seu redor.
15-17. Eis uma seção importante da carta, que suscita diversidade de
interpretações. Parece haver alguma tensão com o versículo anterior, 14. Ali,
Paulo escrevera aprovando entusiasticamente os pregadores que se fortaleceram
pelo testemunho do apóstolo, na prisão, e que se lançaram, então, em ativa obra
missionária. Agora, ele precisa comentar, tristemente, que nem todos estão
motivados pelas melhores intenções. Alguns efetivamente proclamam a CRISTO por
inveja e porfia, movidos por motivos de discórdia, insinceramente, julgando
suscitar tribulação às minhas cadeias.
Paulo não condena a substância de sua pregação. A triste observação do apóstolo
refere-se aos motivos por que pregam a CRISTO.
Parece que se objetiva um grupo de pregadores cristãos que desdenham de Paulo,
porque ele é um apóstolo em cadeias; eles se inspiram em pensamentos de inveja
e animosidade contra Paulo, porque parece que ele colocou em dúvida a mensagem
cristã, por sua fraqueza, como prisioneiro, e prejudicou seu progresso no
mundo. A porfia deles, contudo, não é dirigida contra o apóstolo, pessoalmente;
ao invés disso, eles apresentam uma estratégia missionária, rival, que excede
em poder, comprova sua reivindicação mediante um triunfalismo sobre toda e
qualquer oposição, e gloria-se no sucesso. Com efeito, eles vêem a si mesmos
como “homens de DEUS”, semelhantes aos professores e pregadores itinerantes,
religiosos, os quais eram figuras familiares no mundo antigo greco-romano. O
mérito desta interpretação é que ela ilumina outras referências à situação de
Paulo na cidade de sua detenção.
A réplica de Paulo é multifacetada. Ele é grato pela lealdade daqueles que vêem
o verdadeiro significado de sua prisão. Ele ainda está ativo, testemunhando, e
é sua fidelidade ao evangelho apostólico que lhe trouxe aqueles sofrimentos (v.
16). Ele está incumbido por DEUS (o gr. keimai é um termo teológico, que
enfatiza que seu trabalho é determinado por comissão divina (cf. Lc 2:34; 1 Ts
3:3; possivelmente 1 Jo 5:19) e não está aqui devido a qualquer ação temerária
(alegação que poderia bem ter circulado), nem porque ele esteja isento de
sofrimento, como os “verdadeiros apóstolos” poderiam alegar.
18. Assim, ele
resume sua reação à situação criada por um segmento hostil da igreja ao redor.
Todavia, que importa? Sua única preocupação é a pregação de CRISTO; este fato
enche-o de alegria, tanto pelo presente como pelo futuro.
19. sim, sempre me regozijarei. Renova-se aquela expectativa de alegria futura.
Paulo retorna, agora, ao assunto de seu destino, como prisioneiro, ou pelo
menos ao seu desejo de ser uma testemunha, em seu confinamento. Seu regozijo
está baseado, não em algum cálculo humano, mas, em sua confiança na ajuda de
DEUS. Nesta esfera, pode ele contar com dois tipos de assistência: um deles é
humano (vossa súplica), enquanto o outro vem diretamente de DEUS (pela provisão
do ESPÍRITO de JESUS CRISTO). Paulo exprime com tocante minúcia ambos os tipos
de assistência que ele, com alegria, pode avocar. A súplica dos filipenses (gr.
deèsis) é resposta à sua súplica a favor deles (v. 4). A provisão (ARC,
socorro) do ESPÍRITO SANTO sugere um revestimento, e fortalecimento de sua
vida, de tal forma que sua coragem não lhe falhará; e nem será, seu testemunho,
prejudicado (v. 20), seja qual for o resultado do processo contra ele. A ajuda
do ESPÍRITO é nada menos que o poder de CRISTO disponível para Seu povo (E.
Schweitzer, TDNT vi, p. 417).
Mediante esta ajuda combinada, Paulo espera obter sua libertação, (gr.
sõtèria). A palavra é equivalente à sua expectativa no tribunal. Ele espera que
sua confiança em DEUS seja honrada, e seu testemunho da fidelidade divina será
confirmado pela virada dos eventos. Mas, isto não é a mesma coisa que a
esperança de libertação da prisão, porque no versículo seguinte ele entrevê a
possibilidade da morte.
Paulo tem confiança em que, quer seja ele absolvido ou não, sua posição em
CRISTO será sustentada; Jó expressou confiança semelhante, de que sua confiança
seria validada por DEUS (13:18).
A presença de Paulo no tribunal, durante o processo, perante seus juízes
(veja-se o v. 7), será, também, uma ocasião para sustentação do evangelho.
Nessa ocasião, será ele sustentado pelo ESPÍRITO que JESUS prometera aos
discípulos, quando levados perante seus acusadores (Mc 13:11; Lc 12:11,12).
20. segundo a minha ardente expectativa e esperança. Paulo ainda mantém seu
olho no futuro, no tempo da prova que há de vir. Uma perspectiva que encheria a
maioria das pessoas com pressentimentos e alarmes, é, de fato, ardentemente
aguardada por Paulo. A palavra apoka- radokia (ardente expectativa) é bastante
pitoresca, denotando um estado de antecipação viva do futuro, o esticar do
pescoço para captar um vislumbre daquilo que jaz à frente, “a esperança
intensa, concentrada, que ignora outros interesses (apo), e força-se para a
frente, como que esticando a cabeça (kara, dokein)” . É, assim, uma atitude
positiva para com aquilo que o futuro possa trazer, um significado comprovado
no uso secular do verbo grego.
A perspectiva alegre de Paulo é governada por várias considerações. Ele confia
em que sua coragem não sucumbirá ao temor; ao contrário, ele deseja que sua
prova seja enfrentada com nova coragem (gr. parrhèsia, literalmente: “ousadia
ao falar em público”). Acima de tudo, ele almeja que seja CRISTO engrandecido.
O contraste: em nada ... envergonhado... o Senhor glorificado (gr.
megalynthèsetai) é comum no Saltério do VT, e no rolo Hinário de Qumran, por
ex.: IQH 4.23s.:
Eles não me estimam [para que Tu possas] manifestar Teu poder (isto é, fazer-Te
grande) através de mim.
Tu Te tens revelado a mim, em Teu poder, como perfeita Luz, e não tens coberto
minha face com vergonha. Cf. Vermes, p. 162).
A honra de
CRISTO será alcançada, continua Paulo, numa sublime indiferença para com aquilo
que a nós parece, hoje, assuntos de suma importância, quer pela vida, quer pela
morte. Tanto um como outro destino têm que ver com sua existência física;
contudo, é muito provável que Paulo diz no meu corpo, incluindo sua vida total,
como ser humano responsável, e servo de DEUS (cf. Rm 12:1, quanto ao sentido
inclusivo de sõma, denotando “o homem todo, e não apenas uma parte. .. [e
também] a esfera em que o homem serve”:
21-24. Agora, numa série de declarações contrastantes, que poderiam ser
dispostas em paralelismos, Paulo apresenta as alternativas que se lhe deparam.
O esquema está cuidadosamente delineado sob a forma de manchetes, mas a sintaxe
que tornaria o texto inteiramente inteligível, como se fora uma peça redatorial
unificada, está partida. Entretanto, o esboço daquilo que estava na mente de
Paulo é bem claro, como se vê:
a. Vida: para mim é CRISTO (v. 21a)
b. Morte: é lucro (v. 21 b)
c. Vida: se o viver.. . (v. 22)
d. Morte: estou... tendo o desejo de partir e estar com CRISTO (v. 23)
e. Vida: minha responsabilidade pastoral exige minha contínua presença (v. 24)
Cada uma destas declarações encaixa-se numa corrente progressiva de pensamento,
à medida que a mente de Paulo vai levantando as possibilidades. Em certo
sentido, ele está sopesando apenas assuntos teóricos, porque sua vida ainda
está sob risco, e sob a misericórdia de seus captores. Entretanto, como
cristãos, e como apóstolo, ele sabe que sua vida gravita na esfera do controle
soberano e providencial, de DEUS, onde nenhuma força maligna pode tocá-lo,
senão mediante permissão divina. A verdadeira questão resume-se em decidir que
tipo de “libertação” (v. 19) é melhor esperar. Se as orações dos filipenses, em
prol de sua sobrevivência, forem atendidas, pode Paulo esperar um prolongamento
de sua obra missionária (fruto para o meu trabalho), e uma possível volta a
Filipos, para reassumir seus vínculos pastorais com a igreja ali (v. 26). Se,
entretanto, o veredicto lhe é desfavorável, significará sentença de morte, o
fim de sua vida aqui. Mas, este pensamento não causa horror a Paulo, visto que
muitos “fins” desejáveis seriam atingidos mediante este evento: seu martírio
será lucro, porque CRISTO será honrado, neste ato, e Sua mensagem proclamada
(v. 21), e seu anseio pessoal será atendido quando ele entrar em comunhão mais
profunda com seu Senhor, além do véu (v. 23).
A escolha deriva de um dilema genuíno, como a pressão de forças opostas. Ele
está “fechado dos dois lados” (tradução de Lightfoot para o v. 23). O verbo
synechomai sugere a idéia de controle total, submissão a forças que, neste
caso, são tão bem equilibradas, em sua competição, que Paulo está sob pressão
igual de ambos os ladose não pode libertar-se. Se a questão fosse deixada à sua
inclinação natural, a opção seria clara: ele escolheria a morte (partir) como
um mártir (o aoristo infinito to apothanein tem em vista tal destino) e assim,
estar com CRISTO.
partir (gr. analysaí) não deve ser interpretado como um anseio por
imortalidade, a qual os gregos procuravam atingir mediante o derramamento do corpo
físico, permitindo, assim, que o espírito escapasse de sua prisão. A metáfora
do verbo poderia ter sido emprestada da terminologia militar (retirar-se do
campo), como no exemplo do exército de Antíoco, na retirada da Pérsia (II Mac.
9:1 usa o verbo), ou da linguagem náutica: libertar o barco de suas amarras,
para que saia velejando. Contudo, o pano de fundo geral, mais imediato, não é o
debate filosófico, grego, a respeito da imortalidade da alma, que procura
libertar-se do corpo, à hora da morte, (cf. a versão judaica em Tob. 3:6), mas
a esperança de uma união mais íntima com CRISTO, para o que não existe paralelo
adequado na antigüidade (segundo Gnilka). Estar com CRISTO expressa sua
esperança de “pessoalmente ‘estar com CRISTO’ . . . consistindo na comunhão
pessoal entre CRISTO e o apóstolo” . O paralelo mais próximo está em 2 Co
5:1-10.
Na experiência humana, aquela união com CRISTO, pela fé, inicia-se com a
obediência ao Seu chamado, expressa na fé e exemplificada na confissão
batismal. No ensino de Paulo é tão íntimo o elo que liga o crente ao Seu Senhor
(por ex.: 1 Co 6:17), que a morte não pode rompê-lo. Ao contrário, a morte o
introduz numa comunhão ainda mais profunda, de tal maneira que Paulo pode
dizer, na verdade, numa comparação de muita força, que esta união além-morte, é
incomparavelmente melhor, um fim almejado com devoção. O advérbio triplo em
grego (literalmente: “antes muito melhor”) significa “sem comparação, o
melhor”, isto é, um superlativo super-enfático.
Contudo, Paulo é guiado por desejos não-pessoais. Seu pensamento “centralizado
na cruz” relaciona-se não tanto à imortalidade pessoal, ou ao interesse pelo
além, mas ao interesse pelo trabalho de CRISTO, e à fidelidade à Sua palavra
(Collange). O altruísmo pastoral de Paulo rebrilha quando ele volta à situação
de seu “cuidado por todas as igrejas” (ou “preocupação com todas as igrejas” 2
Co 11:28 ARA). É mais necessário, por vossa causa (pensamento que inclui os
filipenses, mas não se limita a eles) que sua vida seja poupada, para poder
continuar.
25-26. E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e permanecerei com
todos vós. Estes versículos contêm uma nota que sugeriu, a alguns
comentaristas, que Paulo está expressando nova confiança, com respeito a seu
futuro. Versículos anteriores, neste capítulo (20,23) estão pesados com a
perspectiva de martírio iminente, parecendo que a morte estava ali na esquina.
“Paulo. . . bem no íntimo de seu coração, antecipava nenhum outro destino senão
a morte” (J. H. Michael). A questão é, pois, se sua perspectiva mudou, no
versículo 25, de modo que ele contempla, agora, a probabilidade da
sobrevivência, após o processo, e o retorno a Filipos (v.26).
O que é mais certo é que a volta de Paulo a Filipos, e sua retomada do
pastorado, enquanto fosse possível, ajudaria os filipenses. Talvez Paulo tem
esperança de sobreviver até a parousia de CRISTO.
Pelo menos, asseguraria sua assistência no caminho de seu progresso (a mesma
palavra de 1:12) e gozo da fé. A última frase é um toque humano que ilustra a força
do laço que unia o apóstolo e a comunidade. Sua presença com eles aumentaria o
gozo deles, visto que a vida comum deles era uma fonte de alegria e satisfação
para o apóstolo (1:4;4:1). Então, eles teriam imensas razões para exultação,
pelo fato de suas orações por seu livramento terem sido atendidas (v. 19), e o
testemunho de Paulo ter sido mantido (v. 20).
INTERAÇÃO
A prisão do apóstolo Paulo em Roma foi crucial para a propagação do Evangelho
na região de Filipos. A partir de uma experiência de sofrimento, DEUS usou
pessoas para propagar a mensagem das Boas Novas. É verdade que alguns
pregadores usavam o sofrimento do apóstolo para proclamar CRISTO de boa
consciência. Outros utilizavam-se do sofrimento alheio para obterem vantagens
pessoais. CRISTO não era o centro das suas preleções. Infelizmente, na
atualidade, algumas pessoas perderam o temor de DEUS. A exemplo daqueles
pregadores de Filipos, elas exploram as tragédias pessoais, pois vêem nelas a
oportunidade de se locupletarem com as feridas alheias (elas sabem que o
sofrimento humano pode ser muito rentável). CRISTO não se acha mais no centro
de suas vidas.
OBJETIVOS - Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Saber que as adversidades podem contribuir para a expansão do Evangelho.
Explicar as motivações de Paulo para a pregação do Evangelho.
Compreender que o significado da vida consiste em vivermos para o Evangelho
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor, para concluir a lição sugerimos a seguinte atividade: (1)
Pesquise ao menos três países cujo índice de perseguição religiosa é grande.
(2) Identifique missionários que atuam nesses locais (a pesquisa pode ser feita
pelas agências missionárias, secretaria de missões de sua igreja ou internet).
(3) Em seguida, pesquise o crescimento de cristãos nesses países visando
identificar como o trabalho missionário tem sido realizado. Conclua dizendo
que, a exemplo do que ocorreu a Paulo, o Evangelho continua a ser propagado no
mundo através do sofrimento de muitas pessoas que se dispõem a propagá-lo com
ousadia.
RESUMO DA
LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
I. ADVERSIDADE:
UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO
1. Paulo na prisão.
2. Uma porta se
abre através da adversidade.
II. O TESTEMUNHO DE PAULO NA ADVERSIDADE (1.12,13)
1. O poder do Evangelho.
2. A preocupação
dos Filipenses com Paulo.
3. Paulo rejeita
a auto-piedade.
III. MOTIVAÇÕES PARA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO (1.14-18)
1. A motivação
positiva.
2. A motivação
negativa.
IV. O DILEMA DE PAULO (1.19-22ss.)
1. Viver para CRISTO.
2. Paulo supera
o dilema. "Estar com CRISTO" e "viver na carne".
SINOPSE DO TÓPICO (1)
A prisão de Paulo foi uma porta aberta para a proclamação do Evangelho.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
O testemunho de Paulo na adversidade pode ser observado pela sua rejeição a
auto-piedade e a sua fé no poder do Evangelho.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Foi o Criador quem planejou o matrimônio, uma união indissolúvel e permanente
(Gn 2.24).
SINOPSE DO TÓPICO (4)
O dilema de Paulo era, imediatamente, "estar com CRISTO" ou
"viver na carne" para edificar os filipenses.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
"Alguns pregam CRISTO por inveja e porfia, mas outros de boa mente (1.15).
Posteriormente Paulo voltará sua atenção aos judaizantes, que distorcem o
evangelho insistindo nas obras como algo essencial para a salvação (3.2-11).
Aqui a tensão é pessoal em vez de doutrinária. Alguns se tornam evangelistas
mais ativos por um espírito competitivo, tendo um prazer perverso no pensamento
de que Paulo está atado e incapaz de tentar alcançá-los. Outros se tornam
evangelistas mais ativos por amor, um esforço de aliviar Paulo da preocupação
de que expansão do evangelho retrair-se-á devido à sua inatividade forçada.
É fascinante ver como Paulo recusa-se a julgar as motivações, e está encantado
com o fato de que, seja pela razão que for, o evangelho está sendo pregado.
Poucos de nós têm essa maturidade. Os críticos de Paulo poderão ficar
amargamente ressentidos com o seu sucesso, mas o apóstolo não ficará ressentido
com eles! Em vez disso ele se regozijará por CRISTO estar sendo pregado, e
deixará a questão dos motivos para o Senhor.
Porque sei que disto me resultará salvação (1.19). Paulo não se refere aqui à
sua libertação da prisão. O maior perigo que qualquer um de nós enfrenta é o
desânimo que as dificuldades frequentemente criam" (RICHARDS, Lawrence O.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2007, p.437).