DESTAQUES ANO 2022

Classe de Senhoras - Atividade de Missões-2023

11/07/13

QUESTIONÁRIO DA LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE



QUESTIONÁRIO DA LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
Responda conforme a revista da CPAD do 3º Trimestre de 2013 - FILIPENSES
Complete os espaços vazios e marque com "V" as respostas verdadeiras e com "F" as falsas
TEXTO ÁUREO
1- Complete:
"Porque para mim o __viver__ é __Cristo__, e o __morrer__ é ganho" (Fp 1.21).

VERDADE PRÁTICA
2- Complete:
Nenhuma __adversidade__ poderá __reter__ a graça e o __poder__ do Evangelho
I. ADVERSIDADE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO
3- Qual era a situação de Paulo na prisão?
( ) Paulo estava preso em Roma, aguardando julgamento.
( ) Ele sabia que tanto poderia ser absolvido como executado.
( ) Todavia, não se achava ansioso.
( ) O que mais desejava era, com toda ousadia, anunciar a CRISTO até mesmo no tribunal.
4- Paulo não era um preso qualquer; quem o guardava?
( ) Sua segurança estava sob os cuidados da guarda pretoriana (1.13).
( ) Constituída de 10 mil soldados, esta guarda encarregava-se de proteger os representantes do Império Romano em qualquer lugar do mundo.
( ) Sua principal tarefa era a proteção do imperador.

5- Quais as principais portas que se abriram através da prisão de Paulo (adversidade)?
( ) Uma das principais contribuições da prisão de Paulo foi a livre comunicação do Evangelho na capital do mundo antigo.
( ) Os cristãos estavam espalhados por toda a cidade de Roma e adjacências.
( ) Definitivamente a prisão de Paulo não reteve a força do Evangelho e o promoveu universalmente.
( ) DEUS usou o sofrimento do apóstolo para que o Evangelho fosse anunciado de Roma para o mundo (v.13).

II. O TESTEMUNHO DE PAULO NA ADVERSIDADE (1.12,13)
6- Como é demonstrado o poder do Evangelho?
( ) De modo objetivo, Paulo diz aos filipenses que nenhuma cadeia será capaz de impor limites ao Evangelho de CRISTO.
( ) Esse sentimento superava todas as expectativas do apóstolo concernentes ao crescimento do Reino de DEUS.
( ) O seu propósito era ver as Boas Novas prosperando entre os gentios.
( ) Portanto, nenhum poder humano conterá a força do Evangelho, pois este é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).

7- Qual era a preocupação dos Filipenses com Paulo e qual a resposta de Paulo aos Filipenses a esse respeito?
( ) Está implícita a preocupação dos filipenses com o bem-estar de Paulo.
( ) Eles o amavam e sabiam do seu ardor em proclamar o Evangelho.
( ) Achavam que a sua prisão prejudicaria a causa cristã.
( ) O versículo 12 traz exatamente essa conotação: "E quero, irmãos, que saibais as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho".
( ) Para o apóstolo, seu encarceramento contribuiu ainda mais para o progresso da mensagem evangélica (v.13).

8- Por que Paulo rejeita a auto-piedade em seu sofrimento?
( ) Paulo era um missionário consciente da sua missão.
( ) Para ele, o sofrimento no exercício do santo ministério era circunstancial e estava sob os cuidados de DEUS (v.19).
( ) Por isso, não manifestava auto-piedade; não precisava disso para conquistar a compaixão das pessoas.
( ) Para o apóstolo, a soberania de DEUS faz do sofrimento algo passageiro, pois os infortúnios servem para enchermos de esperança, conduzindo-nos numa bem-aventurada expectativa de "que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a DEUS, daqueles que são chamados por seu decreto" (Rm 8.28).

III. MOTIVAÇÕES PARA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO (1.14-18)
9- Duas motivações predominavam nas igrejas da Ásia Menor onde o apóstolo Paulo atuava. Quais são elas? Complete:
1. A motivação __positiva__. "E muitos dos irmãos no Senhor, tomando __ânimo__ com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem __temor__" (v.14). Estava claro para os cristãos romanos, bem como para a guarda pretoriana, que o processo judicial contra Paulo era __injusto__, porque ele não havia cometido crime algum. Além de saberem da inocência do apóstolo, os pretorianos recebiam __diariamente__ deste a mensagem do Evangelho (v.13). O resultado não poderia ser outro. Os cristãos __filipenses__ foram estimulados a anunciar o Evangelho com total destemor e coragem.
2. A motivação __negativa__. A prisão de Paulo motivou os cristãos a proclamar o Evangelho de "boa __mente__" e "por amor". Mas havia aqueles que usavam a __prisão__ do apóstolo para garantir vantagens pessoais. Dominados pela __inveja__ e pela teimosia, agiam por motivos errados. Mas pelo ESPÍRITO, o apóstolo entendeu que o mais importante era __anunciar__ CRISTO ao mundo "de toda a maneira". Isto não significa que Paulo aprovava quem procedia dessa forma, porque um dia todo mau __obreiro__ terá de dar __contas__ de seus atos ao Senhor (Mt 7.21-23).

IV. O DILEMA DE PAULO (1.19-22ss.)
10- O que significa para Paulo a frase: "Nisto me regozijo e me regozijarei ainda" (v.18)?
( ) Estas palavras refletem a alegria de Paulo sobre o avanço do Evangelho no mundo.
( ) Viver, para o apóstolo, só se justifica se a razão for o ministério cristão: "Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher" (vv.21,22).
( ) A morte para ele era um evento natural, mas glorioso. Significava estar imediatamente com CRISTO.
( ) O Mestre era tudo para Paulo, o princípio, a essência e o fim da sua vida.
( ) Nele, o apóstolo vivia e se movia para a glória de DEUS.
( ) Por isso, podia dizer: "E vivo, não mais eu; mas CRISTO vive em mim"(Gl 2.20).

11- Qual era o dilema de Paulo e qual seu significado?
( ) "Estar com CRISTO" e "viver na carne".
( ) Ele desejava estar na plenitude com o Senhor.
( ) Todavia, o amor dele pelos gentios era igualmente intenso.
( ) "Ficar na carne" (v.24), aqui, refere-se à vida física. Isto é: viver para disseminar o Evangelho pelo mundo.
( ) Mais do que escolha pessoal, estar vivo justifica-se apenas para proclamar o Evangelho e fortalecer a Igreja.
( ) Este era o pensamento paulino.
( ) Nos versículos 25 e 26, ele entende que, se fosse posto em liberdade, poderia rever os irmãos de Filipos, e viver o amor fraterno pela providência do ESPÍRITO SANTO.

CONCLUSÃO
12- Complete:
Paulo resolveu o seu __dilema__ em relação à igreja, declarando que o seu desejo de estar com CRISTO foi __superado__ pela amorosa obrigação de __servir__ aos irmãos (vv.24-26). Ele nos ensina que devemos estar prontos a trabalhar na causa do Senhor, mesmo que isso signifique __enfrentar__ oposição dos falsos crentes e até __privações__ materiais. O que deve nos importar é o progresso do Evangelho e o __crescimento__ da Igreja de CRISTO (vv.25,26).
AJUDA
CPAD - http://www.cpad.com.br/ - Bíblias, CD'S, DVD'S, Livros e Revistas. BEP - Bíblia de Estudos Pentecostal.
VÍDEOS da EBD na TV, DE LIÇÃO INCLUSIVE - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
BÍBLIA ILUMINA EM CD - BÍBLIA de Estudo NVI EM CD - BÍBLIA Thompson EM CD.
Peq.Enc.Bíb. - Orlando Boyer - CPAD
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia - J.D.DOUGLAS.
Revista Ensinador Cristão - nº 55 - CPAD.
Comentário Bíblico Beacon, v.5 - CPAD.
GARNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. VIDA
CHAMPLIN, R.N. O Novo e o Antigo Testamento Interpretado versículo por Versículo.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD
AS GRANDES DEFESAS DO CRISTIANISMO - CPAD - Jéfferson Magno Costa
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edições Vida Nova – J. D. Douglas
Comentário Bíblico Expositivo - Novo Testamento - Volume I - Warren W . Wiersbe
Dicionário Bíblico Wycliffe - Charles F. Pfeiffer, Howard F. Vos, John Rea - CPAD.
Dicionário Vine antigo e novo testamentos - CPAD.
Um Homem Segundo o Coração de DEUS - Autor: Jim George - Editora: Hagnos
O Amor Como Estilo de Vida - Autor: Gary Chapman - Editora: SEXTANTE
AMOR - O Maior Mandamento - Autor: Henry Drummond - Editora: Ágape
Amor - O Que Nos Falta Para o Arrebatamento - Autor: Norbert Lieth - Editora: ACTUAL Edições
25 Maneiras de Valorizar as Pessoas - Autores: John C. Maxwell & Les Parrott, PH. D. - Editora: SEXTANTE
Perdoando Para Viver - Autor: Wilson de Souza- Editora: MK Editora
PERDÃO - A Cura das Emoções - Autor: Hernandes Dias Lopes - Editora: Candeia
Filipenses - A Humildade de CRISTO Como Exemplo Para a Igreja - Elienai Cabral - Livro tema do trimestre
Filipenses - Introdução e comentário - Ralph P. Martin - Série Cultura Bíblica - Editora Vida
Filipenses_Hendriksen (1)
John Macarthur - Comentáio Filipenses
Novo Comentário Bíblico Contemporâneo - Filipenses - F. F. Bruce
http://www.gospelbook.net

LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE



LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
LIÇÕES BÍBLICAS - 3º Trimestre de 2013 - CPAD - Para jovens e adultos
Tema: Filipenses - A Humildade de CRISTO como exemplos para a Igreja.
Comentário: Pr. Elienai Cabral
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva

TEXTO ÁUREO
"Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho" (Fp 1.21).

VERDADE PRÁTICA
Nenhuma adversidade poderá reter a graça e o poder do Evangelho

LEITURA DIÁRIA
Segunda - At 16.23-25O louvor supera os açoites
Terça - 1 Pe 1.3-9Guardados pela fé
Quarta - Gl 5.16-21Guiados pelo ESPÍRITO no conflito
Quinta - Gl 5.22-26O fruto do ESPÍRITO garante vitória
Sexta - Fp 1.12-14A alegria na defesa do Evangelho
Sábado - Fp 1.15-21A motivação correta do anúncio

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Filipenses 1.12-21
12 E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. 13 De maneira que as minhas prisões em CRISTO foram manifestas por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares; 14 e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. 15 Verdade é que também alguns pregam a CRISTO por inveja e porfia, mas outros de boa mente; 16 uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; 17 mas outros, na verdade, anunciam a CRISTO por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. 18 Mas que importa? Contanto que CRISTO seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda. 19 Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do ESPÍRITO de JESUS CRISTO, 20 segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, CRISTO será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. 21 Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho.

1.16 PARA DEFESA DO EVANGELHO. DEUS deu a Paulo a tarefa importante de defender o conteúdo do evangelho, conforme o temos nas Escrituras. Semelhantemente, todos os crentes são conclamados a defender a verdade bíblica e a resistir àqueles que distorcem a fé (v. 27; ver Gl 1.9; Jd 3). As palavras de Paulo parecem estranhas aos pastores dos nossos dias, que não vêem a necessidade de "batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3)
1.19 ESPÍRITO DE JESUS CRISTO. O ESPÍRITO SANTO que habita no crente é chamado o "ESPÍRITO de JESUS CRISTO" (Cf. At 16.7; Rm 8.9; Gl 4.6), porque é CRISTO quem outorga o ESPÍRITO ao crente, na sua conversão e é Ele quem subseqüentemente batiza o crente com o ESPÍRITO SANTO (ver At 1.8). Esse ESPÍRITO é o mesmo que ungiu a JESUS, a fim de trazer redenção ao mundo (ver Lc 4.18).
1.21 MORRER É GANHO. O verdadeiro crente, vivendo no centro da vontade de DEUS, não precisa ter medo da morte. Ele sabe que DEUS tem um propósito para o seu viver, e que a morte, quando ela vier, é simplesmente o fim da sua missão terrestre e o início de uma vida mais gloriosa com CRISTO (vv. 20-25; ver Rm 8.28).
Atos 28.30 - PAULO FICOU DOIS ANOS INTEIROS. A história da igreja primitiva, escrita por Lucas, termina aqui. Paulo permaneceu em prisão domiciliar por dois anos. Tinha licença de receber visitas, às quais pregava o evangelho. O que aconteceu a Paulo depois, segundo geralmente se crê, é o que se segue. Durante esses dois anos, Paulo escreveu as Epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses, e a Filemon. Em 63 d.C., aproximadamente, Paulo foi absolvido e solto. Durante uns poucos anos continuou seus trabalhos missionários, e talvez tenha ido até à Espanha, conforme planejara (Rm 15.28). Durante esse período, escreveu 1 Timóteo e Tito. Foi preso de novo cerca de 67 d.C., e levado de volta a Roma. 2 Timóteo foi escrita durante esse segundo encarceramento em Roma. A prisão de Paulo só terminou ao ser ele decapitado, sofrendo o martírio sob o imperador romano Nero.
Comentários do livro - Atos - Introdução e Comentário - I. Howard Marshall - Série Cultura Bíblica - edições 1985,1988, 1991, 1999 e 2001 - Sociedade Religiosa Edições Vida Nova - SP
Poderiam se utilizar de cordas que atravessam o navio dentro do porão, para fortalecê-Io; ou de cordas amarradas longitudinalmente da proa até à popa, e esticadas para evitar que o navio quebrasse às suas costas (H. J. Cadbury, BC, V. págs. 345-354). Conforme os conhecimentos que atualmente temos das condições de então, não é possível fazer uma decisão firme entre estas possibilidades. Tudo quanto sabemos por certo é que "cintas" faziam parte do equipamento dos navios de guerra gregos, que eram cordas ou cabos, usualmente em número de quatro ou seis, e (pelo menos num caso) cada uma com comprimento suficiente para se estender ao derredor do navio inteiro, longitudinalmente.
Os marinheiros tinham medo de que, mesmo assim, o navio fosse levado à Sirte. Trata-se de uma área de areias movediças e bancos de areia perto do litoral da Letônia, que era lendária por causa do perigo que constituía para a navegação, como o "triângulo das Bermudas" hoje. Ainda ficava numa distância de 611 km, aproximadamente, mas os marinheiros não queriam correr riscos. A terceira ação deles foi arriar os aparelhos. Aqui, também, não é certo o sentido. Talvez signifique abaixar ou amarrar a vela principal, ou talvez fixar a sua posição, ou arriar a corda que apoiara a vela de capa, ou lançar ao mar os aparelhos sobressalentes a bordo (mas "arriar" dificilmente pode significar "lançar ao mar"), ou, mais provavelmente, talvez, abaixar algum tipo de âncora flutuante que frearia a velocidade do navio, levando-o ao léu para o norte, para assim evitar a área do perigo.
18-19. Estas medidas, no entanto, foram inadequadas. O navio estava enfrentando mares bravios, e provavelmente estava subindo água a bordo, de modo que começaram a aliviar o peso, lançando ao mar a carga (cf. Jn 1 :5). No terceiro dia o processo de aliviar o navio foi continuado, lançando ao mar a armação; deve referir-se à armação de reserva, e talvez a pesada vela mestra com seus aparelhos. MSS menos antigos dizem nós mesmos, com as próprias mãos, lançamos. . . que faz mais sentido do que textos mais antigos que aplicam "as próprias mãos" aos marinheiros que não teriam outro meio senão este de trabalhar. Ou será que a expressão quer lembrar que não tinham equipamentos para içar pesos, conforme teriam nos portos?
20. O ponto culminante na descrição da tempestade é que os marinheiros não tinham idéia alguma da sua posição, com relação à terra, ou rochas ou bancos de areia. O mau tempo impedia qualquer observação do solou das estrelas mediante os quais talvez pudessem ter feito algum cálculo do seu posicionamento. Humanamente falando, não parecia ter possibilidade alguma de sobrevivência, e o desânimo se apoderou das pessoas no navio.
21-22. A esta altura, Paulo intervém na história pela segunda vez. A sua intervenção é introduzida pelo comentário sobre o fato que ninguém estava comendo, embora este aspecto não é retomado a não ser no v. 33. No presente contexto, ilustra ainda mais a aflição desesperada das pessoas no navio. É possível que houvesse pouca comida disponível depois da tempestade, e que as pessoas se sentissem demasiadamente enjoadas ou desanimadas para comer. Todo este sofrimento e risco poderia ser evitado se o navio tivesse permanecido em Bons Portos, e Paulo comentou que sua advertência não fora devidamente atendida; sua profecia de danos e perdas se cumprira, embora, por enquanto, só afetasse (e no fim somente afetaria) o navio, e não as pessoas a bordo que incluíra na sua profecia. É esta qualificação da sua profecia anterior que Paulo agora ressalta num esforço para animar as pessoas. Crê que ninguém perderá a vida, mas haverá perda do navio.
23-24. Paulo menciona o fundamento desta sua certeza, ao narrar uma visão que tivera na noite anterior, durante a qual lhe aparecera um anjo de DEUS. A mensagem angelical foi uma confirmação da revelação anterior em 23:11 de que Paulo chegaria a Roma; era o plano de DEUS que Paulo ali testificasse (23:11) na presença de César. Seguia-se, portanto, que ele pessoalmente podia ter confiança de que sobreviveria a tempestade em alto mar, mas também foi informado que DEUS lhe concedera como favor que todos que navegavam com ele também seriam poupados. A linguagem dá a entender que Paulo tinha orado em prol dos seus companheiros de viagem, e que DEUS atendera a sua oração. Há um paralelo com a história de Abraão, que intercedeu com DEUS em prol do povo de Sodoma, e pleiteou que a totalidade da cidade fosse poupada por amor ao
número mínimo de justos "que ali habitava (Gn 18:23-33).
25-26. Destarte, Paulo podia encorajar os seus ouvintes a ter bom ânimo e, em efeito, compartilhar da confiança que ele tinha naquilo que DEUS lhe prometera, e que seria cumprido. A profecia de Paulo ia além de uma esperança geral quanto à segurança, para uma declaração de que todos seriam lançados à terra numa ilha; se o navio haveria de perder-se (v. 22), então somente um evento semelhante poderia salvar a vida das pessoas a bordo.
Este discurso de Paulo é submetido â suspeita dos críticos. Mesmo assim, encaixa-se muito bem com as experiências de Paulo de visões da parte de DEUS (2 Co 12:1, 9); é inteiramente natural que Paulo tivesse compartilhado a sua certeza com seus companheiros de viagem, e a história é transmitida por uma testemunha ocular; não precisamos duvidar de que Paulo disse alguma coisa assim. Haenchen (pág. 709) é cético quanto a Paulo conseguir pronunciar um discurso em condições de uma tempestade a bordo de um navio, mas o seu conceito de Paulo agindo como orador público é inapropriado para as circunstâncias.
27. Agora vem o cumprimento da profecia de Paulo. Passara-se uma quinzena (presume-se que o tempo foi contado assim a partir da saída de Bons Portos). Os cálculos revelam que este período coincide com o tempo que o navio levaria para percorrer a distância em termos reais (cerca de 475 milhas náuticas ou 885 km), se estava indo â deriva conforme o modo aqui descrito. Além disto, deve-se levar em conta alguma mudança na direção do vento, que é natural. Hoje em dia, o Mar Adriático significa o golfo entre a Itália e a península das Bálcãs, mas o termo se empregava antigamente para incluir a área entre a Cic11ia e a Creta também. A ilha de Malta se acha na extremidade ocidental desta área, imediatamente ao sul da Sicília. Os marinheiros reconheciam que a terra se aproximava, possivelmente pelo estrondo dos vagalhões.2 5 6
28. Começaram, portanto, a fazer sondagens para determinar a profundidade de água que havia embaixo do navio. Embora as cifras dadas concordem com aquelas que foram estabelecidas no local provável do naufrágio, Conzelman (pág. 144) prefere, mesmo assim, acreditar que são uma invenção literária, por ser improvável que Lucas estivesse perto do homem que lançava o prumo; trata-se de ceticismo desvairado.
29. A pouca profundidade da água, sem dúvida em conjunto com o estrondo dos vagalhões, exigia medidas de segurança, e, assim, os marinheiros lançaram quatro âncoras. Estas não tinham muito peso em comparação com os padrões modernos - daí o número delas - e foram lança das da popa a fim de evitar que a proa do navio se virasse, e para preparar o navio para correr de frente para a praia depois de haver luz e um lugar e oportunidade apropriados. Agora, nada mais poderia ser feito senão ansiar e orar pela chegada da luz do dia.
30. O incidente que agora se segue é explicado de várias maneiras. Segundo Lucas, os marinheiros (ou talvez apenas alguns deles) procuravam lançar â água o bote do navio (v. 16), a fim de escaparem do navio; fingiam que, na realidade, iam lançar âncoras da proa - ação esta que nestas circunstâncias somente poderia ser levada a efeito ao remar levando as âncoras por uma pequena distância da proa para lançá-Ias dali. Muitos comentaristas argumentam, no entanto, que uma tentativa para escapar seria puro suicídio nas condições tempestuosas em plena escuridão perto de um litoral desconhecido, e que o único modo de ação seguro seria permanecer a bordo até à luz da manhã. Os leitores de Robinson Crusoé devem lembrar-se de uma situação muito semelhante em que o navio encalhou de madrugada, e a tripulação saiu com o bote, e todos pereceram menos o próprio Crusoé, que mais tarde pôde voltar ao navio e comentou: "Vi de modo evidente que, se tivéssemos permanecido a bordo, estaríamos todos salvos - ou seja, teríamos chegado com segurança à praia". A história escrita por Defoe indica que os homens podem fazer coisas estultas, embora permaneça a possibilidade que os passageiros entendessem erroneamente a intenção dos marinheiros.
31. Seja qual tenha sido a intenção dos marinheiros, Paulo indicou ao centurião o perigo que haveria de os passageiros ficarem completamente desamparados sem os marinheiros. Haenchen (págs. 706, 710) comenta que, neste caso, Paulo seria responsável pela perda do navio, pois, sem o bote, não restava outra possibilidade senão tentar (em vão) encalhar o navio na praia; ao mesmo tempo, no entanto, aceita a idéia de o versículo ser uma interpolação fictícia da parte de Lucas para transformar Paulo em salvador dos passageiros. Do outro lado, porém, pode-se comentar que foi o infortúnio que levou o navio a encalhar num banco de areia ao invés de chegar à praia, e que é possível que os soldados tenham agido precipitadamente ao cortar os cabos do bote (v. 32), ao invés de meramente montar guarda sobre ele. Lucas certamente atribui a Paulo a
iniciativa para a ação, a qual considera útil; é certo que não seria surpreendente se os soldados e os passageiros tenham agido em pânico, entendendo erroneamente as intenções dos marinheiros, mormente porque o tema de a tripulação abandonar os passageiros para perecer é atestado nos romances antigos.
33. Agora surge mais um episódio que ressalta a atuação de Paulo. Quando o dia começou a raiar, enquanto o navio ficava estável com as âncoras, Paulo começou a animar as pessoas a bordo a comerem. É retratado ao falar a todas as pessoas no navio de modo geral, lembrando-as que não comeram nada desde o começo da tempestade desastrosa quatorze dias antes (cf. v. 21). Embora não haja qualquer indicação de que tenham observado jejum para induzir quaisquer deuses que adorassem a terem misericórdia deles é possível que este tema esteja presente, e que Paulo, com efeito oficial era o princeps perigrinorum, o comandante do quartel onde se baseavam os frumentarii (27:1) em Roma. Parece possível, no entanto, que esta unidade não tenha existido antes dos tempos de Trajano no século 11 d.C. Uma segunda possibilidade é que a referência dizia respeito ao praefectus praetorii, o prefeito ou comandante dos guardas pretorianos, a quem eram entregues os prisioneiros das províncias, segundo a carta escrita por Trajano a Plínio. Esta teoria é desenvolvida por Sherwin-White (págs. 108-111), que sugere que o respectivo oficial seria o princeps castrorum, um subordinado do prefeito. É, portanto, possível que o texto ocidental reflita o   
procedimento que teria sido adotado. Quanto à questão dos processos jurídicos, ver v.30
Paulo e os judeus em Roma (28:17-31).
o relato de Lucas acerca das atividades de Paulo em Roma silencia no que diz respeito a dois aspectos que acharíamos mais interessantes: o resultado do seu apelo a César, e seu relacionamento com a igreja cristã que já existia em Roma. Todo o interesse se centraliza nos contatos entre Paulo e os judeus não-cristãos. Convoca os representantes deles a se encontrarem com ele, e explica em termos resumidos como fora trazido a Roma como resultado de acusações que os judeus fizeram contra ele na Judéia; surge, assim, a oportunidade para ele explicar a natureza da mensagem cristã a estas visitas; suas palavras, no entanto, são recebidas de diversas maneiras. Quando estes judeus de Roma não conseguem chegar a um acordo entre si a respeito, Paulo se pronunciou claramente, condenando a cegueira e a obstinação deles em recusarem o evangelho, e, diante disto, declarou-se livre para levar aos gentios a mensagem da salvação. No decurso dos dois anos .remanescentes, portanto, mencionados por Lucas, Paulo pregava e ministrava aos gentios. Destarte, o quadro final que é mostrado ao leitor retrata o apelo final que Paulo fez aos judeus, e a sua aceitação de uma chamada aos gentios. A impressão que se transmite é que Paulo sentia, no decurso do seu ministério inteiro, o dever de ir primeiramente aos judeus, e que era somente quando estes recusavam a mensagem que ele ia aos gentios. Tudo isto harmoniza-se perfeitamente com a expressão, cheia de emoção, dos sentimentos de Paulo acerca da sua chamada em Romanos caps. 9-11. Além disto, leva ao clímax o livro inteiro, sendo que o programa missionário registrado em Atos 1:8 agora é levado a um ponto decisivo: o evangelho chegou à capital do Império Romano, e é proclamado aos gentios, sem impedimento; a igreja está à beira de expansão adicional, com a esperança de Paulo chegar à Espanha (Rm 15:24, 28) sempre presente nos planos, indicando a direção para maiores avanços. A igreja, portanto, recebe suas ordens de marcha: Roma é uma etapa no itinerário, e não o alvo final. Em princípio, está livre para deixar de preocupar-se com os judeus, pelo menos por enquanto (Lc 21 :24), e passar a dedicar-se aos gentios.
Lucas apresenta este quadro em termos da missão de Paulo. Os judeus em Roma recebem a oportunidade de corresponderem ao modo de Paulo entender o evangelho, muito embora já tivessem, decerto, alguma familiaridade com a mensagem dos cristãos que estavam em Roma já desde uma data bem antiga (At 2:10). Isto quer dizer que Lucas nada diz acerca da presença e atividade da igreja em Roma a não ser nos vv. 15-16 e, destarte, os leitores de Atos podem receber uma impressão inexata. É o mesmo tipo de relato concentrado que achamos no capítulo final do Evangelho, onde todas as aparições do JESUS ressurreto se apresentam como se fossem confirmadas a Jerusalém e seus arrabaldes, e como se tivessem ocorrido no Domingo da Páscoa, muito embora tivessem havido aparições noutros lugares, e o próprio Lucas mais tarde torne claro que continuaram no decurso de um período de quarenta dias.
17. A primeira ação de Paulo, uma vez estabelecido na sua nova moradia, é conclamar os principais dos judeus em Roma. Nossas informações acerca da comunidade judaica em Roma são insuficientes para sabermos precisamente quais são os oficiais aqui em mira. Paulo os convida a vir até ele, pois, segundo parece, não está livre para ir visitar a eles; sua situação é de .prisão domiciliar. Dá-lhes as razões que o levaram a Roma. Declara que nada fizera contra o povo judaico, nem atacara seus costumes (cf. 25:8). Mesmo assim, os judeus o entregaram aos romanos. A linguagem se assemelha àquela que Lucas aplica a JESUS no Evangelho (Lc 18:32), e é possível que Lucas queira que seus leitores vejam um paralelo entre o destino de JESUS e o de Paulo. Tem sido alegado, outrossim, que Lucas contradiz sua história anterior, na qual os romanos arrebataram Paulo das mãos dos judeus. Lucas, porém, se ocupa com os essenciais da história, e não com os pormenores, e o relato aqui é uma representação correta de como os judeus passaram a processar Paulo diante de Félix e Festo, tendo em mira uma sentença romana para Paulo, por delitos que realmente seriam judaicos, por mais que os judeus tentassem alegar que Paulo era, na realidade, um perigo para Roma.
18. O inquérito que os romanos instauraram contra Paulo não substanciou as acusações dos judeus contra ele. Nada fizera que merecesse a morte,. e, portanto, deveria ter sido inocentado e solto. Paulo disse que os romanos quiseram soltá-lo. Parece um pouco estranho. Na realidade, os governadores nenhuma tentativa fizeram para colocar Paulo em liberdade, e foi porque Festa queria julgá-Ia em Jerusalém que Paulo sentiu-se obrigado a apelar a César. Foi Agripa que afirmou que Paulo poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado a César, e supõe-se que Festa concordou com ele naquela altura dos acontecimentos. A declaração de Paulo, portanto, é uma simplificação da narrativa anterior, e reflete o que se nos diz acerca dos desejos dos governadores, não fosse a pressão dos judeus.
19. A razão porque Paulo se sentiu compelido a apelar para César foi, segundo ele, a oposição dos judeus ao desejo dos romanos de libertar a Paulo. Parece que se trata de uma alusão às acusações dos judeus, registradas em 25:2, 7, que levaram Festa a perguntar se Paulo estaria disposto a ser julgado em Jerusalém. Se for assim, devemos provavelmente entender que 25 :4-5 significa que se os judeus não tinham libelo formal contra Paulo, Festa o teria posto em liberdade; tal conceito é razoável, pois Festa deve ter considerado que os dois anos de detenção que Paulo já sofrera bastariam como castigo adequado se tivesse havido qualquer delito contra as leis especificamente judaicas. Assim, haveria harmonia entre os relatos registrados em Atos. Paulo deixa claro que não está atacando a nação judaica por causa do modo dos líderes agirem; este é um discurso de conciliação, e Paulo está concedendo que os judeus agiram dentro dos seus direitos se pensaram que ele havia feito alguma coisa errada.
20. Fora, portanto, para informar os judeus de Roma de modo exato acerca da situação que Paulo os convidara em conjunto. Isto porque a questão em pauta no seu julgamento, conforme insistira no decurso dos processos, era a natureza verdadeira da esperança de Israel, na vinda do Messias e na ressurreição. Estava, portanto, preso por ser um judeu leal; segundo o modo de Paulo encarar a situação, estava em cadeias romanas por esta razão. Este fato era, decerto, algo que exigia a atenção dos judeus, pois a religião deles era legalmente permitida pelos romanos.
21. Os judeus de Roma professavam completa ignorância acerca de Paulo e do caso dele. Não receberam quaisquer instruções de Jerusalém que pudesse dirigi-Ias numa representação da causa jurídica dos judeus contra Paulo, diante do fórum; além disto, nenhum mensageiro judaico, vindo de Jerusalém, trouxe qualquer relatório contrário a Paulo. Nisto nada há de estranhável. Bruce (Livro, pág. 535) tem razão, sem dúvida alguma, ao argumentar que é improvável que os líderes judaicos tivessem dado andamento ao processo depois de ele ter sido transferido a Roma, porque teriam pouca ou nenhuma possibilidade de sucesso. Nenhuma comunicação oficial acerca de Paulo deve ter chegado aos judeus em Roma, portanto. É muito possível que os judeus em Roma preferissem manter ignorância do caso; decerto, não se esqueceram que disputas anteriores acerca do Messias levaram à sua expulsão temporária da cidade (18:2).
22. Mesmo assim, estavam interessados em saber o que Paulo diria em prol da sua própria causa. Sabiam alguma coisa acerca da seita (24:24) cristã, pois havia uma igreja ativa em Roma, e sabiam que ela era freqüentemente criticada. Supõe-se, também, que já ouviram falar de Paulo e da sua reputação como missionário de destaque, e tinham curiosidade suficiente para prestarem atenção àquilo que diria acerca de si e acerca das razões por que estava em má situação diante das autoridades em Jerusalém.
23. Foi marcado um dia apropriado para a reunião, e um grupo grande veio visitar Paulo. A frase na sua própria residência talvez signifique, realmente, "para receber a sua hospitalidade"; os judeus eram os seus hóspedes, visto ser ele incapaz de seguir seu antigo padrão de freqüentar a sinagoga; contudo, a frase não significa que lhes ofereceu uma refeição ou algo semelhante. As perguntas acerca da possibilidade de Paulo ter uma sala suficientemente grande para todos eles não vêm ao caso.
O tema de Paulo não era a sua própria situação mas, sim, o evangelho. Fez uma exposição dele ao proclamar o reino de DEUS e ao persuadi-los a respeito de JESUS, baseando os seus argumentos nas declarações de Moisés e os profetas. O assunto, portanto, combinava os temas da pregação de JESUS e da mensagem apostólica acerca dEle, que formavam uma unidade: o domínio de DEUS era o domínio do agente de DEUS, o Messias, e eram os judeus que cumpriam este papel. Numa discussão com judeus, as Escrituras do Antigo Testamento forneciam a evidência principal, e o debate dependia da interpretação delas, e de se os fatos a respeito de JESUS poderiam ser encarados como sendo o cumprimento das profecias. Esta descrição da mensagem de Paulo corresponde a resumos gerais anteriores dos seus argumentos nas sinagogas (17:2-3; 18:5), e obviamente reflete a sua praxe normal.
24-25. O resultado foi o tipo de resposta mista que Paulo recebera em ocasiões anteriores. Alguns ficaram persuadidos pelo que ele dizia, mas nada se diz para sugerir que foram convertidos a uma aceitação pessoal da mensagem. Outros ficaram francamente sem convicção alguma. Assim desfez-se a reunião, com os judeus argumentando entre si. Foram embora, e não há, tampouco, sugestão alguma de que quaisquer deles ficaram suficientemente interessados para voltarem numa ocasião posterior. Antes da partida deles, no entanto, Paulo pronunciou uma palavra final. Declarou que o ESPÍRITO SANTO falara a verdade acerca deles nas palavras que !saias originalmente dirigira aos antepassados deles; era um caso de "tal pai, tal filho". A citação era uma daquelas que mais familiarmente se empregava na igreja primitiva. Fora empregada por JESUS (Lc 8:10; cf. Mt 13:1315; Mc 4:12); e é citada por João (Jo 12:39-40), e o próprio Paulo a empregara na sua Epístola aos Romanos (Rm 11 :8). Aqui, como em Mateus 13: 14-15, temos o texto inteiro da citação de Isaías 6:9-10, segundo a LXX. ~ possível que Lucas tenha deliberadamente abreviado o dito de JESUS que incorporou em Lucas 8:10, a fim de preservar o pleno efeito para o presente contexto.
26-27. Diz-se ao povo de DEUS que, por muito que venha a ouvir e ver, nunca entenderá nem perceberá o que DEUS lhe diz. Este é um julgamento divino sobre ele porque ele mesmo tornou seu coração impérvio à Palavra de DEUS; deixou com que se tornasse surdo e cego por causa de ter medo de ouvir e ver a perturbadora Palavra de DEUS e, assim, de receber livramento da parte de DEUS. A Palavra de DEUS traz consigo o diagnóstico do pecado, que é doloroso de se escutar e aceitar, mas, ao mesmo tempo, fere a fim de curar. Uma vez que a pessoa deliberadamente recusa a Palavra, chega a um ponto em que é despojada da capacidade para recebê-Ia. Esta é uma advertência severa às pessoas que não levam a sério o evangelho.
28. Tendo em vista estes fatos, os judeus devem tomar nota solene do fato de que a mensagem da salvação agora está sendo enviada aos gentios, e que estes corresponderão mais favoravelmente à oferta. Duvida-se que esta é uma rejeição definitiva dos judeus. As cartas de Paulo certamente indicam que esperava no tempo certo uma mudança de coração da parte deles (Rm 11 :25-32). É bem possível que Lucas, também, entendesse assim a situação.262 Seja como for, a missão cristã dedica aos gentios toda a sua atenção, por enquanto. Paulo já não se sente obrigado a ir "primeiramente aos judeus", e é bem possível que Lucas aqui o apresente como um exemplo a ser seguido pela igreja em geral.
30. Durante dois anos, Paulo continuou a morar na sua própria habitação. A frase "às suas próprias expensas" (ARA e ARC: "que alugara") dá a entender que tinha alguma fonte de renda; os prisioneiros podiam, em certas circunstâncias, exercer as suas próprias profissões. A tradução alternativa, na sua própria casa, que alugara, talvez .expresse com exatidão a situação resultante. O importante é que Paulo não estava numa prisão comum, mas, sim, continuava no modo de vida descrito em v. 16. Embora não tivesse liberdade de movimentos, nem por isso deixava de atuar como missionário cristão, pois as pessoas podiam vir visitá-lo; Paulo podia escrever acerca do "evangelho pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de DEUS não está algemada" (2 Tm 2:9).

O que aconteceu no fim dos dois anos? A implicação é que alguma coisa alterou-se a esta altura (Haenchen, pág. 724). As várias possibilidades são:
(1) Foi a esta altura que Lucas escreveu o Livro de Atos, e não sabia o que haveria de acontecer depois. É possível que esperasse escrever um terceiro volume, retomando a história a esta altura. A dificuldade com este ponto de vista é que exige uma data muito recuada (mas não impossível) para Atos. O Livro dá a muitos leitores a impressão de ter sido escrito a partir de uma perspectiva posterior.
(2) Os judeus deixaram de comparecer para promover a sua ação jurídica contra Paulo (v. 21). O que não sabemos é se Paulo seria automaticamente solto nesta situação. Sherwin-White (págs. 112-119) refutou de modo eficaz o conceito de que os requerentes deviam comparecer dentro de um prazo específico, senão, o processo caducaria e seria arquivado. Mas não parece que refutou a possibilidade que, se os acusadores nunca comparecessem, finalmente haveria o perdão por decurso de prazo. Uma objeção mais séria é que 23:11 e 27:24 claramente dão a entender que Paulo compareceria diante de César.
(3) Paulo foi julgado e inocentado, ou o governo romano abriu mão do processo contra ele (Sherwin-White, págs. 118-119 mostra a realidade desta última possibilidade).
Nos dois casos (2) e (3), o problema se vincula com a questão mais lata de se Paulo passou a desfrutar um período de liberdade antes de voltar a ser preso e, finalmente, executado. É esta a impressão que se obtém das Epístolas Pastorais, pois há um consenso de opinião no sentido de que, sendo genuínas as Epístolas, as atividades ali subentendidas não se encaixam na carreira de Paulo em qualquer ponto anterior. Há muito debate sobre a questão, no entanto; alguns argumentam que as Epístolas não são autênticas e, portanto, têm dúbio valor histórico, ao passo que outros alegam que podem ser harmonizadas com a carreira de Paulo antes do fim de Atos. O único evento sobre o qual há unanimidade é que Paulo foi executado pelos romanos.
(4) A possibilidade final é que Paulo foi julgado e executado a esta altura, mas que Lucas não quis registrar o seu martírio; já dera indicações indiretas em suficiência no decurso da narrativa (20:23-25, 38; 21 :13; 23:11; 27:24), e preferia deixar seus leitores como quadro de Paulo pregando livremente o evangelho em Roma, diante dos gentios. Se, porém, Lucas sabia acerca do martírio de Paulo, ou do massacre dos cristãos em Roma levado a efeito por Nero, é extremamente difícil entender como poderia ter pintado um retrato tão geralmente favorável das autoridades romanas e da atitude delas para com Paulo (23:29). Deve-se reconhecer, no entanto, que o retrato de Lucas descreve as autoridades romanas das provindas, e é possível que seja subentendido um contraste o governo romano central.
O quadro fica ambíguo. De um lado, é difícil perceber como Paulo poderia ter sido condenado à morte conforme a evidência registrada em Atos; do outro lado, parece haver consciência no Livro de Atos de que Paulo haveria de comparecer diante de César e morrer como mártir.
31. Seja qual for a verdade, o destino de Paulo é secundário, comparado com o progresso do evangelho. A descrição final mostra Paulo pregando aos gentios a mesma mensagem que pregara no decurso da história em Atos, e isto com intrepidez e sem impedimento. A implicação é que as acusações contra Paulo eram falsas e que o próprio DEUS estava apoiando a sua proclamação. Nada que os homens são capazes de fazer é suficiente para impedir o progresso e vitória final do evangelho.

A AMBIÇÃO DE PAULO PELO EVANGELHO 1:12-26
Aqui o dominante interesse de Paulo em ver CRISTO proclamado. Ele alimenta esta ambição não simplesmente como um indivíduo particular, mas como um apóstolo, cujas atuais circunstâncias de confinamento estão ligadas ao destino do evangelho, cuja mensagem ele foi encarregado de proclamar. Por esta razão, ele devota grande parte de seus escritos à insistência em que o evangelho não está em perigo, por causa de sua prisão, e também à explicação sobre por que ele sofre — como que refutando a insinuação de que ele não é um verdadeiro apóstolo, visto que está sofrendo. Ele passa por cima de muitas questões sobre suas circunstâncias pessoais, que nos interessariam ver esclarecidas. O principal assunto (para Paulo) não está em dúvida: CRISTO está sendo proclamado, e Sua mensagem será pregada, seja qual for o destino de Paulo, como prisioneiro.
12. A linguagem do versículo dá a entender que Paulo desejava assegurar aos filipenses que tudo estava bem com ele. Talvez tivessem manifestado alguma preocupação quanto a ele, através da visita de Epafrodito (2:25). Seu interesse se focaliza em entregar uma declaração de defesa pessoal de seu apostolado, e em relatar o progresso do evangelho. O termo grego traduzido por progresso (gr. prokopé) significa, mais especificamente, “avanço a despeito de obstruções e perigos que bloqueiam o caminho do viandante”.
13. Paulo vai mais longe, mostrando como a obra missionária progrediu, a despeito da terrível oposição externa. Sua prisão tomou-se conhecida de todos ao seu redor, e todos reconhecem que ele é um prisioneiro por causa de sua entrega à causa de CRISTO, isto é, ele não é um malfeitor civil, nem preso político. Tampouco é seu trabalho apostólico posto em dúvida somente porque ele é um apóstolo sofredor. Bem ao contrário.
...De toda a guarda pretoriana e de todos os demais — eis a esfera em que o testemunho de Paulo é eficiente. A segunda parte da frase refere-se, claramente, a pessoas, e assim fixa o significado de praitõrion (palavra emprestada do latim, praetorium, ao grego). Refere-se, pois, não à residência imperial, ou à do governador, mas, à guarda do imperador, ou à corte pretoriana estacionada na metrópole.
A guarda estava em Roma. Seriam trazidos em contato com Paulo no decorrer de seus deveres de supervisão, embora, visto haver 9.000 pretorianos, torna-se difícil, senão impossível, imaginar que um prisioneiro fosse conhecido de todos eles. Talvez, então, neste ambiente, não deveríamos tomar esta referência como abrangendo toda a guarda pretoriana, de maneira literal.
14. Como segunda conseqüência das notícias de sua prisão, outras pessoas dentro da comunidade cristã estão recebendo novo estímulo para o trabalho de evangelização. O texto grego da frase a maioria dos irmãos indica um contraste com o grupo de pessoas mencionadas no versículo anterior. Os crentes descobriram uma nova fonte de energia (tomando-se estimulados no Senhor) e são encorajados, pelo exemplo de Paulo, a falar mais ousadamente, em testemunho da palavra de DEUS, isto é, a mensagem apostólica.
Outra interpretação do texto abre-nos uma visão diferente. Esta leva-nos a tomar a frase de Paulo, no grego (hoi pleiones), e fazê-la significar “a maioria” (mas, não todos) em referência aos pregadores cristãos no lugar do cativeiro de Paulo. Isto significaria que nem todos ficaram positivamente estimulados pela presença de Paulo, o apóstolo aprisionado, o que daria lugar a uma divisão, mencionada nos versículos 15-17. Seja qual for o caso, são pregadores cristãos (irmãos); este título suporta a primeira interpretação, segundo a qual a presença de Paulo, e seu comportamento na prisão exerceram efeito salutar sobre a comunidade cristã em geral, ao seu redor.
15-17. Eis uma seção importante da carta, que suscita diversidade de interpretações. Parece haver alguma tensão com o versículo anterior, 14. Ali, Paulo escrevera aprovando entusiasticamente os pregadores que se fortaleceram pelo testemunho do apóstolo, na prisão, e que se lançaram, então, em ativa obra missionária. Agora, ele precisa comentar, tristemente, que nem todos estão motivados pelas melhores intenções. Alguns efetivamente proclamam a CRISTO por inveja e porfia, movidos por motivos de discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.
Paulo não condena a substância de sua pregação. A triste observação do apóstolo refere-se aos motivos por que pregam a CRISTO.
Parece que se objetiva um grupo de pregadores cristãos que desdenham de Paulo, porque ele é um apóstolo em cadeias; eles se inspiram em pensamentos de inveja e animosidade contra Paulo, porque parece que ele colocou em dúvida a mensagem cristã, por sua fraqueza, como prisioneiro, e prejudicou seu progresso no mundo. A porfia deles, contudo, não é dirigida contra o apóstolo, pessoalmente; ao invés disso, eles apresentam uma estratégia missionária, rival, que excede em poder, comprova sua reivindicação mediante um triunfalismo sobre toda e qualquer oposição, e gloria-se no sucesso. Com efeito, eles vêem a si mesmos como “homens de DEUS”, semelhantes aos professores e pregadores itinerantes, religiosos, os quais eram figuras familiares no mundo antigo greco-romano. O mérito desta interpretação é que ela ilumina outras referências à situação de Paulo na cidade de sua detenção.
A réplica de Paulo é multifacetada. Ele é grato pela lealdade daqueles que vêem o verdadeiro significado de sua prisão. Ele ainda está ativo, testemunhando, e é sua fidelidade ao evangelho apostólico que lhe trouxe aqueles sofrimentos (v. 16). Ele está incumbido por DEUS (o gr. keimai é um termo teológico, que enfatiza que seu trabalho é determinado por comissão divina (cf. Lc 2:34; 1 Ts 3:3; possivelmente 1 Jo 5:19) e não está aqui devido a qualquer ação temerária (alegação que poderia bem ter circulado), nem porque ele esteja isento de sofrimento, como os “verdadeiros apóstolos” poderiam alegar.
18. Assim, ele resume sua reação à situação criada por um segmento hostil da igreja ao redor. Todavia, que importa? Sua única preocupação é a pregação de CRISTO; este fato enche-o de alegria, tanto pelo presente como pelo futuro.
19. sim, sempre me regozijarei. Renova-se aquela expectativa de alegria futura. Paulo retorna, agora, ao assunto de seu destino, como prisioneiro, ou pelo menos ao seu desejo de ser uma testemunha, em seu confinamento. Seu regozijo está baseado, não em algum cálculo humano, mas, em sua confiança na ajuda de DEUS. Nesta esfera, pode ele contar com dois tipos de assistência: um deles é humano (vossa súplica), enquanto o outro vem diretamente de DEUS (pela provisão do ESPÍRITO de JESUS CRISTO). Paulo exprime com tocante minúcia ambos os tipos de assistência que ele, com alegria, pode avocar. A súplica dos filipenses (gr. deèsis) é resposta à sua súplica a favor deles (v. 4). A provisão (ARC, socorro) do ESPÍRITO SANTO sugere um revestimento, e fortalecimento de sua vida, de tal forma que sua coragem não lhe falhará; e nem será, seu testemunho, prejudicado (v. 20), seja qual for o resultado do processo contra ele. A ajuda do ESPÍRITO é nada menos que o poder de CRISTO disponível para Seu povo (E. Schweitzer, TDNT vi, p. 417).
Mediante esta ajuda combinada, Paulo espera obter sua libertação, (gr. sõtèria). A palavra é equivalente à sua expectativa no tribunal. Ele espera que sua confiança em DEUS seja honrada, e seu testemunho da fidelidade divina será confirmado pela virada dos eventos. Mas, isto não é a mesma coisa que a esperança de libertação da prisão, porque no versículo seguinte ele entrevê a possibilidade da morte.
Paulo tem confiança em que, quer seja ele absolvido ou não, sua posição em CRISTO será sustentada; Jó expressou confiança semelhante, de que sua confiança seria validada por DEUS (13:18).
A presença de Paulo no tribunal, durante o processo, perante seus juízes (veja-se o v. 7), será, também, uma ocasião para sustentação do evangelho. Nessa ocasião, será ele sustentado pelo ESPÍRITO que JESUS prometera aos discípulos, quando levados perante seus acusadores (Mc 13:11; Lc 12:11,12).
20. segundo a minha ardente expectativa e esperança. Paulo ainda mantém seu olho no futuro, no tempo da prova que há de vir. Uma perspectiva que encheria a maioria das pessoas com pressentimentos e alarmes, é, de fato, ardentemente aguardada por Paulo. A palavra apoka- radokia (ardente expectativa) é bastante pitoresca, denotando um estado de antecipação viva do futuro, o esticar do pescoço para captar um vislumbre daquilo que jaz à frente, “a esperança intensa, concentrada, que ignora outros interesses (apo), e força-se para a frente, como que esticando a cabeça (kara, dokein)” . É, assim, uma atitude positiva para com aquilo que o futuro possa trazer, um significado comprovado no uso secular do verbo grego.
A perspectiva alegre de Paulo é governada por várias considerações. Ele confia em que sua coragem não sucumbirá ao temor; ao contrário, ele deseja que sua prova seja enfrentada com nova coragem (gr. parrhèsia, literalmente: “ousadia ao falar em público”). Acima de tudo, ele almeja que seja CRISTO engrandecido. O contraste: em nada ... envergonhado... o Senhor glorificado (gr. megalynthèsetai) é comum no Saltério do VT, e no rolo Hinário de Qumran, por ex.: IQH 4.23s.:
Eles não me estimam [para que Tu possas] manifestar Teu poder (isto é, fazer-Te grande) através de mim.
Tu Te tens revelado a mim, em Teu poder, como perfeita Luz, e não tens coberto minha face com vergonha. Cf. Vermes, p. 162).
A honra de CRISTO será alcançada, continua Paulo, numa sublime indiferença para com aquilo que a nós parece, hoje, assuntos de suma importância, quer pela vida, quer pela morte. Tanto um como outro destino têm que ver com sua existência física; contudo, é muito provável que Paulo diz no meu corpo, incluindo sua vida total, como ser humano responsável, e servo de DEUS (cf. Rm 12:1, quanto ao sentido inclusivo de sõma, denotando “o homem todo, e não apenas uma parte. .. [e também] a esfera em que o homem serve”:
21-24. Agora, numa série de declarações contrastantes, que poderiam ser dispostas em paralelismos, Paulo apresenta as alternativas que se lhe deparam. O esquema está cuidadosamente delineado sob a forma de manchetes, mas a sintaxe que tornaria o texto inteiramente inteligível, como se fora uma peça redatorial unificada, está partida. Entretanto, o esboço daquilo que estava na mente de Paulo é bem claro, como se vê:
a. Vida: para mim é CRISTO (v. 21a)
b. Morte: é lucro (v. 21 b)
c. Vida: se o viver.. . (v. 22)
d. Morte: estou... tendo o desejo de partir e estar com CRISTO (v. 23)
e. Vida: minha responsabilidade pastoral exige minha contínua presença (v. 24)
Cada uma destas declarações encaixa-se numa corrente progressiva de pensamento, à medida que a mente de Paulo vai levantando as possibilidades. Em certo sentido, ele está sopesando apenas assuntos teóricos, porque sua vida ainda está sob risco, e sob a misericórdia de seus captores. Entretanto, como cristãos, e como apóstolo, ele sabe que sua vida gravita na esfera do controle soberano e providencial, de DEUS, onde nenhuma força maligna pode tocá-lo, senão mediante permissão divina. A verdadeira questão resume-se em decidir que tipo de “libertação” (v. 19) é melhor esperar. Se as orações dos filipenses, em prol de sua sobrevivência, forem atendidas, pode Paulo esperar um prolongamento de sua obra missionária (fruto para o meu trabalho), e uma possível volta a Filipos, para reassumir seus vínculos pastorais com a igreja ali (v. 26). Se, entretanto, o veredicto lhe é desfavorável, significará sentença de morte, o fim de sua vida aqui. Mas, este pensamento não causa horror a Paulo, visto que muitos “fins” desejáveis seriam atingidos mediante este evento: seu martírio será lucro, porque CRISTO será honrado, neste ato, e Sua mensagem proclamada (v. 21), e seu anseio pessoal será atendido quando ele entrar em comunhão mais profunda com seu Senhor, além do véu (v. 23).
A escolha deriva de um dilema genuíno, como a pressão de forças opostas. Ele está “fechado dos dois lados” (tradução de Lightfoot para o v. 23). O verbo synechomai sugere a idéia de controle total, submissão a forças que, neste caso, são tão bem equilibradas, em sua competição, que Paulo está sob pressão igual de ambos os ladose não pode libertar-se. Se a questão fosse deixada à sua inclinação natural, a opção seria clara: ele escolheria a morte (partir) como um mártir (o aoristo infinito to apothanein tem em vista tal destino) e assim, estar com CRISTO.
partir (gr. analysaí) não deve ser interpretado como um anseio por imortalidade, a qual os gregos procuravam atingir mediante o derramamento do corpo físico, permitindo, assim, que o espírito escapasse de sua prisão. A metáfora do verbo poderia ter sido emprestada da terminologia militar (retirar-se do campo), como no exemplo do exército de Antíoco, na retirada da Pérsia (II Mac. 9:1 usa o verbo), ou da linguagem náutica: libertar o barco de suas amarras, para que saia velejando. Contudo, o pano de fundo geral, mais imediato, não é o debate filosófico, grego, a respeito da imortalidade da alma, que procura libertar-se do corpo, à hora da morte, (cf. a versão judaica em Tob. 3:6), mas a esperança de uma união mais íntima com CRISTO, para o que não existe paralelo adequado na antigüidade (segundo Gnilka). Estar com CRISTO expressa sua esperança de “pessoalmente ‘estar com CRISTO’ . . . consistindo na comunhão pessoal entre CRISTO e o apóstolo” . O paralelo mais próximo está em 2 Co 5:1-10.
Na experiência humana, aquela união com CRISTO, pela fé, inicia-se com a obediência ao Seu chamado, expressa na fé e exemplificada na confissão batismal. No ensino de Paulo é tão íntimo o elo que liga o crente ao Seu Senhor (por ex.: 1 Co 6:17), que a morte não pode rompê-lo. Ao contrário, a morte o introduz numa comunhão ainda mais profunda, de tal maneira que Paulo pode dizer, na verdade, numa comparação de muita força, que esta união além-morte, é incomparavelmente melhor, um fim almejado com devoção. O advérbio triplo em grego (literalmente: “antes muito melhor”) significa “sem comparação, o melhor”, isto é, um superlativo super-enfático.
Contudo, Paulo é guiado por desejos não-pessoais. Seu pensamento “centralizado na cruz” relaciona-se não tanto à imortalidade pessoal, ou ao interesse pelo além, mas ao interesse pelo trabalho de CRISTO, e à fidelidade à Sua palavra (Collange). O altruísmo pastoral de Paulo rebrilha quando ele volta à situação de seu “cuidado por todas as igrejas” (ou “preocupação com todas as igrejas” 2 Co 11:28 ARA). É mais necessário, por vossa causa (pensamento que inclui os filipenses, mas não se limita a eles) que sua vida seja poupada, para poder continuar.
25-26. E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e permanecerei com todos vós. Estes versículos contêm uma nota que sugeriu, a alguns comentaristas, que Paulo está expressando nova confiança, com respeito a seu futuro. Versículos anteriores, neste capítulo (20,23) estão pesados com a perspectiva de martírio iminente, parecendo que a morte estava ali na esquina. “Paulo. . . bem no íntimo de seu coração, antecipava nenhum outro destino senão a morte” (J. H. Michael). A questão é, pois, se sua perspectiva mudou, no versículo 25, de modo que ele contempla, agora, a probabilidade da sobrevivência, após o processo, e o retorno a Filipos (v.26).
O que é mais certo é que a volta de Paulo a Filipos, e sua retomada do pastorado, enquanto fosse possível, ajudaria os filipenses. Talvez Paulo tem esperança de sobreviver até a parousia de CRISTO.
Pelo menos, asseguraria sua assistência no caminho de seu progresso (a mesma palavra de 1:12) e gozo da fé. A última frase é um toque humano que ilustra a força do laço que unia o apóstolo e a comunidade. Sua presença com eles aumentaria o gozo deles, visto que a vida comum deles era uma fonte de alegria e satisfação para o apóstolo (1:4;4:1). Então, eles teriam imensas razões para exultação, pelo fato de suas orações por seu livramento terem sido atendidas (v. 19), e o testemunho de Paulo ter sido mantido (v. 20).

INTERAÇÃO
A prisão do apóstolo Paulo em Roma foi crucial para a propagação do Evangelho na região de Filipos. A partir de uma experiência de sofrimento, DEUS usou pessoas para propagar a mensagem das Boas Novas. É verdade que alguns pregadores usavam o sofrimento do apóstolo para proclamar CRISTO de boa consciência. Outros utilizavam-se do sofrimento alheio para obterem vantagens pessoais. CRISTO não era o centro das suas preleções. Infelizmente, na atualidade, algumas pessoas perderam o temor de DEUS. A exemplo daqueles pregadores de Filipos, elas exploram as tragédias pessoais, pois vêem nelas a oportunidade de se locupletarem com as feridas alheias (elas sabem que o sofrimento humano pode ser muito rentável). CRISTO não se acha mais no centro de suas vidas.

OBJETIVOS - Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Saber que as adversidades podem contribuir para a expansão do Evangelho.
Explicar as motivações de Paulo para a pregação do Evangelho.
Compreender que o significado da vida consiste em vivermos para o Evangelho

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor, para concluir a lição sugerimos a seguinte atividade: (1) Pesquise ao menos três países cujo índice de perseguição religiosa é grande. (2) Identifique missionários que atuam nesses locais (a pesquisa pode ser feita pelas agências missionárias, secretaria de missões de sua igreja ou internet). (3) Em seguida, pesquise o crescimento de cristãos nesses países visando identificar como o trabalho missionário tem sido realizado. Conclua dizendo que, a exemplo do que ocorreu a Paulo, o Evangelho continua a ser propagado no mundo através do sofrimento de muitas pessoas que se dispõem a propagá-lo com ousadia.
RESUMO DA LIÇÃO 2 - ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE
I. ADVERSIDADE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO
1. Paulo na prisão.
2. Uma porta se abre através da adversidade.
II. O TESTEMUNHO DE PAULO NA ADVERSIDADE (1.12,13)
1. O poder do Evangelho.
2. A preocupação dos Filipenses com Paulo.
3. Paulo rejeita a auto-piedade.
III. MOTIVAÇÕES PARA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO (1.14-18)
1. A motivação positiva.
2. A motivação negativa.
IV. O DILEMA DE PAULO (1.19-22ss.)
1. Viver para CRISTO.
2. Paulo supera o dilema. "Estar com CRISTO" e "viver na carne".
SINOPSE DO TÓPICO (1)
A prisão de Paulo foi uma porta aberta para a proclamação do Evangelho.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
O testemunho de Paulo na adversidade pode ser observado pela sua rejeição a auto-piedade e a sua fé no poder do Evangelho.
SINOPSE DO TÓPICO (3)
Foi o Criador quem planejou o matrimônio, uma união indissolúvel e permanente (Gn 2.24).
SINOPSE DO TÓPICO (4)
O dilema de Paulo era, imediatamente, "estar com CRISTO" ou "viver na carne" para edificar os filipenses.

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
"Alguns pregam CRISTO por inveja e porfia, mas outros de boa mente (1.15).
Posteriormente Paulo voltará sua atenção aos judaizantes, que distorcem o evangelho insistindo nas obras como algo essencial para a salvação (3.2-11). Aqui a tensão é pessoal em vez de doutrinária. Alguns se tornam evangelistas mais ativos por um espírito competitivo, tendo um prazer perverso no pensamento de que Paulo está atado e incapaz de tentar alcançá-los. Outros se tornam evangelistas mais ativos por amor, um esforço de aliviar Paulo da preocupação de que expansão do evangelho retrair-se-á devido à sua inatividade forçada.
É fascinante ver como Paulo recusa-se a julgar as motivações, e está encantado com o fato de que, seja pela razão que for, o evangelho está sendo pregado. Poucos de nós têm essa maturidade. Os críticos de Paulo poderão ficar amargamente ressentidos com o seu sucesso, mas o apóstolo não ficará ressentido com eles! Em vez disso ele se regozijará por CRISTO estar sendo pregado, e deixará a questão dos motivos para o Senhor.
Porque sei que disto me resultará salvação (1.19). Paulo não se refere aqui à sua libertação da prisão. O maior perigo que qualquer um de nós enfrenta é o desânimo que as dificuldades frequentemente criam" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.437).

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