LIÇÃO 1 - PAULO E A IGREJA EM FILIPOS
LIÇÕES
BÍBLICAS - 3º Trimestre de 2013 - CPAD - Para jovens e adultos
Tema:
Filipenses - A Humildade de CRISTO como exemplos para a Igreja.
Comentário: Pr. Elienai Cabral
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida
Silva
TEXTO ÁUREO
"E peço isto: que o
vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento" (Fp
1.9).
VERDADE PRÁTICA
Paulo tinha uma grande afeição pelos irmãos de Filipos; por isso suas
orações e ações de graças por essa igreja eram constantes.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Fp 1.3-6 A oração que inspira compromisso
Terça - Fp 1.7 A justiça provém do amor
Quarta - Fp 1.12-15 Tribulações por amor ao Evangelho
Quinta - Jo 15.4,5,8,16 O amor revela-se em obras
Sexta - Rm 12.9-21 O amor valida as boas obras
Sábado - Fp 4.14-19 O amor gera contentamento
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Filipenses
1.1-11
1 Paulo e Timóteo,
servos de JESUS CRISTO, a todos os santos em CRISTO JESUS que estão em Filipos,
com os bispos e diáconos: 2 graça a vós e paz, da parte de DEUS, nosso Pai, e
da do Senhor JESUS CRISTO. 3 Dou graças ao meu DEUS todas as vezes que me
lembro de vós, 4 fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas
súplicas, 5 pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora.
6 Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao Dia de JESUS CRISTO. 7 Como tenho por justo sentir isto de
vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes
participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e
confirmação do evangelho. 8 Porque DEUS me é testemunha das saudades que de
todos vós tenho, em entranhável afeição de JESUS CRISTO. 9 E peço isto: que a
vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. 10 Para
que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo
algum até ao Dia de CRISTO, 11 cheios de frutos de justiça, que são por JESUS
CRISTO, para glória e louvor de DEUS.
CARTA DO APÓSTOLO PAULO AOS FILIPENSES (BEP -CPAD)
Esboço
Introdução (1.1-11)
A. Saudações (1.1,2)
B. Ação de Graças e Oração pelos Filipenses (1.3-11)
I. As Circunstâncias em que Paulo se Encontrava (1.12-26)
A. O Avanço do Evangelho por Causa da Prisão de Paulo (1.12-14)
B. A Proclamação de CRISTO de Todas as Maneiras (1.15-18)
C. A Disposição de Paulo para Viver ou Morrer (1.19-26)
II. Assuntos de Interesse da Igreja (1.27—4.9)
A. Exortação de Paulo aos Filipenses (1.27—2.18)
1. À Perseverança (1.27-30)
2. À Unidade (2.1-2)
3. À Humildade e Prontidão em Servir (2.3-11)
4. À Obediência e à Conduta Irrepreensível (2.12-18)
B. Os Mensageiros de Paulo à Igreja (2.19-30)
1. Timóteo (2.19-24)
2. Epafrodito (2.25-30)
C. Advertência de Paulo a Respeito de Falsos Ensinos (3.1-21)
1. A Falsa Circuncisão Face à Verdadeira (3.1-16)
2. A Mentalidade Terrena Face à Espiritual (3.17-21)
D. Conselhos Finais de Paulo (4.1-9)
1. Firmeza e Harmonia (4.1-3)
2. Alegria e Eqüidade (4.4,5)
3. Liberdade da Ansiedade (4.6,7)
4. Controle da Mente e da Vontade (4.8-9)
Conclusão (4.10-23)
A. Reconhecimento e Gratidão por Ofertas Recebidas (4.10-20)
B. Saudações Finais e Bênção (4.21-23)
Autor: Paulo
Tema: Alegria de Viver por CRISTO
Data: Cerca de 62/63 d.C.
Considerações Preliminares
A cidade de Filipos, na Macedônia oriental, a 16 km do Mar Egeu, foi assim
chamada em homenagem a Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre Magno. Nos dias
de Paulo, era uma cidade romana privilegiada, tendo uma guarnição militar.
A igreja de Filipos foi fundada por Paulo e sua equipe de cooperadores (Silas,
Timóteo, Lucas) na sua segunda viagem missionária, em obediência a uma visão
que DEUS lhe dera em Trôade (At 16.9-40). Um forte elo de amizade desenvolveu-se
entre o apóstolo e a igreja em Filipos. Várias vezes a igreja enviou ajuda
financeira a Paulo (2 Co 11.9; Fp 4.15,16) e contribuiu generosamente para a
coleta que o apóstolo providenciou para os crentes pobres de Jerusalém (cf. 2
Co 8-9). Parece que Paulo visitou a igreja duas vezes na sua terceira viagem
missionária (At 20.1,3,6).
Propósito
Da prisão (1.7,13,14), certamente em Roma (At 28.16-31), Paulo escreveu esta
carta aos crentes Filipenses para agradecer-lhes pela sua oferta generosa, cujo
portador foi Epafrodito (4.14-19) e para informá-los do seu estado pessoal.
Além disso, escreveu para transmitir à congregação a certeza do triunfo do
propósito de DEUS na sua prisão (1.12-30), para assegurar à igreja que o
mensageiro por ela enviado (Epafrodito) cumprira fielmente a sua tarefa e que
não estava voltando antes do devido tempo (2.25-30), e para levar os membros da
igreja a se esforçarem para conhecer melhor o Senhor, conservando a unidade, a
humildade, a comunhão e a paz.
Visão Panorâmica
Diferente de muitas das cartas de Paulo, Filipenses não foi escrita
primeiramente devido a problemas ou conflitos na igreja. Sua tônica básica é de
cordial afeição e apreço pela congregação. Da saudação inicial (1.1) à bênção
final (4.23), a carta focaliza CRISTO JESUS como o propósito da vida e a
esperança da vida eterna por parte do crente. Nesta epístola, Paulo trata de
três problemas menores em Filipos: (1) O desânimo dos crentes ali, por causa da
prisão prolongada de Paulo (1.12-26); (2) pequenas sementes de discórdia entre
duas mulheres da igreja (4.2; cf. 2.2-4); e (3) a ameaça de deslealdade sempre
presente entre as igrejas, por causa dos mestres judaizantes e dos crentes de
mentalidade terrena (cap. 3). Em meio a esses três problemas em potencial,
temos os ensinos mais ricos de Paulo sobre (1) alegria em meio a todas as
circunstâncias da vida (e.g., 1.4,12; 2.17,18; 4.4,11-13), (2) a humildade e
serviço cristãos (2.1-16), e (3) o valor incomensurável de conhecer a CRISTO
(cap. 3).
Características Especiais
Cinco assuntos principais caracterizam esta epístola. (1) Ela é muito pessoal e
afetuosa, refletindo assim o estreito relacionamento entre Paulo e os crentes
Filipenses. (2) É altamente cristocêntrica, revelando a estreita comunhão entre
Paulo e CRISTO (e.g., 1.21; 3.7-14). (3) Contém uma das declarações
cristológicas mais profundas da Bíblia (2.5-11). (4) É preeminentemente a
“Epístola da Alegria” no NT. (5) Apresenta um modelo de vida cristã dinâmica e
resignada, inclusive o viver humilde e como servo (2.1-8); prosseguir com
firmeza para o alvo (3.13,14); regozijar-se sempre no Senhor (4.4); libertar-se
da ansiedade (4.6), contentar-se em todas as circunstâncias (4.11) e fazer
todas as coisas mediante a potente graça de CRISTO (4.13).
capítulo 1
1.4 ALEGRIA. A alegria é
parte integrante da nossa salvação em CRISTO. É paz e prazer interiores em DEUS
Pai, Filho e ESPÍRITO SANTO, e na bênção que flui de nosso relacionamento com
Eles (cf. 2 Co 13.14). Os ensinos bíblicos a respeito da alegria incluem: (1) A
alegria está associada à salvação que DEUS concede em CRISTO (1 Pe 1.3-6; cf.
Sl 5.11; 9.2; Is 35.10) e com a Palavra de DEUS (Jr 15.16; cf. Sl 119.14). (2)
A alegria flui de DEUS como um dos aspectos do fruto do ESPÍRITO (Sl 16.11; Rm
15.13; Gl 5.22). Logo, ela não nos vem automaticamente. Nós a experimentamos
somente à medida que permanecemos em CRISTO (Jo 15.1-11). Nossa alegria se
torna maior quando o ESPÍRITO SANTO nos transmite um profundo senso da presença
e do contato com DEUS em nossa vida (cf. Jo 14.15-21; ver 16.14). JESUS ensinou
que a plenitude da alegria está intimamente ligada à nossa permanência na sua
Palavra, à obediência aos seus mandamentos (Jo 15.7,10,11) e à separação do
mundo (Jo 17.13-17). (3) A alegria, como deleite na presença de DEUS e nas
bênçãos da redenção, não pode ser destruída pela dor, pelo sofrimento, pela
fraqueza nem por circunstâncias difíceis (Mt 5.12; At 16.23-25; 2 Co 12.9).
1.6 TENDO POR CERTO ISTO. A confiança de Paulo nos Filipenses, baseia-se não
somente na boa obra que DEUS efetuou neles, como também no zelo e na abnegação
deles em prol da fé (vv. 5,7; 4.15-18). A fidelidade de DEUS é uma bênção
perene para o crente fiel, mas ela é ineficaz para com aqueles que resistem à
sua graça (ver 2.13; 2 Tm 2.13).
1.9 A VOSSA CARIDADE AUMENTE... EM CIÊNCIA. A caridade, se procede de CRISTO,
deve basear-se na revelação e no conhecimento bíblicos. (1) No NT,
"ciência" (gr. epignosis) significa conhecimento espiritual no
coração e não simplesmente no intelecto. Trata-se da revelação de DEUS,
conhecida experimentalmente, incluindo a comunhão pessoal com Ele e não um
simples conhecimento intelectual de fatos a respeito dEle (vv. 10,11; Ef
3.16-19). (2) Logo, conhecer a Palavra de DEUS (cf. Rm 7.1), ou conhecer a
vontade de DEUS (At 22.14; Rm 2.18), subentende um conhecimento que se expressa
na comunhão, na obediência, na vida e no andar com DEUS (Jo 17.3; 1 Jo 4.8).
Conhecer a verdade teológica deve ter como objetivo o amor a DEUS e o
livramento do pecado (Rm 6.6). "Em todo o conhecimento" significa o
crente discernir o que é bom e o que é mau.
1.10 SINCEROS E SEM ESCÂNDALO ALGUM. "Sincero" significa "sem
nenhuma mistura do mal"; "sem escândalo algum" significa
"inculpável" diante de DEUS e dos homens. Tal santidade deve ser o
alvo supremo de todo crente, tendo em vista a iminente volta de CRISTO. Somente
com um amor abundante, derramado em nosso coração pelo ESPÍRITO SANTO (Rm 5.5;
cf. Tt 3.5,6) e com fidelidade total à Palavra de DEUS, é que seremos
"sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de CRISTO".
1.16 PARA DEFESA DO EVANGELHO. DEUS deu a Paulo a tarefa importante de defender
o conteúdo do evangelho, conforme o temos nas Escrituras. Semelhantemente,
todos os crentes são conclamados a defender a verdade bíblica e a resistir
àqueles que distorcem a fé (v. 27; ver Gl 1.9; Jd 3 ). As palavras de Paulo
parecem estranhas aos pastores dos nossos dias, que não vêem a necessidade de
"batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3)
1.19 ESPÍRITO DE JESUS CRISTO. O ESPÍRITO SANTO que habita no crente é chamado
o "ESPÍRITO de JESUS CRISTO" (Cf. At 16.7; Rm 8.9; Gl 4.6), porque é
CRISTO quem outorga o ESPÍRITO ao crente, na sua conversão e é Ele quem
subseqüentemente batiza o crente com o ESPÍRITO SANTO (ver At 1.8). Esse ESPÍRITO
é o mesmo que ungiu a JESUS, a fim de trazer redenção ao mundo (ver Lc 4.18)
1.21 MORRER É GANHO. O verdadeiro crente, vivendo no centro da vontade de DEUS,
não precisa ter medo da morte. Ele sabe que DEUS tem um propósito para o seu
viver, e que a morte, quando ela vier, é simplesmente o fim da sua missão
terrestre e o início de uma vida mais gloriosa com CRISTO (vv. 20-25; ver Rm
8.28)
1.27 NUM MESMO ESPÍRITO. A verdadeira essência da unidade do ESPÍRITO consiste
em viver de modo digno (cf. Ef 4.1-3), permanecendo firme num só espírito e
propósito (cf. Ef 4.3), combatendo lado a lado como guerreiros pela propagação
e defesa do evangelho, segundo a revelação apostólica (v. 17; cf. Ef 4.13-15) e
defendendo juntamente a verdade do evangelho contra aqueles que são
"inimigos da cruz de CRISTO" (3.18). Observemos que
"espírito", aqui, tem o sentido de disposição mental, ânimo, zelo,
propósito, dedicação, diligência e não o espírito humano em si.
capítulo 2
2.3 POR HUMILDADE.
Devido ao egocentrismo inato do homem caído, o mundo não tem em alta estima a
humildade e a modéstia. A Bíblia, no entanto, com seu conceito teocêntrico do
homem e da salvação, atribui máxima importância à humildade. (1) A humildade
bíblica subentende a consciência das nossas fraquezas e a decisão de atribuir
de imediato todo crédito DEUS e ao próximo, por aquilo que realizamos (Jo 3.27;
5.19; 14.10; Tg 4.6). (2) Devemos ser humildes porque somos simples criaturas
(Gn 18.27); somos pecaminosos à parte de CRISTO (Lc 18.9-14) e não podemos
jactar-nos de nada (Rm 7.18; Gl 6.3), a não ser no Senhor (2 Co 10.17). Logo,
dependemos de DEUS para nosso valor e para nossa frutificação, e não podemos
realizar nada de valor permanente sem a ajuda de DEUS e do próximo (Sl 8.4,5;
Jo 15.1-16). (3) A presença de DEUS acompanha aqueles que andam em humildade
(Is 57.15; Mq 6.8). Maior graça é dada aos humildes, mas DEUS resiste aos
soberbos (Tg 4.6; 1 Pe 5.5). Os mais zelosos filhos de DEUS servem "ao
Senhor com toda a humildade" (At 20.19). (4) Como crentes, devemos viver
em humildade uns para com os outros, considerando-os superiores a nós mesmos
(cf. Rm 12.3). (5) O oposto da humildade é a soberba, um senso exagerado da
importância e da auto-estima da pessoa que confia no seu próprio mérito,
superioridade e realizações. A tendência inevitável da natureza humana e do
mundo é sempre à soberba, e não à humildade (1 Jo 2.16; cf. Is 14.13,14; Ez
28.17; 1 Tm 6.17).
2.5 HAJA EM VÓS O MESMO SENTIMENTO. Paulo enfatiza como o Senhor JESUS deixou a
glória incomparável do céu e humilhou-se como um servo, sendo obediente até à
morte para o benefício dos outros (vv. 5-8). A humildade integral de CRISTO
deve existir nos seus seguidores, os quais foram chamados para viver com
sacrifício e renúncia, cuidando dos outros e fazendo-lhes o bem.
2.6 SENDO EM FORMA DE DEUS. JESUS sempre foi DEUS pela sua própria natureza e
igual ao Pai antes, durante e depois da sua permanência na terra (ver Jo 1.1;
8.58; 17.24; Cl 1.15,17; ver Mc 1.11; Jo 20.28). CRISTO, no entanto, não se
apegou aos seus direitos divinos, mas abriu mão dos seus privilégios e glória
no céu, a fim de que nós, na terra, fôssemos salvos.
2.7 ANIQUILOU-SE A SI MESMO. O texto grego do qual foi traduzida esta frase,
diz literalmente, que ele "se esvaziou", i.e., deixou de lado sua
glória celestial (Jo 17.4), posição (Jo 5.30; Hb 5.8), riquezas (2 Co 8.9),
direitos (Lc 22.27; Mt 20.28) e o uso de prerrogativas divinas (Jo 5.19; 8.28;
14.10). Esse "esvaziar-se" importava não somente em restrição
voluntária dos seus atributos e privilégios divinos, mas também na aceitação do
sofrimento, da incompreensão, dos maus tratos, do ódio e, finalmente, da morte
de maldição na cruz (vv. 7,8).
2.7 A FORMA DE SERVO... SEMELHANTE AOS HOMENS. Para trechos na Bíblia que
tratam de CRISTO assumindo a forma de servo, ver Mc 13.32; Lc 2.40-52; Rm 8.3;
2 Co 8.9; Hb 2.7,14. Embora permanecesse em tudo divino, CRISTO tomou sobre si
uma natureza humana com suas tentações, humilhações e fraquezas, porém sem
pecado (vv. 7,8; Hb 4.15).
2.12 OPERAI A VOSSA SALVAÇÃO. Como crentes salvos pela graça, devemos
concretizar a nossa salvação até o fim. Se deixarmos de fazê-lo, nós a
perderemos. (1) Não desenvolvemos a nossa salvação por meros esforços humanos,
mas por meio da graça de DEUS e do poder do ESPÍRITO SANTO que nos foram
outorgados. (2) A fim de desenvolvermos a nossa salvação, devemos resistir ao
pecado e atender os desejos do ESPÍRITO SANTO em nosso íntimo. Isso envolve um
esforço contínuo e ininterrupto, de usar todos os meios determinados por DEUS
para derrotarmos o mal e manifestarmos a vida de CRISTO. Sendo assim,
concretizar a nossa salvação é concentrar-nos na importância da santificação
(ver Gl 5.17). (3) Operamos a nossa salvação, chegando cada vez mais perto de
CRISTO (ver Hb 7.25) e recebendo seu poder para querer e efetuar a boa vontade
de DEUS (ver v. 13). Deste modo, somos "cooperadores de DEUS" (1 Co
3.9) para a nossa completa salvação no céu. (4) Desenvolver a nossa salvação é
tão vital que deve ser feito "com temor e tremor".
2.12 TEMOR E TREMOR. Na salvação efetuada por CRISTO, Paulo vê lugar para
"temor e tremor" da nossa parte. Todo filho de DEUS deve possuir um
santo temor que o faça tremer diante da Palavra de DEUS (Is 66.2) e o leve a
desviar-se de todo mal (Pv 3.7; 8.13). O temor (gr. phobos) do Senhor não é de
conformidade com a definição freqüentemente usada, a mera "confiança
reverente", mas inclui o santo temor do poder de DEUS, da sua santidade e
da sua justa retribuição, e um pavor de pecar contra Ele e das conseqüências desse
pecado (cf. Êx 3.6; Sl 119.120; Lc 12.4,5). Não é um temor destrutivo, mas um
temor que controla e que redime e que aproxima o crente de DEUS, de suas
bênçãos, da pureza moral, da vida e da salvação (cf. Sl 5.7; 85.9; Pv 14.27;
16.6).
2.13 DEUS É O QUE OPERA EM VÓS. A graça de DEUS opera nos seus filhos, para
produzir neles tanto o desejo quanto o poder para cumprir a sua vontade. Mesmo
assim, a obra de DEUS dentro de nós não é de compulsão, nem de graça
irresistível. A obra da graça dentro de nós (1.6; 1 Ts 5.24; 2 Tm 4.18; Tt
3.5-7) sempre depende da nossa fidelidade e cooperação (vv. 12,14-16)
2.15 GERAÇÃO CORROMPIDA E PERVERSA. JESUS e os apóstolos enfatizaram que o
mundo em que vivemos é uma "geração incrédula e perversa" (Mt 17.17;
cf. 12.39; At 2.40). O povo deste mundo tem mentalidade errada, valores
distorcidos, critérios imorais de vida e rejeitam as normas e padrões da
Palavra de DEUS. Os filhos de DEUS devem separar-se do mundo e ser inculpáveis,
puros de coração e irrepreensíveis, a fim de proclamarem ao mundo perdido a
gloriosa redenção em CRISTO (Cf. 1 Jo 2.15).
2.17 E, AINDA QUE SEJA OFERECIDO... SOBRE O SACRIFÍCIO. O amor e a solicitude
de Paulo pelos Filipenses era tão grande, que ele estava disposto a dar a sua
vida por eles, como se fosse uma oferenda a DEUS. (1) Paulo não lastimaria;
antes se regozijaria como a vítima do sacrifício, se assim os Filipenses
passassem a ter mais fé em CRISTO e mais amor a Ele (cf. 2 Tm 4.6).
(2) Já que Paulo tinha tamanho amor sacrifical pelos seus filhos espirituais na
fé, que sacrifícios e sofrimentos devemos estar dispostos a enfrentar em prol
da fé dos nossos próprios filhos? Para que nossos filhos tenham uma vida
inteiramente dedicada ao Senhor, se necessário for, devemos dar até a nossa
vida como oferta ao Senhor que cita quinze passos que os pais devem observar
para levar seus filhos a uma vida de piedade em CRISTO)
2.19 TIMÓTEO. Timóteo era um bom exemplo do que um ministro e missionário de
DEUS deve ser. Era um estudante zeloso e obediente à Palavra de DEUS (2 Tm
3.15); um servo perseverante e digno de CRISTO (1 Ts 3.2); um homem de boa
reputação (At 16.2), amado e fiel (1 Co 4.17), com solicitude genuína pelo
próximo (v. 20), fidedigno (2 Tm 4.9,21) e dedicado a Paulo e ao evangelho (v.
22; Rm 16.21).
2.21 PORQUE TODOS BUSCAM O QUE É SEU. Há pastores que pregam, ensinam,
pastoreiam ou escrevem, não com solicitude genuína pela propagação do
evangelho, mas visando aos seus próprios interesses, honra, glória e prestígio.
Ao invés de procurarem agradar ao Senhor JESUS, procuram agradar aos homens e
conquistar o favor deles (1.15; 2.20,21; 2 Tm 4.10,16). Tais pastores não são
verdadeiros servos do Senhor.
capítulo 3
3.2 CÃES... MAUS
OBREIROS... CIRCUNCISÃO. A maior provação de Paulo era a tristeza que sentia e
experimentava por causa dos que distorciam o evangelho de CRISTO. Seu amor a
CRISTO, à igreja e à verdade redentora, era tão forte que o levou a opor-se
energicamente àqueles que pervertiam a doutrina pura, e a descrevê-los como
"cães" e "maus obreiros" (ver 1.17; Gl 1.9; cf. Mt 23). O
termo grego "circuncisão", como é empregado por Paulo aqui, significa
"mutiladores do corpo" e refere-se ao rito da circuncisão segundo o
ensino dos falsos mestres judaizantes, afirmando que o sinal da circuncisão
conforme o AT era necessário à salvação. Paulo declara que a verdadeira
circuncisão é uma obra do ESPÍRITO no coração da pessoa, pela qual o pecado e o
mal são cortados (v. 3; Rm 2.25-29; Cl 2.11).
3.8-11 PARA QUE POSSA GANHAR A CRISTO. Estes versículos revelam o coração do
apóstolo e a essência do cristianismo. O maior anseio na vida de Paulo era
conhecer a CRISTO e experimentar de modo mais íntimo sua comunhão e presença.
Nessa busca vemos os seguintes aspectos: (1) Conhecer a CRISTO pessoalmente,
bem como a seus caminhos, sua natureza e caráter, segundo a revelação da
Palavra de DEUS. O verdadeiro conhecimento de CRISTO envolve ouvirmos a sua
palavra, seguirmos o seu ESPÍRITO, atendermos a seus impulsos com fé, verdade e
obediência, e identificar-nos com seus interesses e propósitos. (2) Ser achado
em CRISTO (v. 9), i.e., ser unido e ter comunhão com Ele produz a justiça que
somente é experimentada como dom de DEUS (1.10,11; 1 Co 1.30). (3) Conhecer o
poder da sua ressurreição (v. 10), i.e., experimentar a renovação da vida
espiritual, o livramento do poder do pecado (Rm 5.10; 6.4; Ef 2.5,6) e o poder
do ESPÍRITO SANTO para levar a efeito um testemunho eficaz, a cura, os milagres
e, finalmente, a nossa própria ressurreição dentre os mortos (v. 11; Ef
1.18-20). (4) Compartilhar das aflições de CRISTO mediante a abnegação, a
crucificação da carne e o sofrimento por amor a CRISTO e à sua causa (cf. 1.29;
At 9.16; Rm 6.5,6; 1 Co 15.31; 2 Co 4.10; Gl 2.20; Cl 1.24; 4.13)
3.9 A JUSTIÇA QUE VEM DE DEUS. A justiça do crente consiste, em primeiro lugar,
em ser perdoado do pecado, justificado e aceito por DEUS, mediante a fé (ver Rm
4.5). (1) Nossa justiça, no entanto, é mais do que isso. A Palavra de DEUS
declara que nossa justiça é CRISTO, o próprio Senhor JESUS, habitando em nosso coração
(cf. 1.20,21; Rm 8.10; 1 Co 1.30; Gl 2.20; Ef 3.17; Cl 3.4); no AT o Messias é
referido como o "Renovo justo" e "O SENHOR Justiça nossa"
(ver Jr 23.5,6). Noutras palavras, a justiça que possuímos não é de nós mesmos,
mas de JESUS, em quem colocamos a nossa fé (1 Co 1.30; Gl 2.20). Mediante a
presença dEle em nós, tornamo-nos nEle "justiça de DEUS" (ver 2 Co
5.21). (2) O fundamento da nossa salvação e nossa única esperança de
justificação é a morte sacrificial de CRISTO e seu sangue derramado no Calvário
(Rm 3.24; 4.25; 5.9; 8.3,4; 1 Co 15.3; Gl 1.4; 2.20; Ef 1.7; Hb 9.14; 1 Pe
1.18,19; 1 Jo 4.10) e sua vida ressurreta dentro do nosso coração (ver Rm 4.22;
Rm 4.25; 5.9,10; 8.10,11; Gl 2.20; Cl 3.1-3; ver Rm 4.22).
3.13 UMA COISA FAÇO. Paulo se acha qual um atleta numa corrida (cf. Hb 12.1),
esforçando-se e correndo o máximo, totalmente concentrado no que faz, a fim de
não ficar aquém do alvo que CRISTO estabeleceu para a sua vida. Esse alvo era a
perfeita união entre Paulo e CRISTO (vv. 8-10), sua salvação final e sua
ressurreição dentre os mortos (v. 11). (1) Era essa a motivação da vida de
Paulo. Recebera um vislumbre da glória do céu (2 Co 12.4) e resolvera que sua
vida inteira, pela graça de DEUS, estaria voltada para a resolução de avançar
com toda determinação e finalmente chegar ao céu e ver CRISTO face a face (cf.
2 Tm 4.8; Ap 2.10; 22.4). (2) Semelhante determinação é necessária a todos nós.
No decurso da nossa vida, há todos os tipos de distrações e tentações, tais
como os cuidados deste mundo, as riquezas e os desejos ímpios, que ameaçam
sufocar nossa dedicação ao Senhor (cf. Mc 4.19; Lc 8.14). Necessário é
esquecer-se das "coisas que atrás ficam", i.e., o mundo iníquo e
nossa velha vida de pecado (cf. Gn 19.17,26; Lc 17.32), e avançar para as coisas
que estão adiante, a salvação completa e final em CRISTO.
3.18 INIMIGOS DA CRUZ DE CRISTO. Esses inimigos eram, segundo a melhor
interpretação, crentes professos que estavam corrompendo o evangelho com suas
vidas imorais e falsos ensinos. Uma das razões da grandeza de Paulo era que ele
possuía convicções firmes, cujo coração ficava muito intranqüilo quando o
evangelho era distorcido ou quando as pessoas a quem ele ministrava corriam
perigo de deixar a fé (ver 3.2; Gl 1.9)
3.20 NOSSA CIDADE ESTÁ NOS CÉUS. O termo "cidade" aqui (gr.
politeuma) significa "cidadania" ou "pátria". Paulo
ressalta que os cristãos já não são cidadãos deste mundo: tornaram-se estranhos
e peregrinos na terra (Rm 8.22-24; Gl 4.26; Hb 11.13; 12.22,23; 13.14; 1 Pe
1.17; 2.11). (1) No que diz respeito ao nosso comportamento, valores e
orientação na vida, o céu é agora a nossa cidade. Nascemos de novo (Jo 3.3);
nossos nomes estão registrados nos livros do céu (4.3); nossa vida está
orientada por padrões celestiais, e nossos direitos e herança estão reservados
no céu. (2) É para o céu que nossas orações sobem (2 Cr 6.21; 30.27) e para
onde nossa esperança está voltada. Muitos dos nossos amigos e familiares já
estão lá, e nós também estaremos ali dentro em breve. JESUS também está ali, preparando-nos
um lugar. Ele prometeu voltar e nos levar para junto dEle (ver Jo 14.2,3 notas;
cf. Jo 3.3; 14.1-4; Rm 8.17; Ef 2.6; Cl 3.1-3; Hb 6.19,20; 12.22-24; 1 Pe
1.4,5; Ap 7.9-17). Por essas razões, desejamos profundamente uma cidade melhor,
ou seja: a cidade celestial. Por isso, DEUS não se envergonha de ser chamado
nosso DEUS, e Ele já nos preparou uma cidade eterna (Hb 11.16)
capítulo 4
4.4 REGOZIJAI-VOS... NO SENHOR. O crente deve regozijar-se e fortalecer-se,
meditando na graça do Senhor, sua presença e promessas (ver 1.4).
4.5 PERTO ESTÁ O SENHOR. Devemos crer que o Senhor poderá voltar a qualquer
momento. A perspectiva do NT é de que a volta de JESUS é iminente (ver Lc
12.35-40); logo, devemos estar prontos, trabalhando e vigiando em todo tempo
(Mt 24.36; 25.1-13; Rm 13.12-14).
4.6 NÃO ESTEJAIS INQUIETOS POR COISA ALGUMA. O melhor remédio para a
preocupação é a oração, e isto pelas seguintes razões: (1) Mediante a oração,
renovamos nossa confiança na fidelidade do Senhor, ao lançarmos nossas
ansiedades e problemas sobre aquEle que tem cuidado de nós (Mt 6.25-34; 1 Pe
5.7). (2) A paz de DEUS vem guardar nossos corações e mentes, como resultado da
nossa comunhão com CRISTO JESUS (vv. 6,7; Is 26.3; Cl 3.15). (3) DEUS nos
fortalece, para fazermos todas as coisas que Ele quer que façamos (v. 13; 3.20;
Ef 3.16). (4) Recebemos misericórdia, graça e ajuda em tempos de necessidade
(Hb 4.16). (5) Temos certeza de que todas as coisas que DEUS permite que nos
aconteçam concorrerão para o nosso bem (ver v. 11; Rm 8.28).
4.7 A PAZ DE DEUS GUARDARÁ OS VOSSOS CORAÇÕES. Quando invocamos a DEUS, com um
coração posto em CRISTO e na sua Palavra (Jo 15.7), a paz de DEUS transborda em
nossa alma aflita. (1) Essa paz consiste em uma tranqüilidade interior, que o
ESPÍRITO SANTO nos transmite (Rm 8.15,16). Envolve uma firme convicção de que
JESUS está perto, e que o amor de DEUS estará ativo em nossa vida
continuamente. (Rm 8.28,32; cf. Is 26.3). (2) Quando colocamos diante de DEUS,
em oração, as nossas inquietações, essa paz ficará como guarda à porta de nosso
coração e de nossa mente, para impedir que os cuidados e angústias
perturbem-nos a vida e a esperança em CRISTO (v. 6; Is 26.3,4,12; 37.1-7; Rm
8.35-39; 1 Pe 5.7). (3) Se o medo e a ansiedade retornarem, novamente a oração,
a súplica e a ação de graças nos trarão a paz de DEUS que guarda os nossos
corações. Voltaremos a sentir segurança, e nos regozijaremos no Senhor (v. 4)
4.8 TUDO O QUE É PURO. O crente deve fixar sua mente nas coisas verdadeiras,
puras, justas, santas, etc. Que essa é uma condição prévia para experimentarmos
a paz de DEUS e o livramento da ansiedade, fica claro no versículo 9. Se assim
fizermos, "o DEUS de paz será convosco". O resultado de fixar nossas
mentes nas coisas do mundo será a perda da alegria, da presença íntima e da paz
de DEUS e, nossos corações sem proteção.
4.11 APRENDI A CONTENTAR-ME. O segredo do contentamento, da satisfação, é
reconhecermos que DEUS nos concede, em cada circunstância, tudo quanto
necessitamos para uma vida vitoriosa em CRISTO (1 Co 15.57; 2 Co 2.14; 1 Jo
5.4). Nossa capacidade de viver vitoriosamente acima das situações instáveis da
vida provém do poder de CRISTO que flui em nós e através de nós (v. 13; ver 1
Tm 6.8). Isso não ocorre de modo natural; precisamos aprender na dependência de
CRISTO.
4.13 POSSO TODAS AS COISAS NAQUELE... O poder e a graça de CRISTO permanecem no
crente para capacitá-lo a fazer tudo quanto Ele o mandou fazer.
4.16 MANDASTES O NECESSÁRIO. A igreja Filipense era uma igreja missionária, que
supria as necessidades de Paulo durante suas viagens (1.4,5; 4.15-17).
Sustentar os missionários no seu trabalho em prol do evangelho, é obra
dignificante e aceita por DEUS, "como cheiro de suavidade e sacrifício
agradável e aprazível" a Ele (v. 18). Por isso, aquilo que damos para o
sustento do missionário fiel, é considerado oferta apresentada a DEUS. Tudo que
é feito a um dos irmãos, por pequeno que seja, é feito como ao próprio Senhor
(Mt 25.40).
4.19 SUPRIRÁ TODAS AS VOSSAS NECESSIDADES. Paulo enfatiza o cuidado amoroso de
DEUS Pai pelos seus filhos. Ele suprirá todas as nossas necessidades (materiais
e espirituais), à medida que as apresentarmos diante dEle. O suprimento das
nossas necessidades vem "por CRISTO JESUS". Somente em união com CRISTO
e na comunhão com Ele é que podemos experimentar o provimento da parte de DEUS.
Entre as muitas promessas das Escrituras que confere esperança e encorajamento
ao povo de DEUS, no tocante ao seu cuidado, provisão e socorro, temos: Gn
28.15; 50.20; Êx 33.14; Dt 2.7; 32.7-14; 33.27; Js 1.9; 1 Sm 7.12; 1 Rs
17.6,16; 2 Cr 20.17; Sl 18.35; 23; 121; Is 25.4; 32.2; 40.11; 41.10; 43.1,2;
46.3,4; Jl 2.21-27; Ml 3.10; Mt 6.25-34; 14.20; 23.37; Lc 6.38; 12.7; 22.35; Jo
10.27,28; 17.11; Rm 8.28,31-39; 2 Tm 1.12; 4.18; 1 Pe 5.7.
Filipenses - Introdução e comentário - Ralph P.
Martin, Ph. D. - Série Cultura Bíblica - Vida Nova - www.vidanova.com.br
SAUDAÇÃO DE PAULO 1:1,2
1:1 As primeiras linhas da carta indicam os nomes dos remetentes e recipientes,
de acordo com as antigas convenções sobre a prática epistolar. Contudo, há uma
riqueza de descrição envolvendo os nomes dos homens de DEUS, na fé cristã, que
é singular, nesta carta.
Há um enunciado formal,
enriquecido com significado teológico, pela simples inclusão dos nomes dos
homens de DEUS.
Timóteo é incluído em face de sua associação com Paulo em seu cativeiro;
2:19-24 deixa bem claro, também, que Timóteo tinha uma ligação especial com os
filipenses, e era o emissário de confiança, de Paulo, que brevemente seria
enviado a Filipos. O nome dele é mencionado na saudação como abertura para a
menção posterior dos planos de Paulo, no capítulo 2.
Paulo e Timóteo são chamados pelo título de servos de CRISTO JESUS, para ficar
marcado seu senso de responsabilidade, sob a direção de DEUS.
Este título denota a
autoridade que DEUS lhes deu para falarem e agirem em Seu nome, como Seus
genuínos representantes. “Ser um servo, na linguagem religiosa do judaísmo,
significava ser alguém escolhido por DEUS” (Lohmeyer, sobre 2:7).
“ servo de CRISTO
JESUS”, que é um sinal de seu senso de autoridade apostólica (cf. 2 Co 10:8), o
qual permeia toda a carta.
Não há qualquer
indicação de que o nome de Timóteo aparece porque ele era o amanuense, ao lado
de Paulo, quando a carta foi escrita, como imaginam alguns comentaristas.
A comunidade cristã que
veio a existir em seguida ao “evangelismo inicial” de Paulo, em Filipos (At
16:12ss.), é descrita como todos os santos em CRISTO JESUS que vivem em Filipos.
O plural é intencional,
visto que este adjetivo, aplicado aos crentes em CRISTO, é encontrado em
referência a um grupo, somente, na literatura do Novo Testamento.
A igreja do NT estava bem ciente de seu lugar como sucessora da comunidade
sagrada de Israel (1 Pe 2:9,10) e, mui ousadamente, apropriou-se do título de
“santos de DEUS” como marca deste destino. Contudo, “santidade” não é piedade
fechada, nem distintivo de merecimento. Os crentes são santos em CRISTO JESUS,
isto é, mediante sua união com Ele, que os reivindicou como Seu povo, e que se
tornou a base de sua nova vida (segundo Gnilka).
Paulo destaca, para menção especial, os bispos (RSV na margem, “supervisores”)
e diáconos. Eles são líderes da congregação filipense, e há muita probabilidade
de que a explicação para esta menção, logo ao intróito da carta, é que, de
alguma maneira eles desempenharam um papel importante na coleta da oferta
enviada a Paulo.
Será que eles eram conhecidos como “superintendentes e serviçais”, porque
desempenhavam estes tipos de serviço na comunidade? Ou será que eles eram
oficiais da igreja, no sentido técnico (posteriormente), encontrado nas
epístolas pastorais (1 Tm 3), I Ciem. 42 (cerca de 96 A.D.) e Inácio, Magnes.
6.1, 13.1; Trall. 3.1, 7.2 (início do século II)? Outras cartas paulinas
fornecem evidências do sentido funcional de seus títulos, por ex.: 1
Tessalonicenses 5:12s.; 1 Coríntios 12:28-31; Romanos 12:6-8.
Veja-se
Gnilka (p.
37) quanto a uma discussão crítica deste suposto elo entre o líder sectário e o
episkopos e o diakonos filipenses. Ele conclui, com H. F. von Campenhausen (
Ecclesiastical Authority and Spiritual Power in the Church of the First Three
Centuries, ET Londres, 1968, p. 9) que deveríamos ver na carta o prenúncio do
surgimento de posições eclesiásticas, para as quais seriam nomeados homens
seletos. Quanto a este versículo, veja-se E. Best, “Bishops and Deacons: Phil.
1:1”, em SE IV (ed. F. L. Cross), Berlim, 1968, pp. 371-6.
2. A invocação de graça. . . e paz junta, numa única frase, as duas palavras do
grego e do hebraico, usadas em oração, que viriam desempenhar papel central na
liturgia. No lugar da saudação costumeira (gr. chairein), Paulo vai ao
equivalente grego da palavra, do VT, para misericórdia de DEUS (heb. hesedh) e
acopla-a ao rico desejo hebraico para paz (heb. sãlôm). Isto resulta em
“salvação para o homem integral, tanto do corpo como da alma”, e não apenas
“prosperidade espiritual” (W. Foerster, TDNT ii, pp. 414s.). O dom de DEUS da
“integralidade” vem de Sua graça, tomada conhecida em JESUS CRISTO, o Senhor,
cujo nome aparece com freqüência nesta seção introdutória, dando ênfase
saliente à carta pastoral de Paulo.
ORAÇAO DE PAULO PELA
IGREJA 1:3-ll
3. As orações de Paulo são dignas de serem estudadas em diversos níveis. Suas características
formais tomam emprestado alguns traços do mundo contemporâneo da antigüidade,
no qual a epistolografia incluía orações de agradecimento aos deuses, e
súplicas pela proteção divina. Paulo toma este costume, cristianiza-o à sua
própria maneira, relacionando suas orações ao seu interesse pastoral pelas
igrejas, e seu desejo de ver seus leitores atingir a maturidade em CRISTO.
Quanto à estrutura geral da carta, que inclui, após a saudação (1:1,2), os
elementos de (1) agradecimento (1:3-11), (2) o corpo da carta, que incorpora
uma abertura formal (1:12-18), argumentação teológica, tanto teórica (por ex.:
1:236-26) como prática (por ex.: l:27ss.), conduzindo à promessa de uma
parousia apostólica (2:24) e a seção de “viagens” (2:19-30), (3) paraenesis (ou
exortação) nos capítulos 3,4 e (4) elementos de fecho, como saudações,
doxologia e bênção, veja-se J. L. White, “The Form and Function of the Body of
the Greek Letter: A Study of the Letter-Body in the Non-Literary Papyri and in
Paul the Apostle, Missoula, Montana, 1972.
Estudos recentes têm demonstrado que suas orações, embora dêem a impressão de
explosões expontâneas de afeto e devoção calorosos, con- formam-se com um
padrão estabelecido pela “forma litúrgica de orações da comunidade cristã” (J.
T. Sanders, “The Transition from Opening Epistolary Thanksgiving to Body in the
Letters of the Pauline Corpus”, JBL 81 (1962) pp. 348ss. Veja-se, também, W. G.
Doty, Letters in Primitive Christianity, Filadélfia, 1973, cap. 2). Algumas
características importantes desta estrutura são as ações de graças iniciais (de
acordo com o modelo judeu hôdãvôt, título tirado da frase “eu te agradeço”, que
é costumeiro nas orações judaicas, sendo evidente especialmente no rolo IQH de
Qumran), e um tributo doxológico no final do período de Paulo. O versículo 11
tem a forma: “para a glória e louvor de DEUS”.
Um fator adicional deve ser mencionado, visto exercer considerável influência
na tarefa da exegese, especialmente no versículo 3. Paul Schubert demonstra,
numa conclusão (Form and Function of the Pauline Thanksgivings”, Berlim, 1939,
pp. 71-82) que: (a) nas outras cartas paulinas, exceto Filipenses, a construção
de epi (por) com o dativo (encontrado no versículo 3) invariavelmente introduz
a causa pela qual ele dá graças; e que (b) como nas outras epístolas, o
agradecimento introduz “o tema vital da carta”, ou aquilo que ele chama de
“situação epistolar” (pp. 71,78).
Se esta conclusão é sadia, ela esclarece a maneira problemática como foi
escrito o versículo 3, ajudando a encontrar uma solução. Dou graças ao meu DEUS
por tudo que recordo de vós. A maneira usual pela qual o pensamento de gratidão
de Paulo é tomado é a seguinte: agradeço ao meu DEUS em todas as ocasiões em
que me lembro de vós. Contudo, o grego é passível de um sentido diferente,
demonstrado na tradução de Moffatt: “dou graças a meu DEUS por toda a
recordação que tendes de mim”. A ocasião em que Paulo sentiu-se cheio de
gratidão foi quando a generosidade da igreja filipense lembrou-se dele
(sustentou-o) de maneira prática, com dádivas repetidas (4:15-17). O verso 5 é
um complemento deste pensamento, visto que o 4 é um parêntesis (segundo Light-
foot e Gnilka); o quadro total é bastante impressivo. Paulo expressa sua
gratidão a DEUS pelo sustento dos filipenses, e isto, em seguida, é descrito
como participação deles no evangelho, desde que primeiro se encontraram com
Paulo, até a presente data. Não falta nada para endossar esta interpretação,
salientando-se o fato de Paulo expressar seus agradecimentos pela dádiva de
amor, da igreja, logo no intróito da carta. Seria muito estranho se o apóstolo
deixasse seu agradecimento para o fim, apenas (no cap. 4).
4. fazendo sempre . . . súplicas por todos vós, em todas as minhas orações. Os
filipenses lembraram-se de Paulo em suas necessidades. Em gratidão por este
ativo interesse, bem recentemente demonstrado na chegada de Epafrodito, como
mensageiro dele (4:18), Paulo louva a DEUS e, reciprocamente, assegura-lhes que
está orando por eles. Mais ainda, ele ora com alegria. A alegria irrestrita de
Paulo em meio aos sofrimentos é um dos temas de sua carta.
5. Ele fornece, agora, a segunda razão de sua gratidão. Ele dá graças pela
vossa cooperação no evangelho. Esta frase introduz um dos termos de Paulo,
koinõnia, cooperação. Há diversas nuances de significado, para o termo, cada
uma dependendo do contexto. Uma sugestão, proposta e defendida por H. Seesemann
(Der Begriff KOINÕNIA im Neuen Testament, Giessen, 1933, pp. 73-83), é que o
sentido especial de “cooperação”, neste versículo, é “compartilhamento da fé”.
Seesemann não vê, aqui, nenhuma referência às dádivas dos filipenses a Paulo, e
considera koinõnia equivalente à sua fé em CRISTO, que a pregação do evangelho
evocou no “primeiro dia”, isto é, o evangelismo inicial de Paulo. Ele insiste
em que koinõnia, com a frase preposicional eis to evangelion deve ter este
sentido, e referir-se a um objetivo, e trabalho divino, em que os fílipenses
teriam tido participação (Teilnahme, Anteilhaben são os termos de Seesemann
para descrever koinõnia). Isto concorda com o ponto de vista de Lohmeyer
(Kommentar, p. 17), pelo qual ele argumenta que koinõnia, em Paulo, nunca se
refere a um jugo que une os crentes, mas, refere-se à participação num assunto,
isenta de experiência subjetiva, uma “realidade objetiva”, como ele a denomina.
De modo alternativo, podemos, também, presumir que é difícil evitar-se a
verificação de algum elemento subjetivo no elogio de Paulo à kainõnia
filipense, não apenas no começo, mas, até o presente. Parece que isto concorda
plenamente com o sentimento de 4:15. Eles haviam repetidamente mostrado
interesse pelo evangelho, através de sua contínua ajuda a Paulo; é, pois, sua
“generosidade”, isto é, a categoria de Seesemann de Mitteilsamkeit, que está em
vista.
Os paralelos são encontrados em Romanos 15:26 e 2 Coríntios 9:13, e a aplicação
específica de sua atitude generosa é vista na expressão prática deles, naquilo
que enviaram a Paulo, repetidamente, a fim de ajudar a obra do evangelho, isto
é, a missão apostólica. Em 2 Coríntios 8:7 fala-se do sacrifício dos macedônios
em suas dádivas, salientando-se, sobremaneira, sua constância e fidelidade,
para com Paulo e seu trabalho. Contudo, esta interpretação é diferente da de
L.—M. Dewailly (“La Part Prise a l’Evangile. Phil. 1.5”, RB 80 (1973), pp.
247-60) para quem o uso paulino do termo koinôn em 1:5 e 4:15 implica numa
cooperação no evangelho, e uma cooperação na graça do apostolado de Paulo.
Parece que Paulo nunca falou de apostolado desta maneira coletiva, mas
considera sua vocação como singular, embora sustentada pelos crentes que o
ajudaram a cumpri-la.
6. desde o primeiro dia lembra a fundação da igreja de Atos 16. Paulo é
lembrado de que a origem da igreja, embora proveniente de sua pregação e
trabalhos pastorais, deve ser traçada diretamente a DEUS, que começou boa obra
no meio deles. Alguns comentaristas preferem tomar a alusão a boa obra como
sendo a participação da igreja no ministério apostólico, através de suas
ofertas, ou a “cooperação e o afeto deles para com o apóstolo”, como diz
Lightfoot. Em 2 Coríntios 8:6 há quase os mesmos verbos, “começar” e
“completar”, referindo-se à administração de Tito, do fundo de socorro para a
igreja de Jerusalém. Contudo, muito mais aceitável é a interpretação de que
Paulo está suprindo uma cobertura teológica, para sua confiança em que a igreja
filipense será preservada até o final dos tempos, até ao dia de CRISTO JESUS.
Ele é levado a esta consideração ao refletir sobre como a igreja começou no
primeiro dia, e este trabalho de DEUS é descrito de forma tal, que lembra a
criação de Iavé (Gn 2:2,3, LXX; II Esd. 6:38: Ó Senhor, tu disseste no primeiro
dia: “sejam criados os céus e a terra”, e tua palavra realizou o trabalho;
6:43: Porque tua palavra saiu e a obra foi feita imediatamente). Mais ainda, a
obra de Iavé foi considerada “. . .tudo. . . muito bom” (Gn 1:13). Paulo
conhecia o ensino do VT que une o trabalho de DEUS, no começo, com Seu
propósito de levá-lo ao final (por ex.: Is 48:12s.); e ele aplica isto a uma
comunidade que precisa de redobrada segurança, em face das ameaças e temores
(1:28,29).
7. Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós. E adequado para Paulo que
ele expresse esta convicção, como um assunto já estabelecido, em sua mente (o
verbo pensar gr. phrotein) é uma palavra chave nesta epístola; significa uma
combinação de atividades intelectuais e afetivas, que toca tanto a mente como o
coração, e conduz a uma ação positiva). O objeto a que se dirige este forte
senso de interesse e confiança é a segurança da igreja, a despeito dos assaltos
assacados contra ela pelas forças hostis. É o reconhecimento desta oposição que
inspirou a E. Lohmeyer aquilo que ele considera o tema central da carta: Paulo,
o prisioneiro, escreve um panfleto de conforto a uma comunidade cristã sitiada
e perseguida, que sofre uma provação similar à do próprio apóstolo (1:30). O
ponto de vista de Lohmeyer se desvanece, se o tomarmos como uma tese que
explique o principal propósito da carta; contudo, não se pode negar que há
alguma verdade naquela assertiva, se vista à luz do presente versículo.
porque vos trago no coração. O relacionamento de Paulo com seus leitores é
caloroso e terno. Ele prende a todos num abraço apertado, cheio de afeição
(veja-se o v. 8).
todos sois participantes da graça comigo. O fator mais importante, numa
situação total que o inspira com confiança, a respeito do futuro da igreja, é
que ele sabe que tanto ele próprio, como a igreja, são co-participantes de uma
realidade comum, a graça de DEUS. Esta afirmação é inesperada, havendo razão
para denominá-la de “paradoxo genuinamente paulino” (Dibelius). Torna-se claro
que tanto o apóstolo como a igreja são co-participantes de sofrimento e
conflito; o inusitado é a percepção agora expressa, por Paulo, de que eles
estão juntos, associados na graça divina. Mediante isto, a igreja é sustentada
e encorajada a resistir. Graça aqui, tem o significado de força de DEUS tornada
disponível para Seu povo, em sua fraqueza e necessidade (veja-se 2 Co 12:9).
As algemas de Paulo não foram uma punição que ele trouxera sobre si próprio.
Ele era um prisioneiro em razão de sua vocação como apóstolo de CRISTO. Como
tal, ele constantemente era chamado para engajar-se na defesa e confirmação do
evangelho. Estes dois substantivos podem muito bem sugerir os dois lados de seu
trabalho apostólico. “Defender o evangelho” poderia significar sua
responsabilidade em desarmar o preconceito, e vencer as objeções à mensagem
(cf. 2 Co 7:11). Paulo foi chamado, de maneira positiva, para “confirmar” a
pregação, mediante sua declaração ousada e franca. Entretanto, ambos os termos
gregos (apologia, bebaiõsis) são parte de um vocabulário legal, confirmado nos
manuscritos, sendo muito provável que deveríamos conferir um sentido técnico ao
uso daquelas palavras, neste texto. A esperança firme de Paulo é que tanto ele
quanto seus leitores estão seguros, sob a guarda de DEUS, podendo utilizar Seus
recursos, mesmo estando ele em algemas, e prestes a testemunhar, durante o
processo a que responde. Veja-se H. Schlier, TDNT i, p. 603.
8. Pois minha testemunha é DEUS, da saudade que tenho de todos vós, na tema
misericórdia de CRISTO JESUS. À medida que lemos este versículo, abre-se uma
janela no profundo relacionamento de Paulo com seus convertidos. Ele abandona,
de forma espantosa, o costume rabínico de evitar o uso do nome de DEUS numa
assertiva tão solene, e invoca DEUS para ser testemunha de que ele nutre um
profundo desejo de reunir-se a seus amigos em Filipos. O verbo grego
epipothein, traduzido aqui por ter saudade, é freqüentemente usado por Paulo
para denotar seu desejo de ver seus amigos crentes (Rm 1:11; 1 Ts 3:6; 2 Tm
1:4) .Veja-se C. Spicq, “Epipothein, Désirer ou Chérir?” RB 64.2 (1957), pp.
184-195; e o comentário sobre 2:26. Este intenso anseio por estar reunido à
igreja, em comunhão, e que evidentemente significava tanto para o apóstolo
(veja-se 4:1, onde há um sentimento semelhante), é descrito, agora, como nada
menos do que o amor de CRISTO expressando-se através de Paulo. É Lightfoot quem
comenta: “seu pulso bate com o pulso de CRISTO; seu coração pulsa com o coração
de CRISTO.” Este é um dos mais tocantes exemplos, talvez indireto, do
“misticismo” de Paulo, que é outro nome para a íntima união que ele
experimentava com o Senhor ressurreto, em espírito (cf. 2 Co 3:17,18). Veja-se
J. D. G. Dunn, 2 Corinthians iii.17 — “ ‘The Lord is the Spirit’ ” JTS 21 n.s.
(1970), pp. 309-20. Ele
confessa, aqui, que sua união com CRISTO não é um evento privativo, mas
estende-se de modo a abraçar os crentes, também. Observe-se a freqüente repetição
de todos, nestes versículos (4,7, duas vezes, e 8) a fim de enfatizar o
“inclusivismo” da atitude de Paulo, em contraste, talvez, com o espírito
faccioso da congregação Filipense.
9. Entretanto, o anseio de Paulo por ver os filipenses deve, pelo menos no
presente, ficar não-atendido. Ele espera que, mui brevemente, seja ele
satisfeito (2:24). O confinamento numa prisão impede-o de realizar seu anseio
de imediato. Assim, Paulo, mesmo à distância, cumpre um ministério pastoral de
oração.
Os versículos seguintes encorporam a substância de suas orações, de que já se
falou no versículo 4. As palavras usadas são ligeiramente diferentes. O
versículo 4 tem o grego deèsis; agora, ele usa um verbo (faço esta oração) de
que se deriva o substantivo proseuchê. Contudo, a distinção é ligeira. “Somente
com grande reserva podemos fazer distinção, e dizer que proseuchê denota
oração, de forma abrangente, enquanto deèsis poderia ter, também, o sentido
específico de oração peticionaria” (H. Greeven, TDNT ii, p. 807).
É mais importante observar a função das orações de Paulo, pelas igrejas. Elas
estão incorporadas em suas cartas, não apenas para fornecer amostras, ou
exemplos, de orações mas, têm, também, um propósito exortativo, pois, encorajam
seus leitores a agir segundo o pedido contido nas orações. São, assim, um tipo
de paraklèsis (segundo Gnilka).
amor neste contexto é, aparentemente, o amor mútuo entre os crentes (cf. 1 Ts
3:12; cf. 4:9). Contudo, é dom de DEUS, e sinal de Sua graça na era messiânica,
que veio substituir a religião da Torah (cf. Collan- ge). Paulo roga que esta
virtude, na vida humana, cresça e se desenvolva, em pleno conhecimento e toda a
percepção. Estes termos, e também a expressão de Paulo as coisas excelentes (v.
10) são comuns entre os filósofos morais, helenísticos, tais como Epicteto e
Plutarco, os quais usam este vocabulário no duplo sentido: o de uma apreensão
intelectual daquilo que é bom, na vida, e o da escolha moral, que determina o
curso de ação da pessoa. Para o cristão, a mola mestra, tanto de seu
conhecimento daquilo que é excelência moral, como de seu desejo de traduzir a
aprovação em ação, é o amor. A oração de Paulo é para que os filipenses possam
expressar seu amor em seus relacionamentos mútuos, à medida que vão
reconhecendo aquilo que precisa ser feito, numa determinada situação e, em
seguida, aplicar o conhecimento. Talvez seu olho já estivesse focalizando uma
comunidade onde havia tendência para o egoísmo, desunião, e acusação mútua
(2:2; 2:14; 4:lss.). Uma das características tristes desta igreja era a
confusão nos assuntos morais, que os tornava presa fácil dos mestres sectários,
que são condenados no capítulo 3. Veja-se a Introdução, p. 45.
10. Dois resultados seguem-se pelo cultivo destas virtudes. Um deles é que os
filipenses possam aprovar as coisas excelentes, e em seguida, ao nível do
caráter cristão, que possam ser sinceros e inculpáveis, preparando-se para o
dia escatológico da prova (Rm 2:16).
O verbo aprovar (gr. dokimazein) significa “pôr sob teste” (1 Ts 5:21) e depois
“aceitar quando testado”, ou “aprovar”. Como termo comercial, era usado para
denotar o teste de moedas. As que eram “aprovadas”, eram dinheiro genuíno,
não-falsificado. A idéia de “teste” era, evidentemente, algo muito familiar, e
favorito, para Paulo (veja-se Rm 12:2; 1 Co 3:13; 11:28; 2 Co 8:22; 13:5; G1
6:4; 1 Ts 2:4).
O objeto do verbo, neste contexto, poderia ser traduzido como “as coisas que
diferem”. Entretanto, a referência paralela em Rm 2:18 sugere que a expressão
derivaria da filosofia helenística corrente (veja-se A. Bonhõffer, Epiktet und
das Neue Testament, Berlim, ed., 1964 pp. 298ss., referindo-se a Epicteto,
Diss. I. 20, 7: “a maior tarefa do filósofo é testar as impressões e
discriminá-las”) e seria, então, traduzida: “as coisas que realmente
interessam, ou importam” (AG). Cf. a tradução de Moffatt: “um sentido daquilo
que é vital”. A idéia é que os leitores de Paulo possam ter a habilidade de
discernir, e depois praticar, em suas vidas coletivas, como crentes, os
assuntos realmente importantes do viver comunitário. Lohmeyer apela, como algo
muito importante aqui, para o pano de fundo judaico que mostra que o judeu
deveria escolher o que era essencial, na vida, de acordo com a Torah. Para o
cristão, a Torah foi substituída pelo amor (v. 9), como critério
importantíssimo para o julgamento moral. (Veja-se D. Bonhoeffer, Ethics, ET
Londres, 1955; na ed. 1965, pp. 49-54.)
A chamada aos filipenses é para serem sinceros e inculpáveis, simultaneamente.
Talvez estes adjetivos devam ser tomados de modo complementar, o primeiro
sugerindo um elemento positivo, de autenticidade, e o segundo,
assegurando-lhes, negativamente, que não deveria haver falta em seu caráter.
Estes adjetivos são encontrados juntos em 1 Ciem. 2:5. sinceros (gr.
eilikrinês) denota pureza moral, não ritual (veja-se F. Büchsel, TDNT ii, pág.
397ss.). Em todo o NT, só aqui, e em 2 Pe 3:1, é que se encontra esta palavra.
Moffatt traduz por “transparentes”, baseado numa derivação pela qual a palavra
viria de heilè (luz do sol), isto é, “testado pela luz do sol” (Müller,
Commentary, p. 46).
inculpáveis pode carregar um sentido transitivo: “que não causa ofensa” para
outra pessoa (cf. 1 Co 10:32; At 24:16).
11. fruto de justiça é uma frase que pode ser entendida de duas maneiras
diferentes, dependendo da força do genitivo. Primeiramente, significa: “fruto
que consiste em estar relacionado retamente com DEUS”. Justiça é considerada
como pertencendo “à estrutura da metáfora forense, comum, de Paulo — é a
condição de absolvição que DEUS graciosamente concede através de CRISTO”
(Houlden; cf. Collange). A maior parte dos comentaristas prefere outro ponto de
vista, segundo o qual se deve ver na frase um sentido ético. Paulo está orando
para que seus leitores vivam vidas que produzam uma colheita de qualidades
morais, num viver correto, sendo isto o “fruto do ESPÍRITO” (G1 5:22), o qual é
possível mediante a união com JESUS CRISTO (veja-se J. A. Ziesler, The Meaning
of Righteousness in Paul, Cambridge, 1972, pp. 151, 203) . Ambas as interpretações,
tanto a absolvição forense, como a vida digna da profissão de fé do cristão,
são importantes, em vista do “dia de CRISTO”, quando todos os segredos serão
conhecidos, e as vidas dos homens trazidas para o teste último, perante o juízo
final. Esta alusão ao dia do julgamento refere-se à parousia, no versículo 6.
A oração de Paulo encerra-se com uma nota que caracteriza as orações tanto dos
judeus como dos primitivos cristãos. Para a glória e louvor de DEUS não faz
parte da oração apostólica mas, é empréstimo litúr- gico, adicionado para
concluir o período de ação de graças.
Para um estudo recente dos versículos 3-11, veja-se: G. P. Wiles, Paul’s
Intercessory Prayers, Cambridge, 1974, pp. 202-15, e P. T. O’Brien, Pauline
Thanksgivings, Leiden, no prelo.
A AMBIÇÃO DE PAULO PELO EVANGELHO 1:12-26
Esta longa seção forma uma unidade e é dominada por um tema central. Os
comentaristas concordam, em geral, em que o centro de gravidade está no
versículo 18, no dominante interesse de Paulo em ver CRISTO proclamado. Ele
alimenta esta ambição não simplesmente como um indivíduo particular, mas como
um apóstolo, cujas atuais circunstâncias de confinamento estão ligadas ao
destino do evangelho, cuja mensagem ele foi encarregado de proclamar (segundo
Gnilka). Por esta razão, ele devota grande parte de seus escritos à insistência
em que o evangelho não está em perigo, por causa de sua prisão, e também à
explicação sobre por que ele sofre — como que refutando a insinuação de que ele
não é um verdadeiro apóstolo, visto que está sofrendo. Ele passa por cima de
muitas questões sobre suas circunstâncias pessoais, que nos interessariam ver
esclarecidas. Há uma obscuridade atormentadora nestes versículos, sobre os
quais podemos apenas conjecturar, na busca de soluções para alguns problemas de
identificação e pano de fundo. Contudo, o principal assunto (para Paulo) não
está em dúvida: CRISTO está sendo proclamado, e Sua mensagem será pregada, seja
qual for o destino de Paulo, como prisioneiro.
12. A linguagem do versículo dá a entender que Paulo desejava assegurar aos
filipenses que tudo estava bem com ele. Talvez tivessem manifestado alguma
preocupação quanto a ele, através da visita de Epa- frodito (2:25). Quero
ainda, irmãos, certificar-vos é a confiança de Paulo, expressa numa fórmula
declarativa (J. L. White, The Body of the Greek Letter, pp. 121s.); mas, ele
não se desvia para mencionar suas necessidades pessoais. Seu interesse se
focaliza em entregar uma declaração de defesa pessoal de seu apostolado, e em
relatar o progresso do evangelho. 0 termo grego traduzido por progresso (gr.
prokopé) significa, mais especificamente, “avanço a despeito de obstruções e
perigos que bloqueiam o caminho do viandante”. Como termo de filosofia moral,
tem uma longa história (veja-se TDNT vi, pp. 704-7, 710s.) e “parece que Paulo
cunhou estas declarações”, neste versículo, e em 1:25, para seus próprios
propósitos (loc. cit., p. 712). Certamente, são declarações expressivas.
13. Paulo vai mais longe, mostrando como a obra missionária progrediu, a despeito
da terrível oposição externa. Sua prisão tomou-se conhecida de todos ao seu
redor, e todos reconhecem que ele é um prisioneiro por causa de sua entrega à
causa de CRISTO, isto é, ele não é um malfeitor civil, nem preso político.
Tampouco é seu trabalho apostólico posto em dúvida somente porque ele é um
apóstolo sofredor. Bem ao contrário.
de toda a guarda pretoriana e de todos os demais — eis a esfera em que o
testemunho de Paulo é eficiente. A segunda parte da frase refere-se,
claramente, a pessoas, e assim fixa o significado de praitõrion (palavra
emprestada do latim, praetorium, ao grego). Refere-se, pois, não à residência
imperial, ou à do governador, mas, à guarda do imperador, ou à corte pretoriana
estacionada na metrópole. (Segundo, mais recentemente, B. Reicke, “Caesarea,
Rome and the Captivity Epistles”, em Aposto- lic History and the Gospel, ed. W.
W. Gasque e R. P. Martin, Exeter, 1970, p. 283), ou à guarda senatorial de
plantão na capital provinciana de Éfeso (veja-se Dibelius, p. 55), ou Cesaréia,
ou mesmo Corinto. Veja- se atrás, na Introdução, pp. 51, 64.
Segundo a RSV, que segue Lightfoot (Commentary, pp. 99-104), a guarda estava em
Roma. Seriam trazidos em contato com Paulo no decorrer de seus deveres de
supervisão, embora, visto haver 9.000 pretorianos, torna-se difícil, senão
impossível, imaginar que um prisioneiro fosse conhecido de todos eles. Talvez,
então, neste ambiente, não deveríamos tomar esta referência como abrangendo
toda a guarda pretoriana, de maneira literal (cf. McNeil-Williams,
Introduction, 2a ed., Oxford, 1953, p. 181); ou, talvez não seja a guarda
pretoriana em Roma, a que está em mira, como argumentam os que defendem a
hipótese do cativeiro de Paulo nas províncias.
todos os demais abrange um círculo mais amplo, provavelmente de pagãos, os
quais ouviram do cativeiro de Paulo, e a razão do mesmo.
14. Como segunda conseqüência das notícias de sua prisão, outras pessoas dentro
da comunidade cristã estão recebendo novo estímulo para o trabalho de
evangelização. O texto grego da frase a maioria dos irmãos indica um contraste
com o grupo de pessoas mencionadas no versículo anterior (veja-se BDF, sec.
244.3). Os crentes descobriram uma nova fonte de energia (tomando-se
estimulados no Senhor) e são encorajados, pelo exemplo de Paulo, a falar mais
ousadamente, em testemunho da palavra de DEUS, isto é, a mensagem apostólica.
Outra interpretação do texto abre-nos uma visão diferente. Esta leva-nos a
tomar a frase de Paulo, no grego (hoi pleiones), e fazê-la significar “a
maioria” (mas, não todos) em referência aos pregadores cristãos no lugar do
cativeiro de Paulo. Isto significaria que nem todos ficaram positivamente
estimulados pela presença de Paulo, o apóstolo aprisionado, o que daria lugar a
uma divisão, mencionada nos versículos 15-17. Seja qual for o caso, são
pregadores cristãos (irmãos); este título suporta a primeira interpretação,
segundo a qual a presença de Paulo, e seu comportamento na prisão exerceram
efeito salutar sobre a comunidade cristã em geral, ao seu redor.
15-17. Eis uma seção importante da carta, que suscita diversidade de
interpretações. Parece haver alguma tensão com o versículo anterior, 14. Ali,
Paulo escrevera aprovando entusiasticamente os pregadores que se fortaleceram
pelo testemunho do apóstolo, na prisão, e que se lançaram, então, em ativa obra
missionária. Agora, ele precisa comentar, tristemente, que nem todos estão
motivados pelas melhores intenções. Alguns efetivamente proclamam a CRISTO por
inveja e porfia, movidos por motivos de discórdia, insinceramente, julgando
suscitar tribulação às minhas cadeias. O problema é se podemos identificar este
grupo ao lado dos demais, que sustentam Paulo, interessados em exercer seu
ministério por amor ao apóstolo.
0 pequeno texto dos versículos 15-17 é formado artisticamente; compõe-se de
declarações paralelas, antitéticas, à maneira do dispositivo retórico, grego,
denominado chiasmus. Obviamente é uma unidade completa. Contudo, não pode ser
destacada do contexto imediato, e tratada como dissertação, como propõem alguns
comentaristas alemães. Tampouco existe muito que favoreça a descrição que
Lohmeyer faz dos pregadores rivais, como sendo heréticos. Paulo não condena a
substância de sua pregação. A triste observação do apóstolo refere-se aos
motivos por que pregam a CRISTO.
T. Hawthorn (“Fp 1:12-19, com referência especial aos versículos 15, 16 e 17”,
ExpTèl (1950-1), pp. 316s.) tenta destacar esta pregação da controvérsia
religiosa, e ver no texto pregação às autoridades civis da cidade onde Paulo
está preso (presumivelmente Roma). Estes homens estão proclamando uma mensagem
anti-imperial (talvez revestida de estilo revolucionário, semelhante à alegação
de At 17:7,8), e assim, estão estimulando um conflito com as autoridades
romanas. Estão provocando perseguição, e convidando o martírio, inspirados pela
crença de que o sofrimento deve ser suportado, antes do final dos tempos, que
eles se interessam em apressar. Desta forma, estão tomando difícil a vida de
Paulo, em seu trato com as autoridades.
Esta interpretação do texto tende a transformar os termos inveja e porfia em
vícios anti-sociais. Mais provavelmente os termos pertencem ao mundo dos
crentes que estariam vilmente envenenados contra Paulo, não contra o império
romano, nem contra seus companheiros e irmãos na fé (assim julga T. W. Manson,
Studies in the Gospels and Epistles, ed.M. Black, Manchester, 1962, pp. 161
ss., que localiza o cenário desta pregação contenciosa em Corinto, onde Paulo é
prisioneiro à época da redação da carta. 1 Co 1-4 fala do espírito de facção e
contenda deles), nem contra os judeus (segundo F. G. Synge, Commentary, pp.
24s., que pensa que estes homens estão deliberadamente antagonizando os judeus
por aquilo que estes fizeram a Paulo). Contudo, Paulo jamais aprovará tal tipo
de pregação (v. 17).
Parece que se objetiva um grupo de pregadores cristãos que desdenham de Paulo,
porque ele é um apóstolo em cadeias; eles se inspiram em pensamentos de inveja
e animosidade contra Paulo, porque parece que ele colocou em dúvida a mensagem
cristã, por sua fraqueza, como prisioneiro, e prejudicou seu progresso no
mundo. A porfia deles, contudo, não é dirigida contra o apóstolo, pessoalmente;
ao invés disso, eles apresentam uma estratégia missionária, rival, que excede
em poder, comprova sua reivindicação mediante um triunfalismo sobre toda e
qualquer oposição, e gloria-se no sucesso. Com efeito, eles vêem a si mesmos
como “homens de DEUS”, semelhantes aos professores e pregadores itinerantes,
religiosos, os quais eram figuras familiares no mundo antigo greco-ro- mano.
Esta compreensão dos inimigos de Paulo é proposta por R. Je- wett (“conflicting
Movements in the Early Church as Reflected in Phi- lippians”, NovT 12 (1970),
pp. 362-90). O mérito desta interpretação é que ela ilumina outras referências
à situação de Paulo na cidade de sua detenção.
A réplica de Paulo é multifacetada. Ele é grato pela lealdade daqueles que vêem
o verdadeiro significado de sua prisão. Ele ainda está ativo, testemunhando, e
é sua fidelidade ao evangelho apostólico que lhe trouxe aqueles sofrimentos (v.
16). Ele está incumbido por DEUS (o gr. keimai é um termo teológico, que
enfatiza que seu trabalho é determinado por comissão divina (cf. Lc 2:34; 1 Ts
3:3; possivelmente 1 Jo 5:19) e não está aqui devido a qualquer ação temerária
(alegação que poderia bem ter circulado), nem porque ele esteja isento de
sofrimento, como os “verdadeiros apóstolos” poderiam alegar. Se os pregadores
rivais estivessem reivindicando atributos irregulares, para o ministério deles
(talvez, como sugere Jewett, ousando adotar para si mesmos o título de
“manifestados por DEUS”, como sendo nomeados pelo Senhor, como mensageiros),
então, Paulo contra-atacaria observando que suas insígnias e suas credenciais
são as cadeias que ele porta (v. 13): suas cadeias são manifestas (gr.
phanerous), ou “conhecidas”, pois, são usadas por um cristão).
18. Assim, ele resume
sua reação à situação criada por um segmento hostil da igreja ao redor.
Todavia, que importa? (assim BDF, sec. 299.1). Ele está indiferente a esses
ataques contra si próprio, como se fora um homem sem reputação, ou um falso
apóstolo. Sua única preocupação é a pregação de CRISTO; este fato enche-o de
alegria, tanto pelo presente como pelo futuro.
19. sim, sempre me regozijarei. Renova-se aquela expectativa de alegria futura.
Paulo retorna, agora, ao assunto de seu destino, como prisioneiro, ou pelo
menos ao seu desejo de ser uma testemunha, em seu confmamento. Seu regozijo
está baseado, não em algum cálculo humano, mas, em sua confiança na ajuda de
DEUS. Nesta esfera, pode ele contar com dois tipos de assistência: um deles é
humano (vossa súplica), enquanto o outro vem diretamente de DEUS (pela provisão
do ESPÍRITO de JESUS CRISTO). Paulo exprime com tocante minúcia ambos os tipos
de assistência que ele, com alegria, pode avocar. A súplica dos fili- penses
(gr. deèsis) é resposta à sua súplica a favor deles (v. 4). A provisão (ARC,
socorro) do ESPÍRITO SANTO sugere um revestimento, e fortalecimento de sua
vida, de tal forma que sua coragem não lhe falhará; e nem será, seu testemunho,
prejudicado (v. 20), seja qual for o resultado do processo contra ele. 0
substantivo epichorêgia pertence a vários mundos: nos contratos de casamentos,
conforme evidências nos manuscritos, significa “prover uma esposa”; em
terminologia médica, o verbo pode ser usado para o “ligamento que funciona como
suporte” (Ef 4:16; Cl 2:19); e nos festivais do drama ateniense é usado para
guarnecimentos do coro. A ajuda do ESPÍRITO é nada menos que o poder de CRISTO
disponível para Seu povo (E. Schweitzer, TDNT vi, p. 417).
Mediante esta ajuda combinada, Paulo espera obter sua libertação, (gr.
sõtèria). Alguns comentaristas vêem esta esperança como que centralizada na
confiança de Paulo concernente à sua “libertação ou salvação eterna” (G.
Friedrich, ad loc.; J. L. Houlden, p. 64). Como outra alternativa, a palavra é
equivalente à sua expectativa no tribunal. Ele espera que sua confiança em DEUS
seja honrada, e seu testemunho da fidelidade divina será confirmado pela virada
dos eventos. Mas, isto não é a mesma coisa que a esperança de libertação da
prisão, porque no versículo seguinte ele entrevê a possibilidade da morte.
J. H. Michael (Commentary, ad loc.) argumenta a favor da segunda alternativa,
observando que a frase de Paulo é citação de Jó 13:16: “isto será a minha
salvação” (a LXX diz exatamente as palavras de Paulo, no grego). Paulo tem
confiança em que, quer seja ele absolvido ou não, sua posição em CRISTO será
sustentada; Jó expressou confiança semelhante, de que sua confiança seria
validada por DEUS (13:18) Veja-se: Gnilka e Collange, ad lo c.
A presença de Paulo no tribunal, durante o processo, perante seus juizes
(veja-se o v. 7), será, também, uma ocasião para sustentação do evangelho.
Nessa ocasião, será ele sustentado pelo ESPÍRITO que JESUS prometera aos
discípulos, quando levados perante seus acusadores (Mc 13:11; Lc 12:11,12).
20. segundo a minha ardente expectativa e esperança. Paulo ainda mantém seu
olho no futuro, no tempo da prova que há de vir. Uma perspectiva que encheria a
maioria das pessoas com pressentimentos e alarmes, é, de fato, ardentemente
aguardada por Paulo. A palavra apoka- radokia (ardente expectativa) é bastante
pitoresca, denotando um estado de antecipação viva do futuro, o esticar do
pescoço para captar um vislumbre daquilo que jaz à frente, “a esperança
intensa, concentrada, que ignora outros interesses (apo), e força-se para a
frente, como que esticando a cabeça (kara, dokein)” assim a descreve muito bem
H. A. A. Kennedy (Commentary, ad loc.). É, assim, uma atitude positiva para com
aquüo que o futuro possa trazer, um significado comprovado no uso secular do
verbo grego. Veja-se o estudo de G. Bertram, “APOKARADO- KIA (Phil. I, 20)” ZNW
49 (1958), pp. 264-70.
A perspectiva alegre de Paulo é governada por várias considerações. Ele confia
em que sua coragem não sucumbirá ao temor; ao contrário, ele deseja que sua
prova seja enfrentada com nova coragem (gr. parrhèsia, literalmente: “ousadia
ao falar em público”). Acima de tudo, ele almeja que seja CRISTO engrandecido.
O contraste: em nada ... envergonhado... o Senhor glorificado (gr.
megalynthèsetai) é comum no Saltério do VT, e no rolo Hinário de Qumran, por
ex.: IQH 4.23s.:
Eles não me estimam [para que Tu possas] manifestar Teu poder (isto é, fazer-Te
grande) através de mim.
Tu Te tens revelado a mim, em Teu poder, como perfeita Luz, e não tens coberto
minha face com vergonha. Cf. Vermes, p. 162).
A honra de CRISTO será
alcançada, continua Paulo, numa sublime indiferença para com aquilo que a nós
parece, hoje, assuntos de suma importância, quer pela vida, quer pela morte.
Tanto um como outro destino têm que ver com sua existência física; contudo, é
muito provável que Paulo diz no meu corpo, incluindo sua vida total, como ser
humano responsável, e servo de DEUS (cf. Rm 12:1, quanto ao sentido inclusivo
de sõma, denotando “o homem todo, e não apenas uma parte. .. [e também] a
esfera em que o homem serve”: veja-se E. Schweizer, sua importante discussão do
assunto em TDNT vii, pp. 1065s.).
21-24. Agora, numa série de declarações contrastantes, que poderiam ser
dispostas em paralelismos, Paulo apresenta as alternativas que se lhe deparam.
O esquema está cuidadosamente delineado sob a forma de manchetes, mas a sintaxe
que tornaria o texto inteiramente inteligível, como se fora uma peça redatorial
unificada, está partida. Entretanto, o esboço daquilo que estava na mente de
Paulo é bem claro, como se vê:
a. Vida: para mim é CRISTO (v. 21a)
b. Morte: é lucro (v. 21 b)
c. Vida: se o viver.. . (v. 22)
d. Morte: estou... tendo o desejo de partir e estar com CRISTO (v. 23)
e. Vida: minha responsabilidade pastoral exige minha contínua presença (v. 24)
Cada uma destas declarações encaixa-se numa corrente progressiva de pensamento,
à medida que a mente de Paulo vai levantando as possibilidades. Em certo
sentido, ele está sopesando apenas assuntos teóricos, porque sua vida ainda
está sob risco, e sob a misericórdia de seus captores. Entretanto, como
cristãos, e como apóstolo, ele sabe que sua vida gravita na esfera do controle
soberano e providencial, de DEUS, onde nenhuma força maligna pode tocá-lo,
senão mediante permissão divina. A verdadeira questão resume-se em decidir que
tipo de “libertação” (v. 19) é melhor esperar. Se as orações dos filipenses, em
prol de sua sobrevivência, forem atendidas, pode Paulo esperar um prolongamento
de sua obra missionária (fruto para o meu trabalho), e uma possível volta a
Filipos, para reassumir seus vínculos pastorais com a igreja ali (v. 26). Se,
entretanto, o veredicto lhe é desfavorável, significará sentença de morte, o
fim de sua vida aqui. Mas, este pensamento não causa horror a Paulo, visto que
muitos “fins” desejáveis seriam atingidos mediante este evento: seu martírio
será lucro, porque CRISTO será honrado, neste ato, e Sua mensagem proclamada (v.
21), e seu anseio pessoal será atendido quando ele entrar em comunhão mais
profunda com seu Senhor, além do véu (v. 23).
A escolha deriva de um dilema genuíno, como a pressão de forças opostas. Ele
está “fechado dos dois lados” (tradução de Lightfoot para o v. 23). O verbo
synechomai sugere a idéia de controle total, submissão a forças que, neste
caso, são tão bem equilibradas, em sua competição, que Paulo está sob pressão
igual de ambos os lados (veja-se H. Kôster, TDNT vii, p. 883s.) e não pode
libertar-se. Se a questão fosse deixada à sua inclinação natural, a opção seria
clara: ele escolheria a morte (partir) como um mártir (o aoristo infinito to
apothanein tem em vista tal destino) e assim, estar com CRISTO.
partir (gr. analysaí) não deve ser interpretado como um anseio por
imortalidade, a qual os gregos procuravam atingir mediante o derramamento do
corpo físico, permitindo, assim, que o espírito escapasse de sua prisão. A
metáfora do verbo poderia ter sido emprestada da terminologia militar
(retirar-se do campo), como no exemplo do exército de An- tíoco, na retirada da
Pérsia (II Mac. 9:1 usa o verbo), ou da linguagem náutica: libertar o barco de
suas amarras, para que saia velejando. Contudo, o pano de fundo geral, mais
imediato, não é o debate filosófico, grego, a respeito da imortalidade da alma,
que procura libertar-se do corpo, à hora da morte, (cf. a versão judaica em
Tob. 3:6), mas a esperança de uma união mais íntima com CRISTO, para o que não
existe paralelo adequado na antigüidade (segundo Gnilka). Estar com CRISTO
expressa sua esperança de “pessoalmente ‘estar com CRISTO’ . . . consistindo na
comunhão pessoal entre CRISTO e o apóstolo” (W. Grundmann, TDNT vii, p. 784). O
paralelo mais próximo está em 2 Co 5:1-10, sobre o qual veja-se M. J. Harris,
“Paul’s View of Death in II Corinthians 5:1-10”, em New Dimensions in New
Testament Study, ed. R. N. Longenecker e M. C. Tenney, Grand
Rapids, 1974, pp. 317-28.
A frase exata estar com
CRISTO tem suscitado discussões. Que quer Paulo dizer com isso, precisamente?
Haveria paralelos, suficientemente próximos, de modo a sugerir que Paulo tomou
a idéia de fontes externas? Esta segunda questão é mais facilmente respondida.
W. Grundmann (loc. cit. pp. 781ss.) toma um ponto de partida ao referir-se a
uma expressão paralela (“estar com DEUS”) nos Salmos do VT, os quais exprimem a
esperança de que a comunhão (cultual) com Iavé prosseguirá após a morte. O
judaísmo posterior cria que a comunhão entre DEUS e o homem vencia a morte,
sendo “esta, provavelmente, a base teológica das declarações de Paulo”
(Grundmann, p. 782). Esta suposição é muito mais aceitável que as propostas
alternativas, como, por exemplo, a de que Paulo tomou emprestada a idéia de
reunião com CRISTO, após a morte, das seitas helenísticas misteriosas.
Entretanto, não parece haver um paralelo exato, em sua formulação precisa; o
uso da expressão é de Paulo mesmo, não tendo havido nenhum empréstimo. As
analogias mais próximas são com as idéias judaicas, conforme estudos de P.
Hoffmann, Die Toten in Christus. Eine religionsgeschichtliche und exegetische
Untersuchung zur paulinischen Eschatologie, Münster, 1966, pp. 286-320;e J. —F.
Collan- ge, Excursus 2: “L’Expression ‘être avec Christ’, et l’eschatologie
pauli- nienne”, pp. 62-5.
O pano de fundo da formula “estar com CRISTO” é problemático; a idéia mais
provável é que o pensamento de Paulo se entende melhor como uma expressão de
seu ensino a respeito de morrer-e-ressuscitar com CRISTO. (Veja-se
a discussão em A. R. George, Communion with God in the New Testament, Londres,
1953, pp. 150-5, e R. C. Tannehill, Dying and Rising vAth Christ, Berlim,
1967.) Com
Sua morte, CRISTO venceu o inimigo do homem, a morte; em Sua ressurreição, Ele
inaugurou uma nova era. Contudo, Ele não esteve só, neste triunfo. Ele representava
Seu povo, que compartilha os benefícios de Sua vitória sobre a morte (Rm
6:1-11). Na experiência humana, aquela união com CRISTO, pela fé, inicia-se com
a obediência ao Seu chamado, expressa na fé e exemplificada na confissão
batismal. No ensino de Paulo é tão íntimo o elo que liga o crente ao Seu Senhor
(por ex.: 1 Co 6:17), que a morte não pode rompê-lo. Ao contrário, a morte o
introduz numa comunhão ainda mais profunda, de tal maneira que Paulo pode
dizer, na verdade, numa comparação de muita força, que esta união além-morte, é
incomparavelmente melhor, um fim almejado com devoção. O advérbio triplo em
grego (literalmente: “antes muito melhor”) significa “sem comparação, o
melhor”, isto é, um superlativo super-enfático.
Contudo, Paulo é guiado por desejos não-pessoais. Seu pensamento “centralizado
na cruz” relaciona-se não tanto à imortalidade pessoal, ou ao interesse pelo
além, mas ao interesse pelo trabalho de CRISTO, e à fidelidade à Sua palavra
(Collange). O altruísmo pastoral de Paulo rebrilha quando ele volta à situação
de seu “cuidado por todas as igrejas” (ou “preocupação com todas as igrejas” 2
Co 11:28 ARA). É mais necessário, por vossa causa (pensamento que inclui os
filipenses, mas não se limita a eles) que sua vida seja poupada, para poder
continuar.
25-26. E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e permanecerei com
todos vós. Estes versículos contêm uma nota que sugeriu, a alguns
comentaristas, que Paulo está expressando nova confiança, com respeito a seu
futuro. Versículos anteriores, neste capítulo (20,23) estão pesados com a
perspectiva de martírio iminente, parecendo que a morte estava ali na esquina.
“Paulo. . . bem no íntimo de seu coração, antecipava nenhum outro destino senão
a morte” (J. H. Michael). A questão é, pois, se sua perspectiva mudou, no
versículo 25, de modo que ele contempla, agora, a probabilidade da
sobrevivência, após o processo, e o retorno a Filipos (v.26).
Muitas suposições têm sido levantadas, para explicar esta hipotética mudança de
perspectiva. Teria sido numa iluminação profética que DEUS lhe concedeu, de que
a sentença do tribunal lhe seria favorável (assim pensa Lohmeyer)? Ter-lhe-iam
chegado notícias de que os juizes haviam decidido a seu favor (hipótese de
Michaelis)? Ou possivelmente, a convicção de Paulo fortaleceu-se pela meditação
nos propósitos de DEUS, nos eventos de sua recente exposição ao risco (idéia de
Bonnard)? Não podemos responder a estas pergutas com algum grau de certeza.
Talvez, depois de tudo, a confiança de Paulo se relacionava estritamente ao seu
sentido de responsabilidade pastoral, e está considerando sua própria convicção
“baseado em seu senso das necessidades dos filipenses, quanto ao apóstolo” (J.
H. Michael). Para defender a última idéia, precisamos relembrar que em 2:17,
Paulo volta à real possibilidade de não escapar do martírio.
O que é mais certo é que a volta de Paulo a Filipos, e sua retomada do
pastorado, enquanto fosse possível, ajudaria os filipenses. O segundo verbo
permanecerei é uma tautologia que repete o primeiro verbo ficarei. Se tiver uma
função separada na sentença, pode bem sugerir que Paulo tem esperança de
sobreviver até a parousia de CRISTO: assim pensam Lohmeyer e Bonnard.
Pelo menos, asseguraria sua assistência no caminho de seu progresso (a mesma
palavra de 1:12) e gozo da fé. A última frase é um toque humano que ilustra a
força do laço que unia o apóstolo e a comunidade. Sua presença com eles
aumentaria o gozo deles, visto que a vida comum deles era uma fonte de alegria
e satisfação para o apóstolo (1:4;4:1). Então, eles teriam imensas razões para
exultação, pelo fato de suas orações por seu livramento terem sido atendidas
(v. 19), e o testemunho de Paulo ter sido mantido (v. 20). A restauração de
Paulo aos filipenses seria um sinal da misericórdia divina, evocando o louvor
deles. Um resultado assim positivo das tribulações de Paulo seria um
encorajamento para eles, além de tornar em realidade a esperança de Paulo de
vê-los mais uma vez (2:24).
Se a carta se originou na prisão de Paulo em Éfeso, o apóstolo viveu para ver
sua esperança transformada em realidade (At 20:1-6, que sugere duas prováveis
visitas a Filipos). Se a carta veio de Roma, não podemos dar certeza a esta
hipótese; a questão é mais complexa, porque envolve a confiabilidade da
tradição, segundo a qual Paulo foi libertado no final do período de At 28:30, e
envolve, ainda, a autenticidade das epístolas pastorais (1 Tm 1:3). (Veja-se
G. Ogg, The Chronology of the Life of Paul, Londres, 1968, caps. 21, 22; e J.
J. Gunther, Paul: Messenger and Exile, Valley Forge, Pa., 1972, cap. 6.)
EXORTAÇÃO À COMUNIDADE 1:27-30
A mente de Paulo dirigiu-se à possibilidade de ver a comunidade filipense mais
uma vez. O criticismo que se segue indica que Paulo decidiu dar conselhos
diretos, mesmo em sua ausência forçada. Freqüentemente ele expressa o
pensamento de sua presença pessoal com as igrejas, mesmo não podendo estar com
elas, em pessoa (1 Co 5:3; Cl 2:5). No caso dos filipenses, ele tem em mente a
necessidade de adverti-los contra o espírito sectário, e egoísta, e também
oferecer-lhes algum encorajamento, no conflito que aparentemente estavam
enfrentando. Eis os dois motivos intimamente ligados, neste longo texto. A
ênfase paulina recai sobre a necessidade de unidade, humildade, e de cerrar
fileiras contra os perigos externos que os ameaçam. Tudo isto é bem claro.
Contudo, se quisermos pesquisar mais profundamente, a fim de saber a razão da
desunião, e das desavenças na comunidade, e a natureza da hostilidade
proveniente do mundo, fora da igreja, encontraremos perplexidade, e não dados
precisos. Poderemos apenas conjecturar.
É razoável julgar que parte do problema dentro da igreja era a perda de
confiança, em face do sofrimento não esperado. Em 2:14 há uma advertência
contra “murmurações” e “contendas”. Ambos os termos indicam queixas e
perplexidades à vista do que aconteceu à igreja, há pouco.
Por que deveriam eles
sofrer por sua fé, e agüentar um conflito tão amargo? A réplica de Paulo
consiste em oferecer uma teodicéia, isto é, uma justificativa destes eventos, à
luz dos propósitos de DEUS, e da natureza da vida cristã, que não isenta os
crentes de infortúnios e provações (como em 1:29,30). Parte daquela teodicéia
objetiva a intimar o exemplo de sua própria experiência de sofrimento, tanto no
passado como no presente, e rogar aos filipenses que não o desapontem quanto à
sua expectativa a respeito deles (2:16). A descrição que Paulo faz de si mesmo,
como mártir que se sacrifica em prol das igrejas, aumenta a agudez de seu apelo
(2:17).
O principal ensino da resposta de Paulo é a demonstração de como os planos de
DEUS incluem o sofrimento das igrejas (1:29), e como a natureza da vocação
cristã recebeu seu modelo do próprio Senhor encarnado (2:6-11). Ele percorreu
um caminho de auto-humilhação, rejeição e obediência até a morte, antes de
chegar à exaltação. A vida da igreja é, pois, cruciforme, visto que ela se
deriva dAquele que exemplificou o padrão do “morrer para viver”; e o apelo e
exortação de 2:5 é para que os filipenses deixem sua vida comunitária tomar uma
forma que demonstre o reconhecimento de que este é seu destino, como membros do
corpo de CRISTO, “em CRISTO JESUS”.
O Senhor sofredor, e o apóstolo sofredor, juntos (veja-se E. Güttgemanns, Der
leidende Apostei und sein Her, Gôttingen, 1966), provam que não há
absolutamente nada de incoerente, nem inconsistente, no “destino dos cristãos
como comunidade perseguida, inserida num mundo hostil (2:15); isto deveria ser
um antídoto eficaz contra o espírito extremamente agitado e rebelde que parecia
presente em Filipos. O tom de Paulo é semelhante ao de seu apelo em 1 Ts 3:3,4:
“ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que
estamos designados para isto; pois, quando ainda estávamos convosco,
predissemos que íamos ser afligidos, o que de fato aconteceu, e é do vosso
conhecimento”.
a. A necessidade de unidade e de coragem em face da perseguição (1:27-30).
27. um só espírito ... uma só alma. “Uma coisa só” é como Barth traduz a
palavra grega usada por Paulo (mononj; a admoestação vai “erguida como um dedo
em riste”. Paulo deseja para eles, como membros de igreja em Filipos, a mais
alta qualidade de vida comunitária, estabelecida pelo padrão de sua fidelidade
ao evangelho de CRISTO. A vida da comunidade é comparada à cidadania (gr.
politeia) desfrutada pelos cidadãos de Roma, no mundo antigo. Desta maneira, o
verbo usado por Paulo (gii. Potiteuesthe) deve ser traduzido de modo a exaltar
este sentido. E verdade que às vezes procurou-se dar um significado
exclusivamente político, a esta palavra, como por exemplo, R. R. Brewer (“The
Meaning of Politeuesthe in Phil. 1.27”, JBL 73 (1954), pp. 76-83), que a traduz
assim: “cumpri vossas obrigações como cidadãos” (a ARA traz: “vivei”). É muito
provável que Paulo esteja usando o verbo técnico a fim de chamar os filipenses
à sua dupla responsabilidade: eles se orgulhavam de ser tratados sob a ius
Italicum (veja-se A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New
Testament, Oxford, 1963, pp. 78s., 175-7), como cidadãos do império, tendo
privilégios para usufruir e responsabilidades a cumprir. Deve eles lembrar-se,
também, de que são cidadãos de um reino celestial (3:20), e a conduta deles na
igreja, e no mundo, deve ser determinada pelo fato de serem membros, ou
cidadãos, do reino de CRISTO na terra. O mesmo pensamento ocorre a Policarpo em
sua carta aos Filipenses: “Se formos Seus cidadãos dignos (gr. politeusõmetha
axiõs), também com Ele reinaremos” (5.2).
A noção de um padrão digno, de conduta, é freqüente na correspondência paulina,
como parte de sua determinação ética dirigida às igrejas (1 Ts 2:12; Rm 16:2;
Cl 1:10; Ef 4:1). Aqui é o evangelho que estabelece a norma ética. Evangelho
não é o registro escrito, mas a mensagem proclamada. A essência do apelo de
Paulo é, como diz Gnilka, “vivei como pessoas convertidas”, tanto dentro da
igreja, como lá fora, no mundo. Este é o ansioso desejo de Paulo para eles,
mesmo não podendo estar pessoalmente ao lado deles.
A compreensão de Paulo da luta da igreja contra os poderes hostis é bem
realista. A seção que compreende os versículos 27-30 é rica de termos
militares: estais firmes (resolutos como soldados plantados em seus postos;
Lohmeyer, p. 75. n.2, publica a evidência deste sentido do verbo); lutando
(associa-se com campanha militar, em batalha, ou com arena, onde os gladiadores
lutavam em combate de vida ou morte; cf.
2 Tm 2:5); pelos adversários, humanos ou demoníacos: o mesmo combate (gr. agón)
como o que Paulo havia conhecido à época de sua primeira visita à cidade deles
(1 Ts 2:2, onde Paulo usa o mesmo substantivo) e, talvez, tenha sofrido, há
pouco, quando redigiu a carta (Cl 2:1, se esta carta pertence ao mesmo período
de sua vida; veja-se o New Century Bible Commentary, 1974, pp. 23-32).
O desafio aos filipenses é para ficarem firmes em um só espírito, como uma só
alma, lutando juntos pela fé evangélica. A citação é notável pelo intercâmbio
do elemento humano com o divino. Obviamente, aqui está um chamado excitante à
ação, e para que se apresente uma frente unificada contra o mundo hostil. Contudo,
Paulo promete, também, a ajuda de DEUS (como em 4:1) que, pelo Seu Espirito (um
só espírito — deve ser entendido como referindo-se ao ESPÍRITO SANTO, ao invés
de ao espírito humano, embora Lohmeyer e E. Schweizer, TDNT vi, p. 435,
prefiram esta última opção) ajudará Seu povo a defender a fé evangélica. Eles
seriam capazes de vencer plenamente, na batalha, não pela fé deles, mas por sua
fidelidade ao ensino apostólico, o qual evidentemente estava sob fogo inimigo,
em Filipos; isto, a despeito de a presença de Paulo entre eles não ser
possível. Veja-se em 2:12,13 um encorajamento semelhante, baseado na promessa
da ajuda divina. Quanto a este versículo, veja-se V. C. Pfitzner, Paul and the
Agon Motif, Leiden, 1967, pp. 116-118.
28. em nada estais intimidados pelos adversários. Paulo não nos diz quem eram,
exatamente, estes adversários da igreja. É óbvio que não eram cristãos, visto
que estão a caminho da destruição (cf. 1 Co 1:18, onde se usa o mesmo termo
grego, em sua forma verbal, para denotar o julgamento escatológico reservado
para os inimigos da igreja, no mundo). Esta consideração é argumento contrário
à opinião (esposada por J. —F. Collange; e também por G. P. Wiles, Paul’s
Intercessory Prayers, p. 210) segundo a qual 1:27s, antedpa as admoestações do
capítulo 3, estando encravado no contexto da luta da igreja contra pregadores
judeu-cristãos, que tentavam introduzir um ensino perfeccionista baseado na
obediência legalística à lei. Ao contrário, a chamada de Paulo à firmeza, neste
texto, tem em vista um conflito (v. 30), o qual os filipenses associaram à
sorte de Paulo, à época em que ele estava em Filipos (“mesmo combate que
vistes”), e que o apóstolo sofre, agora (“e ainda agora ouvis que é o meu”).
Esta descrição só pode encaixar-se bem se a oposição vem do mundo pagão.
A perspectiva de Paulo é otimista. Embora a igreja esteja sentindo a pressão da
perseguição, ele confia em que sua salvação final está garantida, desde que os
crentes mantenham a “fé” (v. 27) à qual deve re- ferir-se o pronome que na
declaração de Paulo: “que é para eles prova
evidente’’ (o pronome relativo está atraído para o caso do substantivo “fé”, no
grego). Em outra alternativa, a referência é feita à constância dos filipenses,
sob provação, permanecendo firme sua fidelidade. (Veja- se esta discussão em
Hermann Binder, Der Glaube bei Paulus, Berlim, 1968, p. 78). Esta confiança
advém da convicção de Paulo de que até mesmo a perseguição à igreja vem da
parte de DEUS. O antecedente desta frase está no neutro, no grego (touto), e refere-se
ao episódio todo da oposição, lá atrás, em seu efeito duplo, que é:
encaminhamento dos inimigos, à destruição, e da igreja, à salvação
escatológica. Em ambos os casos, diz Paulo, é o propósito de DEUS que é
servido. Parece ser este o significado do texto de Paulo, embora seja elíptico
o grego. Westcott e Hort resolvem o problema da dificuldade do grego, sugerindo
que os versículos 28b-29 estão entre parênteses, servindo de união direta entre
o versículo 28a e o 30. Certamente isto ajuda na compreensão do texto, e
explica os versículos interpostos como uma “pausa” paulina, um adendo que é
comentário teológico aos sofrimentos dos filipenses.
em nada estais intimidados contém um verbo expressivo, que sugere o tropel de
cavalos assustados. Paulo tem certeza de que seus amigos não explodirão em
desordem, sob tal pressão. É possível que a firmeza deles, na fé, é o sinal
tanto da sentença dos perseguidores quanto do livramento dos crentes (assim
pensam Dibelius, Gnilka e Michael); mas, esta interpretação é menos preferida
que a anterior, especialmente em vista do versículo seguinte.
29. Porque vos foi concedida (por DEUS) a graça de padecerdes por CRISTO, e não
somente de crerdes nele. Esta magnífica declaração é apresentada como uma
teodicéia, para ajudar os filipenses a compreenderem, pelo menos em parte, seus
sofrimentos. A voz passiva foi concedida é a maneira de Paulo atribuir a obra à
vontade de DEUS. O “passivo divinal”, como o chama J. Jeremias (New Testament
Theology, vol. i, Londres, 1971, p. 9) é maneira de expressar-se, do VT, para
enfatizar que DEUS controla todos os eventos. Portanto, os filipenses não
deveriam perturbar-se por causa de suas experiências amargas, como se DEUS os
tivera esquecido, ou estivesse zangado com eles. Ao contrário, o verbo (gr.
echaristhè) lembrá-los-ia de que até mesmo estas provações vêm a eles como uma
dádiva da graça de DEUS (gr. charis). Somente pela fé, que vem pela graça, pode
o sofrimento ser considerado um privilégio (Gnilka).
Contudo, o principal peso do versículo recai no ensino de Paulo, a seus
leitores, segundo o qual a comunhão com um CRISTO sofredor (padecerdes por
CRISTO) necessariamente pressupõe co-participação em Seu destino, e que a
compreensão paulina da vida cristã insiste em que não há maneira de conhecer-se
essa vida, em sua verdadeira expressão, senão mediante a identificação pessoal
com o CRISTO que foi exposto a todos os riscos e mazelas de um mundo cruel.
Isto será mais elaborado em 3:7-10. Paulo já está tacitamente contra-atacando o
falso ensino que considerava o sofrimento apostólico, e o dos crentes, como uma
intrusão desnecessária, e que acredita que os crentes já teriam direito a um
estado de bem-aventurança, ou vida divinal, aqui na terra (veja-se l:15ss. e
3:12ss.), isentos das tensões e humilhações da vida. Estes homens poderiam
estar ensinando que a “glória” seria a insígnia de todo cristão. Paulo retruca
que a marca distintiva do crente é a cruz.
30. Os leitores da
epístola se lembrariam bem das circunstâncias do combate de Paulo, que haviam
presenciado à época em que a igreja deles havia sido fundada (At 16:22ss.; 1 Ts
2:2). Eles teriam tido conhecimento, também, de registros posteriores das
experiências de Paulo “quando ele partiu da Macedônia” (4:15s.). Assim ele
apela para aquilo que ouvis que é o meu. Não deveríamos excluir seu combate
atual, que para ele é ainda mais sério, visto tê-lo levado face a face com a
morte (1:20; 2:17). Os filipenses, sem dúvida, estavam imaginando como estava o
apóstolo no cativeiro (1:12). Sua carta vai tranqüilizá-los pelo menos quanto a
este respeito. Embora seu combate (gr. agón) seja feroz, e Paulo enfrente
momentosas questões de vida ou morte, ele sabe que seu ministério apostólico
está nas mãos de DEUS, e que o resultado final será a “libertação” (1:19,
porque sua esperança está posta em DEUS (cf. 2 Co 1:8-10). É precisamente esta
esperança que ele oferece aos filipenses, porquanto estão engajados no mesmo
combate, e poderão vir a conhecer a mesma confiança.
A respeito de combate, aqui, veja-se V. C. Pfitzner, Paul and the Agon Motif,
pp. 114-29.
OBJETIVOS - Após esta aula, o aluno deverá estar
apto a:
Introduzir a Epístola
aos Filipenses destacando a cidade, a data e o local da autoria.
Explicar o propósito, a autoria e os destinatários da epístola.
Compreender os atos de oração e ação de graças do apóstolo Paulo.
RESUMO DA LIÇÃO 1 -
PAULO E A IGREJA EM FILIPOS
I. INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA
1. A cidade de Filipos.
2. O Evangelho chega à Filipos.
3. Data e local da autoria.
II. AUTORIA E DESTINATÁRIOS
1. Paulo e Timóteo.
2. Os destinatários da carta: "todos os santos".
3. Alguns destinatários distintos: "bispos e diáconos".
III. AÇÃO DE GRAÇAS E PETIÇÃO PELA IGREJA DE FILIPOS (1.3-11)
1. As razões pela ação de graças.
2. Uma oração de gratidão (vv.3-8).
3. Uma oração de petição (vv.9-11).
a) Que o vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento
(v.9).
b) Para que aproveis as coisas excelentes para que sejais sinceros e sem
escândalo algum até ao Dia de CRISTO (v.10).
c) Cheios de frutos de justiça (v.11).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Após chegar numa cidade gentílica, o apóstolo Paulo dirigia-se a uma sinagoga
judaica para evangelizar.
SINOPSE DO TÓPICO (2) Apesar de Timóteo aparecer como o co-autor da carta, a
autoria da epístola é do apóstolo Paulo.
SINOPSE DO TÓPICO (3) A atitude de ação de graças e petição pela igreja de
Filipos é o tema que predomina na introdução da epístola.
VOCABULÁRIO
Colônia: Grupo de migrantes que se estabelecem em terra estranha. Ou
lugar onde se estabelece quaisquer migrantes.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal:
Novo Testamento. 4.ed. Vol. 2, Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
STAMPS, Donald C (Ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
SAIBA MAIS - Revista Ensinador Cristão CPAD - nº 55, p.36.